Crash Bandicoot 4: It’s About Time expressa literalmente o desejo de todos os fãs do marsupial com seu subtítulo: “já era hora”.
Lançado para PlayStation 4 e Xbox One, a continuação das aventuras de Crash e sua irmã Coco tem um pouco de tudo, da nostalgia clássica da franquia a um quê de novidade muito bem vindo com a inserção, inclusive, de novos protagonistas para a aventura. No mais, é muita irritação, frustração (malditas fases de gelo) diversão e acima de tudo, desafio.
Receita de sucesso
Para quem jogou o remake da trilogia original, Crash 4 segue exatamente a mesma identidade visual de N. Sane Trilogy. Inclusive, culpa da Toys for Bob por ter realizado um trabalho impecável no remake de Crash e Spyro anteriormente.
É estranho por as mãos pela primeira vez em Crash 4 e perceber que, de alguma maneira, o jogo lembra demais o original dos anos 90. É uma sensação bacana, como se nos sentíssemos “em casa” mais uma vez com os marsupiais, mas ao mesmo tempo, com toda a empolgação que uma nova sequência sempre nos proporciona. Confesso que não estava preparado para o que aconteceria nas horas seguintes da jogatina.

Crash 4 herda com perfeição a dificuldade original do jogo. O herói não tem barra de vida, ou seja, encostou no espinho, tomou dano, morreu. O que mudou de lá para cá é que agora não somos punidos com um Game Over após nossas vidas se extinguirem. Mas o que parece uma bênção logo se torna nossa maldição, já que o reinício imediato após a falha da missão nos prende num ciclo viciante em busca da vitória. Amar e odiar o game na mesma medida, esse parecia ser o objetivo dos desenvolvedores.
Aos mais puristas, existe a condição “Retrô”, encontrada no menu principal do game. Ela garante a experiência original, com três vidas, sem choro: com o fim das vidas é preciso recomeçar a fase do início. Se for sádico o suficiente para se arriscar no modo Retrô, vai fundo que ele não vai te decepcionar.

Mesclar experiências sem afastar casuais e hardcores é uma ideia excelente. Inclusive, não é porque você está no modo de vida infinita que o jogo ficará mais fácil. A dificuldade é a mesma em ambos os modos, com o desafio aumentando bastante nos mundos finais.
Aprender a jogar Crash demanda um pouco de paciência, pois é um título feitos nos moldes antigos, com um certo nível de “decoreba” para aprender os caminhos da fase e evitar os perigos que sempre se repetem. Passada a fase de aprendizado, vem o momento de maestria; dominar todas as técnicas para fazer 100% em todas as fases, revelando todos os seus segredos. O “fator replay” está garantido e recompensa o desempenho de forma justa.
Passa o controle
O acordo entre cavalheiros de outrora agora é oficializado com o Pass N’ Play, um modo exclusivo de Crash Bandicoot 4: It’s About Time que nada mais é do que uma versão com regras “oficiais” do “Perdeu, passa o controle”.

O conceito vem de tempos antigos, onde crianças sentavam em volta dos seus consoles para apreciar os títulos single player e, sempre que alguém morria, precisava passar o controle para o próximo jogador. Em Crash 4 o “modo” está embutido dentro do jogo como uma opção do menu. É no mínimo engraçado pensar que alguém na equipe de desenvolvimento parou para pensar nessa opção e todo o resto da equipe aprovou a ideia.
Habilidades mascaradas
Não pense que Crash Bandicoot 4 não carrega sua dose de novidades. Crash e sua irmã Coco precisam impedir a destruição de toda a realidade fechando as fendas abertas por N. Tropy e o Dr. Neo Cortex. Para isso, contarão com a ajuda de quatro novas máscaras com poderes inéditos na franquia.
Aprender a manusear as máscaras e seus poderes é imprescindível para o cumprimento das missões espalhadas pelos mundos do jogo. Os poderes são bastante criativos e vão dificultar bastante a vida dos jogadores com quebra-cabeças de cenários insanos.

