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Memes, histórias reais e mais: Conheça a HQ do Coringa no Brasil
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Memes, histórias reais e mais: Conheça a HQ do Coringa no Brasil

Felipe Castiho e Tainan Rocha falam sobre gibi da DC criado em parceria com Mariane Gusmão

Gabriel Avila
Gabriel Avila
03.out.24 às 15h11
Atualizado há 6 meses
Memes, histórias reais e mais: Conheça a HQ do Coringa no Brasil
DC/Reprodução

Ao longo de mais de 80 anos, o Coringa já fez de tudo, e agora também veio ao Brasil. A visita acontece em Coringa: O Mundo, HQ que leva o Palhaço do Crime a diferentes partes do globo em histórias criadas por quadrinistas dos países escolhidos. A nossa terrinha foi representada pelo roteirista Felipe Castilho e pelo artista Tainan Rocha, que tiveram o reforço da colorista Mariane Gusmão (Doctor Who) em uma trama inspirada em eventos reais – e, é claro, memes.

O trio é responsável pelo conto Cidade dos Loucos, Cemitério dos Vivos e, a convite da assessoria Lavanda Literária, tivemos a oportunidade de falar com Felipe Castilho e Tainan Rocha sobre o projeto.

Nas palavras de Rocha, a HQ gira em torno de uma visita do Palhaço ao Brasil, quando ele “acaba conhecendo o potencial lunático dos fãs brasileiros, além de entrar em contato com algumas das raízes mais assustadoras e obscuras da história do país”.

Desde o início, Castilho sabia que o enredo precisava de “caos, meme e fãs de true crime”, pois “quis fazer a história orbitar esse talento ‘memético’ brasileiro”. Porém, a experiência não poderia ser reduzida a memes:

“Somos um povo caótico (no bom e no mau sentido), com um passado que não deveríamos esquecer. Também sobrou homenagens para um de nossos grandes escritores”, afirmou, deixando um mistério no ar par aos leitores.

A dupla cita as mais diferentes influências, desde HQs do Batman, como Asilo Arkham (1989) e Batman/Dylan Dog (2024), belamente ilustradas por artistas alternativos, como Dave McKean e Gigi Cavenago, até um mestre do suspense no cinema. "Pensei numa vibe meio David Fincher [diretor de Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995)], porque sempre imaginei como seria um Batman dele", confessou Castilho. "Mas depois abracei a brasilidade [risos]".

Capa de Tainan Rocha e Mariane Gusmão para a história de Coringa: O Mundo no Brasil (DC/Reprodução) Capa de Tainan Rocha e Mariane Gusmão para a história de Coringa: O Mundo no Brasil (DC/Reprodução)

A brasilidade citada pelo escritor dá as caras em diferentes níveis. Em uma camada mais leve, Tainan Rocha cita como inspiração o “clima presente no disco Clube da Esquina [de Milton Nascimento e Lô Borges]”. Porém, o DNA da HQ também carrega um episódio real e grave na história do país.

Os dois citam o livro Holocausto Brasileiro (2013), de Daniela Arbex, como a maior referência para a trama. A publicação denuncia a brutalidade do Hospital Colônia de Barbacena, hospício imputado pela morte de 60 mil pessoas e que tinha o apelido de “Cidade dos Loucos” que, não por acaso, foi parar no título do conto.

Essa mistura de ingredientes tão diferentes formaram o tom da história que, para Tainan Rocha, ajuda a traduzir parte do cotidiano que não poderia faltar em um conto do Coringa:

“Acho que [não podia faltar] a ironia. Personagens contraditórios, inacreditáveis e toda essa atmosfera de paixão, loucura e riso nervoso que compõem de forma tão marcante o nosso dia-a-dia.”

A estrada até Coringa

Coringa: O Mundo marca a estreia da dupla em histórias do universo do Batman, mas eles têm grande bagagem com a cidade de Gotham. Quando questionado sobre as obras do Homem-Morcego, Tainan Rocha citou filmes, de Matt Reeves e Tim Burton, e quadrinhos clássicos, como O Longo Dia das Bruxas (1997) e Ano Um (1987), “uso até como exemplo quando dou aula de HQ”.

Já Felipe Castilho apontou a série animada do Morcegão, de 1992, games da série Arkham e da Telltale e a HQ O Messias (1988). Primeiro gibi de super-heróis que o roteirista teve em mãos, ele o marcou pela surpresa de ver “um Bruce Wayne quebrado física e mentalmente, bem diferente do clima feliz que eu via em Batman [a série com Adam West] ou em Superamigos. Porém, o Palhaço do Crime também roubou a atenção do roteirista:

“Amo A Piada Mortal (1988) e curti demais a série recente escrita pelo James Tynion IV, onde o Comissário Gordon quer pegar o Coringa antes de se aposentar.”

