Mesmo se não tivesse o legado de quatro décadas da saga Karatê Kid nas costas, Cobra Kai, por si só, já seria uma baita história de azarão digna da franquia. Nascida no esquecido YouTube Red e adotada pela Netflix, a série foi além da mera firula de “E se a história fosse contada pelos olhos do vilão?”, conquistando quietinha o público com boas doses de porradaria, drama e galhofa.
Os seis anos de luta culminam numa temporada final já no ar pela Netflix, que acerta ao aumentar os riscos e desafios para o numeroso elenco, e consegue superar até o mais inesperado dos inimigos: o próprio streaming vermelho.
É que, antes de mais nada, é preciso tratar da bisonha estratégia de lançamento da leva final de episódios. Picotada em três partes, a sexta temporada veio em doses homeopáticas desde julho de 2024, o que, no fim, não afeta o saldo final dos 15 capítulos, cujos últimos cinco foram lançados apenas em fevereiro de 2025, mas chega perigosamente perto.
Isso porque Cobra Kai acaba sofrendo do mal da empolgação inacabada, ainda mais com um número maior de episódios.

É complicado quando os momentos de glória e empolgação da trama (que não são poucos) são interrompidos por uma espera de meses até a recompensa, mas tais ganchos ao menos são marcantes o suficiente para não caírem no esquecimento, e a série já provou que merece o voto de confiança ao se garantir na aterrissagem.
Deixando de lado a reclamação fora da tela, Cobra Kai tem o mérito de entender exatamente o que os espectadores esperam, e não oferecer nada além de divertidas horas de escapismo com bom karatê e rock ‘n’ roll.
A temporada final é praticamente toda voltada ao torneio mundial Sekai Taikai, e até ensaia uma mudança de ares, trocando o calor da Califórnia pelas belas paisagens de Barcelona, na Espanha. A disputa coloca Johnny Lawrence (William Zabka), Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e companhia na última e mais importante guerra contra os velhos inimigos John Kreese (Martin Kove) e Terry Silver (Thomas Ian Griffith).
Narrativamente, a decisão por manter uma temporada longa em torno de um único evento poderia se tornar maçante, se Cobra Kai não soubesse apostar todo o carisma onde importa: as lutas e a boa e velha galhofa.

Nas primeiras temporadas, a série conseguiu repetir a dinâmica de levar as histórias até um ponto de ebulição no episódio final, que sempre vinha com uma grande porradaria. Mas agora, é como se os 15 capítulos inteiros estivessem com o pé no acelerador.
A série chega a níveis absurdos de ação com a primorosa coreografia dos combates, o que sempre foi um ponto alto da produção, misturada com uma deliciosa cafonice que conquista até o perdão pelo orçamento claramente miúdo exibido na tela.
Se até a direção de arte dos cenários deixa a desejar, o espectador é recompensado com uma dose absurda de socos, pontapés chegando quase ao "nível anime de absurdo", com duelos filmados como grandes desafios mortais.
É nesse contexto que as rivalidades e dramas adolescentes de Miguel (Xolo Maridueña), Robby (Tanner Buchanan), Sam (Mary Mouser), Tory (Peyton List) e companhia encontram espaço, mantendo o clima de “Malhação porradeira” dos anos anteriores.
Lá e de volta outra vez
Mas não há dúvidas de que Cobra Kai também sabe a hora de voltar para casa, mesmo viajando pelo mundo. E a casa é, claro, o núcleo adulto, mas especialmente Johnny Lawrence.
O ex-degenerado ganha um bem-vindo retorno ao holofote, mostrando que ainda é (e sempre foi) o principal coração e motor da série. Ainda mais depois das últimas temporadas tentarem mudar o foco para o velho Daniel-san.

É emocionante que William Zabka seja hoje talvez o melhor ator de toda a franquia, com um personagem falho, mas extremamente carismático, e um vira-lata no melhor estilo do próprio legado Karatê Kid.
Depois de tantos anos tomando na cabeça, com a vida reservando os golpes mais pesados até quando o ex-campeão tentava acertar, é satisfatório ver Johnny finalmente em um bom lugar com si próprio, e a felicidade do próprio Zabka ao dar a merecida justiça ao papel que o consagrou.
Passando um pouco para o banco de trás na temporada final, Ralph Macchio ainda conquista com a eterna cara de bom moço de seu Daniel LaRusso, e prova que, depois de 40 anos, está mais confortável do que nunca no papel, mas um bom sensei sabe a hora de deixar a luz brilhar sobre os outros.
O torneio mundial acaba sendo a oportunidade da série amarrar os desfechos de cada um dos núcleos, com escolhas acertadas que, mesmo quando poderiam despertar a ira dos fãs, são estabelecidas com o cuidado de fazer algum sentido dentro não só da própria Cobra Kai, como da alma da franquia.

Como o Cobra Kai nunca morre, Karatê Kid também será revitalizado, com um novo filme chegando já em maio, mas se ESTE capítulo da saga estiver mesmo encerrado, os fãs podem se alegrar com um golpe final certeiro e, claro, sem piedade.
Todas as temporadas de Cobra Kai estão em streaming na Netflix.
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