Lani-Loli é a primeira das novas máscaras do game. Ela se apresenta como uma ferramenta para trocar as dimensões de paredes, plataformas e demais objetos do cenário (eles deixam de existir até que o jogador aperte o botão novamente. Akano, por outro lado, faz Crash e Coco girarem infinitamente, possibilitando o salto de distâncias impossíveis, entre outras coisas; Kupuna-wa é capaz de parar o tempo momentaneamente, e Ika-Ika inverte a gravidade dos personagens. Só de relembrar alguns desafios, já sinto calafrios.
Entre mundos

Crash 4 tem uma variedade incrível de cenários para serem explorados. À medida que os mundos vão se abrindo, novos temas vão se apresentando aos heróis. Existem muitas fases para serem exploradas: ilhas tropicais características do título original, florestas pré-históricas, cidades futuristas, barcos piratas e montanhas geladas — para o nosso desespero.
Há um certo ritmo seguido pelas fases de Crash 4. De um início moderado, a utilização de uma máscara especial, um corre geral — perseguido por um dinossauro ou uma máquina assassina, sempre com a câmera de frente para o personagem, clássico da franquia —, e lá no final do mundo, uma batalha contra chefe nem tão fácil, nem tão difícil. A receita funciona e não deixa a peteca cair em nenhum momento da aventura, o que é raro para um jogo do gênero.
Não bastasse isso, existe uma versão N. Verted de cada uma das fases que inverte cores, deixa os personagens no escuro e bagunça todo o desafio que encontraremos pelo caminho. Em linhas gerais, o título dobra a quantidade de fases para agradar aquele jogador ávido por uma longevidade do game.

Para quem não quer se aprofundar tanto assim nos desafios hardcore, é bom destacar que as fases N. Verted não são obrigatórias para se chegar ao final.
Amigos de outro mundo
Além de Crash e Coco, os protagonistas do game, Crash Bandicoot 4 conta com o acréscimo de três novos personagens para dificultar um pouco mais a vida do jogador. Tawna, uma marsupial de outra realidade e amiga dos heróis passa a fazer parte do elenco ao lado de Dingodile e o próprio Dr. Neo Cortex.

Esses personagens extras possuem suas próprias habilidades especiais e estilos de jogo único. Dingodile, por exemplo, uma uma arma que aspira os objetos e depois os arremessa a longas distâncias, enquanto Neo Cortex é capaz de transformar inimigos em plataformas. Tawna é a mais ‘normal’ dos três, e faz uso de um gancho para se locomover por grandes distâncias em alta velocidade.
Colecionáveis x dificuldade
Voltando ao assunto “fator replay”, Crash 4 é um desses títulos recheados de conteúdo para os jogadores mais dedicados. Diamantes colecionáveis, tokens de velocidade, fitas cassete, skins para destravar e outros segredos mais escondidos servem como recompensa para o jogador mais habilidoso.

A quantidade de itens para correr atrás no game é insana. Só que fazer 100% não será uma tarefa para qualquer um, visto que será preciso jogar, pelo menos, quatro vezes cada uma das fases, mais as telas secretas de bônus de fita cassete. Isso sem contar algum possível bônus extra por jogar no modo retrô e não perder nenhuma vida, vai saber.
É a nostalgia agindo mais uma vez em prol de um conteúdo simples, porém completamente viciante.
Crash Bandicoot 4: It’s About Time tem absolutamente tudo que um bom jogo precisa ter. Evoca sentimentos antigos dentro desse universo dos videogames, dos títulos “infinitos” que a gente sempre revisitava em algum momento das nossas vidas. É como se esse lançamento tivesse sido congelado no tempo, chegando em 2020 com uma fórmula “batida”, mas que ninguém mais sabe como fazer. Um grande acerto da Activision, sem dúvidas.
Crash Bandicoot 4: It’s About Time está disponível para PlayStation 4 e Xbox One. Este review foi feito com uma cópia cedida pela Activision.