Toda essa bagagem, somada a uma parceria artística que já dura uma década, graças a títulos como Selva de Pedra e Cara/Coroa, foi útil quando receberam o convite da editora Belle Félix, da Panini, para compor o estrelado elenco de Coringa: O Mundo.

“Nesses dez anos, a gente sonhou em desenhar tantos personagens, mas nunca imaginamos que começaríamos logo com o Coringa. Quando a Belle convidou eu acho que falei um ‘sim’ sério demais, e por dentro eu senti cada pedaço de mim tentando não surtar e encarar com normalidade. Foi algo que sempre quis, e no momento que ela comentou eu só queria sair correndo e começar a rascunhar algo.”

Quando chegou a hora de criar Cidade dos Loucos, Cemitério dos Vivos, Rocha admite que o processo foi muito parecido com a dinâmica de trabalhos anteriores:

“Temos um processo muito natural de confiança mútua... Dessa vez, talvez, a gente tenha se sentido mais ansioso com o tamanho da responsabilidade nas mãos. E isso acabou nos levando a gerar mais de uma versão de cada etapa.”

Capa original da HQ Coringa: O Mundo, que terá quadrinistas brasileiros contando a visita do vilão do Batman ao país (DC/Divulgação) Capa original da HQ Coringa: O Mundo (DC/Divulgação)

“É muito fácil trabalhar com o Tainan”, declarou Castilho. “A gente tem zero bloqueios na hora de planejar e falar a real um para o outro, nunca brigamos e lembramos bem de onde viemos e para onde queremos ir. Então acho que a gente sempre busca se ajudar e nos divertirmos no processo, mesmo quando surge uma responsabilidade bonita dessas”.

A dinâmica não mudou nem mesmo quando era preciso responder à DC. “Tirei algumas dúvidas sobre alguns personagens que gostaria de utilizar e sobre qual versão do Coringa eu podia pirar”, disse Castilho, que conta que o argumento para a história foi aprovado de primeira. “Tive uma liberdade massa para mostrar o que eu queria com os personagens que eu pedi logo de cara”.

Se tratando de um projeto mundial, é natural que surja certo nervosismo, certo? Errado! “Honestamente, tentei não ficar pensando muito nisso para não travar completamente e acabar mais louco que o Batman!”, ri Tainan Rocha. “Tentei focar em colocar o meu melhor possível no papel e na tela, com o intuito quase principal de que essas dez páginas, de alguma forma, servissem como uma espécie de presente para o meu eu de doze anos que lia formatinhos do Batman comprados nos sebos e sonhava em desenhar essas personagens um dia”.

Felipe Castilho concorda e explica que, ao melhor estilo Batman, a dupla já tinha "preparo" para lidar com a tarefa:

“Adoro responsabilidades gigantescas e digamos que treinei para isso! [Risos] Mas quando a gente pensa no que Batman e Coringa representam na cultura pop mundial, o baque vem. O que o Tainan disse sobre um presente para nossos ‘eus’ do passado é real demais, e não consegui nem por um segundo deixar de pensar em quando eu ia ler gibis na biblioteca José Paulo Paes, aqui na Zona Leste de São Paulo, e quando comprava a revista Wizard para saber mais sobre a vida dos roteiristas das grandes casas”.

A vida depois do palhaço

Coringa: O Mundo acaba de ser lançada, mas a dupla não tem tempo a perder e já trabalha em novos projetos. Felipe Castilho e Tainan Rocha revelam que assinaram contrato com uma editora grande para produzir uma HQ de terror cósmico em duas partes, cuja primeira sai ainda em 2025.

Autor de Serpentário (2019) e da saga Ordem Vermelha, Castilho trabalha em um romance que, curiosamente, também aborda loucura – “tô na vibe Coringa desde o fim do ano passado e vou ficar nela por mais um tempo”. Além disso, prepara o lançamento do último volume de Mistland, HQ do Stout Club publicada digitalmente nos EUA pelo ComiXology.

Rocha, por sua vez, está desenhando uma HQ com roteiro do português André F. Morgado, que deve ser publicada no mercado europeu em 2025 pela editora A Seita.

Sessão de Autógrafos de Coringa: O Mundo

Felipe Castilho, Tainan Rocha e Mariane Gusmão participarão de uma sessão de autógrafos de Coringa: O Mundo neste sábado (5), em São Paulo. Além de distribuir autógrafos, o trio vai participar de um bate-papo que acontece na Comic Boom!, que fica na Rua Coelho Lisboa, 366, no Tatuapé.

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