Existem jogos que se destacam pelos gráficos, pela narrativa ou pelo gameplay. E há também aqueles games que verdadeiramente brilham pela jornada que proporcionam ao jogador. Desenvolvido pelo estúdio independente Dogubomb e distribuído pela Raw Fury, Blue Prince se encaixa um pouco mais nesse último critério, mas não deixa de encantar em todos os demais quesitos.
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Aqui, você assume o papel de Simon Jones, que herda as chaves da mansão de Herbert Sinclair, seu tio-avô, um homem que era obcecado por quebra-cabeças quando vivo. O jovem protagonista recebe inúmeras instruções, já que precisa decifrar um mistério deixado pelo falecido parente, de modo a receber toda a herança a que tem direito.
As instruções parecem simples, mas é justamente a partir delas que o jogo começa a ficar complexo — no bom sentido. Isso porque o objetivo de Simon (e por tabela, do jogador), é encontrar o enigmático 46º cômodo da mansão. O problema é que a planta da casa possui apenas 45 salas!
Rico em mecânicas, nobre em soluções

Enquanto explora a mansão, você precisa prestar atenção no contador de passos que fica no canto superior esquerdo, pois cada vez que entra em um cômodo, a quantidade de passos vai diminuindo. No início, o protagonista tem apenas 50 passos, e quando o número chega a 0, Simon encerra a expedição para descansar.
Até aqui você deve estar achando que o jogo é moleza, né? Calma que tem mais coisas.
Assim que um novo dia tem início, Simon começa a explorar a mansão de novo, só que todos os recursos coletados (chaves, joias e moedas) são zerados. Além disso, a mansão altera sozinha a disposição dos cômodos, então, de certa forma, todo o progresso do dia anterior é “perdido”. Ao raiar de cada dia, apenas as melhorias permanentes continuam na planta.

A fórmula parece familiar pra você? Espera, tem mais mecânicas para conhecer!
Não bastasse todos esses detalhes, saiba que os cômodos da mansão vão se formando de acordo com as suas escolhas. Acontece assim: quando você encontra portas, aparecem três opções do que pode ser o dormitório seguinte. É como se o jogador estivesse rascunhando o layout da planta, formando a casa aos pouquinhos.
Pense em Blue Prince como um “metroidbrainia” (uma variação do sub gênero “metroidvania”, só que focado em solucionar mistérios e resolver quebra-cabeças), semelhante a Outer Wilds, Animal Well, Tunic, FEZ, Return of the Obra Dinn e tantos outros títulos brilhantes. Mas aqui, ainda há uma pitada de roguelite e elementos de deck builder na fórmula — só que ao invés de cartas de baralho, você tem cômodos à sua disposição.

Existem ainda portas que necessitam de chaves especiais, dormitórios que exigem joias para que o projeto ganhe vida fora da planta, ferramentas que auxiliam na exploração (como pás, chaves inglesas, lupas, etc.); e até mesmo salas secretas, além de recintos que consomem mais de 1 passo, ou que oferecem vantagens a Simon — os quartos de descanso, por exemplo, costumam presentear o protagonista com passos extras. Há também salas especiais que não se encaixam em nenhuma categoria, e projetos de cômodos raros, que só podem ser criados uma única vez.
É tanta coisa que, ao longo de minha jornada de mais de 20 horas em Blue Prince, as mecânicas eram apresentadas constantemente, como se não existisse fim para todos os elementos e sistemas que o jogo tinha a oferecer. E, honestamente, a cada novidade que surgia, o jogo conseguia prender completamente a minha atenção, cada vez mais e mais.
Profundo e complexo também na narrativa
Tudo o que foi descrito acima é uma fração do que Blue Prince oferece em termos de jogabilidade, pois os quebra-cabeças e segredos que habitam todos os cômodos tornam a labiríntica exploração uma experiência singular.

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E, embora o jogo se mantenha consistente com enigmas que devem ser solucionados de maneira tradicional — ou seja, sem a necessidade de que toda a comunidade precise se juntar para desvendar alguma coisa, e sem mistérios que se estendem para fora do videogame —, a profundidade vai além, pois toda a narrativa de Blue Prince também é um gigantesco quebra-cabeça.
Existem porções de narrativa nas pinturas, nas fotografias, nos recortes de jornais, e até mesmo em cantos que o jogador sequer imagina no início! São camadas, e camadas e camadas de história e segredos, que envolvem chantagem, política e o desaparecimento de uma pessoa, relacionada a livros infantis. Não à toa me peguei viciada em Blue Prince em poucas horas, tentando decifrar e encontrar propósito em cada objeto, palavra e cômodo.
Os segredos e enigmas mais importantes, ou seja, aqueles que te guiam pelo objetivo principal e avançam sua misteriosa narrativa, estão melhor sinalizados e têm dicas mais óbvias. Mas a graça, pessoalmente falando, está em decifrar os quebra-cabeças ocultos, aqueles que você só percebe analisando milimetricamente cada canto dos dormitórios.

Entretanto, existe um fator que pode afastar alguns jogadores: o gerador de fatores aleatórios, um elemento conhecido entre os gamers como RNG (sigla para Random Number Generator). Isso porque os recursos, isto é, chaves, joias e moedas, são encontrados em qualquer lugar da mansão, sem seguir um padrão. O mesmo se aplica às ferramentas.
Claro, existem formas de “burlar” essa aleatoriedade, e o próprio jogo oferece ferramentas para isso. Por isso, existem dormitórios específicos onde é garantido encontrar alguns desses objetos. Você também pode comprá-los em uma loja ou resolver quebra-cabeças, sendo muitas vezes recompensado com o item que queria. E é possível utilizar um cômodo especial para transportar ferramentas de um dia para o outro; entre outras coisas.
Confie no processo
Ainda assim, Blue Prince mantém a profundidade e complexidade constantes, então você vai precisar se planejar com cuidado, montando uma estratégia eficaz para conseguir progredir e, obviamente, zerar o game. E como em qualquer roguelike (neste caso, um roguelite), a persistência é a chave.

No início, vai ser comum que você se depare com becos sem saída e precise encerrar o dia obrigatoriamente porque não tem mais recursos para continuar. E como não quero soltar spoilers (acredite, a experiência será melhor se você jogar sem saber de nadica), a única dica que tenho para compartilhar é: não desista. Confie no processo.
Minha maior ressalva é que o jogo não está localizado em português brasileiro. E por ser um jogo com muuuuuuuuuuuuuito texto, e que exige muita compreensão e até saltos de lógica para a resolução de quebra-cabeças; a ausência de legendas no nosso idioma é uma falta grave.
Mesmo assim, Blue Prince se provou uma jornada incrível, com inúmeras e interessantes formas de progressão, mas que avança especialmente conforme você acumula conhecimento. Então explore, investigue, trapaceie com jeitinho, use a criatividade e persista. O game não oferece combates épicos, sendo completamente focado na resolução de quebra-cabeças — e este é outro fator que pode afastar os gamers que preferem muita ação e adrenalina —, mas nem por isso a experiência é menos emocionante ou imprevisível. Muito pelo contrário!

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Blue Prince chega no dia 10 de abril para PC (via Steam), Xbox Series X|S e PlayStation 5. Este review foi feito por meio da uma cópia antecipada para PC, cedida pela Raw Fury. Siga de olho no NerdBunker, e aproveite para entrar em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.