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Crítica | Luke Cage
Séries, TV e Streaming

Crítica | Luke Cage

Netflix entrega sua melhor série até agora ao lado da Marvel

Cesar Gaglioni
Cesar Gaglioni
19.set.16 às 16h49
Atualizado há quase 9 anos
Crítica | Luke Cage

Talvez o grande mérito da parceria da Marvel com a Netflix seja o fato de que o grande público aos poucos está começando a conhecer personagens menos mainstream da Casa das Ideias. Outro fato interessante de se notar, é como o — vou tomar uma liberdade semântica — Universo Audiovisual da Marvel tem diversos tons distintos. O Universo Cinematográfico é leve, com uma grande dose de humor; o Universo Televisivo da ABC (Agents of S.H.I.E.L.D e Agent Carter) segue uma linha mais política, mas sem perder sua atmosfera aventuresca. Já a Netflix aposta no "sujo", no "sombrio e realista" das cidades. Mais interessante ainda é notar que dentro desse microcosmos do serviço de streaming, as séries apresentam climas diferentes entre si.

Demolidor aposta na crueza, no brutal. Jessica Jones explora muito bem os danos psicológicos de alguém que possui habilidades extraordinárias. Agora, Luke Cage, consegue dar seu grito político, apresentar um bom arco dramático, ser extremamente violenta e ainda sim não deixar de ser otimista e esperançosa. Cheo Hodari Coker, o showrunner, responsável pela coerência e continuidade de uma série, consegue que tudo saia como planejado. A direção de arte cumpre bem duas funções: estabelecer um "novo mundo" e destoar das produções anteriores da Marvel. O dia e as cores quentes dominam boa parte dos episódios, reforçando o otimismo mencionado acima.

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A mudança de perspectiva também é bem-vinda. Coker se preocupa em abordar temas contemporâneos da comunidade negra e consegue abordar o racismo e marginalização — ainda mais forte nos EUA — e tratar disso com incisão e naturalidade. Durante a San Diego Comic-Con, o produtor anunciou: "O mundo está pronto para um homem negro à prova de balas" e é magnífico ver como o Cage, de Mike Colter, pode vir a se tornar um ícone para jovens negros do século 21, que dificilmente são representados na cultura pop. No momento atual, quando a violência policial contra os afro-americanos infelizmente é um fato cotidiano na América do Norte, o fato de Cage ser praticamente indestrutível carrega um valor simbólico extremamente poderoso, comparável a aquele da época da criação do personagem.

Aliás, Colter é o grande destaque de Luke Cage. A naturalidade e o ar de indiferença que o personagem carrega em seu rosto é um grande alívio nos momentos de tensão. O ator consegue firmar toda a simpatia que exalou na sua participação em Jessica Jones. Mahershala Ali, que vive o vilão Cottonmouth, se afasta de sua atuação leve como Remy em House of Cards e apresenta um antagonista calculista, imponente e que entra para o rol de grandes vilões do Universo Audiovisual da Marvel, firmando-se como o segundo melhor inimigo da parceria com a Netflix (o Kilgrave de David Tennant continua no topo).

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Outro personagem que vale a pena ser exaltado é o próprio Harlem, cenário do programa. A influência de The Wire, série da HBO criada por David Simon, é clara. Nas duas produções o ambiente é um personagem por si só e consegue transmitir toda a atmosfera, conflitos e nuances culturais das pessoas que ali habitam. A mudança de ares em relação à Hell's Kitchen é acertada e ajuda na ideia de que essa é uma outra história descolada das mostradas anteriormente. A trilha sonora também cria vida própria, com ritmos tradicionalmente negros, principalmente o hip-hop, sendo inserida na trama de forma orgânica e natural, sendo parte essencial da narrativa.

Luke Cage apresenta alguns problemas aqui e ali, principalmente no que diz respeito ao ritmo que se mostra inconstante em alguns momentos. Quando o programa tenta alternar entre presente e passado a montagem fica levemente confusa, mas nada que chegue a tirar o brilho geral da série.

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Por fim, Luke Cage consegue ser coeso com todo o Universo Marvel, apresentando referências aos filmes com alguma frequência mas sem perder sua autenticidade. É com o Power Man que a parceria entre a Marvel e a Netflix se eleva em qualidade e entrega a melhor série até agora. Nos resta esperar por Punho de Ferro e por Os Defensores para saber se a Casa das Ideias pode voar ainda mais alto em suas séries.


Os episódios assistidos foram cedidos pela Netflix. A primeira temporada de Luke Cage estreia em 30 de setembro.

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