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Senna compensa clichês biográficos com superprodução emocionante | Crítica
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Senna compensa clichês biográficos com superprodução emocionante | Crítica

Série da Netflix não escapa de derrapadas do gênero, mas as supera com espetáculo e emoção

Gabriel Avila
Gabriel Avila
04.dez.24 às 12h02
Atualizado há 4 meses
Senna compensa clichês biográficos com superprodução emocionante | Crítica
Netflix/Divulgação

As cinebiografias são extremamente populares, e parte do apelo está na ideia de que essas produções contam histórias reais tão grandiosas que merecem ser imortalizadas em forma de arte. Esse raciocínio não só justifica a existência de Senna, como também a demora para alguém ousar levar Ayrton Senna para as telas.

Afinal, a responsabilidade de narrar a vida de uma figura amada e acompanhada de perto por um país inteiro vai muito além de simplesmente encenar momentos icônicos – o filme Sílvio que o diga. Talvez por isso, a série da Netflix sobre a lenda da Fórmula 1 tenha mirado em replicar a fórmula utilizada por produções de Hollywood. Uma decisão que a coloca no pódio das boas biografias, mas não sem derrapadas.

Com a difícil missão de condensar 34 anos da vida de seu protagonista, Senna adota uma estrutura convencional. Qualquer um que tenha assistido a um punhado de títulos do gênero tem noção do caminho que a série percorre, desde o despertar do retratado para a vocação que o tornou famoso, passando por um início de carreira conturbado até a chegada a um estrelato acompanhado por desafios.

Por si só, esse esqueleto e seus clichês não são problema, mas traz uma cota de armadilhas das quais a produção não consegue desviar. A principal delas é a dificuldade de manter um ritmo consistente entre os saltos temporais exigidos para que a história caiba em seis episódios, especialmente quando precisa recorrer a diálogos puramente expositivos para preencher lacunas – praticamente a única função de Laura, a repórter fictícia interpretada por Kaya Scodelario.

Essas questões são os preços que Senna paga para manter a história em movimento, o que faz muito bem na maior parte do tempo. Afinal, esses atalhos servem para economizar um tempo precioso que é dedicado ao que o público realmente veio ver: os momentos icônicos que tornaram o piloto uma lenda amada 30 anos após a morte. E é aqui que a minissérie faz bonito.

O primeiro destaque não poderia ser outro que não o elenco, encabeçado por Gabriel Leone. Escolhido para viver Ayrton Senna, o ator claramente fez a lição de casa para se aproximar ao máximo do piloto, mas sem cair na caricatura. A série busca fazer a ligação entre o homem e a lenda, e é na interpretação do astro que essa fusão ganha vida e sentido.

O grande trunfo do astro é criar uma uniformidade entre as diferentes facetas do protagonista, ao ponto que o “Beco” dos mais íntimos é exatamente o mesmo piloto lendário que bate de frente com colegas, rivais e até os poderosos que mandam na Fórmula 1 – que, por sua vez, só é possível graças à interação com os demais atores, que mantêm o mesmo nível e dão ao astro o espaço necessário para desenvolver o personagem.

Nesse quesito, é justo dizer que – com uma notável exceção – o tempo de tela dos coadjuvantes é bem distribuído entre a família Senna, capitaneada por Miltão (Marco Ricca) e Zaza (Susana Ribeiro), até personalidades famosas que fizeram parte da vida do piloto, como Galvão Bueno (Gabriel Louchard), Xuxa (Pâmela Tomé) e, principalmente, Alain Prost (Matt Mella), que ganha um retrato sutilmente carinhoso por parte da produção, que se esforça para torná-lo um rival, mas não um inimigo.

Senna: espetáculo nas pistas e na ficção

A inspiração em Hollywood dá as caras também no outro grande acerto de Senna: o espetáculo visual. Para fazer jus à vida e à obra de um protagonista tão importante para o país e para o esporte que praticou, a equipe responsável fez um trabalho impressionante para recriar as memoráveis corridas vencidas ou perdidas pelo piloto.

O trabalho das equipes de design de produção e figurino, somadas ao time de computação gráfica, promove uma verdadeira viagem no tempo de encher os olhos. Um trabalho feito com cuidado para ser fiel aos eventos reais, mas com um capricho capaz de ativar a nostalgia de quem estava lá e ainda apresentar para gerações mais novas.

Esse trabalho soberbo ganha vida na condução dos diretores Vicente Amorim (A Divisão) e Julia Rezende (Coisa Mais Linda), que partem do roteiro para não só “traduzir” a importância de cada corrida, mas também para transmitir, mesmo que em pequena dose, a emoção sentida por quem acompanhou cada uma delas enquanto aconteciam.

Esse é o ponto-chave dessa série biográfica de Ayrton Senna: a emoção. Todas as decisões questionáveis tomadas durante a produção se justificam quando ela atinge essa tecla, fazendo com que o público torça, vibre e se emocione com coisas que o piloto viveu mais de 30 anos atrás. Uma sensação que pode certamente bate diferente para o povo brasileiro, mas que é forte o suficiente para se sustentar para além dos óculos cor-de-rosa da nostalgia.

E é dessa forma que a produção se aproxima de seu protagonista. Há tanta paixão e capricho – dentro do que é possível em uma produção autorizada pela família do retratado –, que fica fácil colocar os defeitos em segundo plano e simplesmente se deixar levar, uma vez mais, por essa lenda.

Senna está disponível para streaming na Netflix.

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