Criado na década de 1950, Tennis for Two é considerado como o primeiro jogo eletrônico da história, que simula partidas de tênis para dois jogadores. Seja contra um amigo ou um computador, o objetivo é usar um único botão para rebater a bola um para o outro.
Como o próprio título indica, a experiência foi projetada desde o início para ter um aspecto de multijogador, e, curiosamente, isso se tornou algo intrínseco aos videogames até hoje.
É claro que o ato de jogar é individual (só você e o controle), mas é praticamente impossível não compartilhar nada sobre a experiência de um jogo com outra pessoa, seja no ‘boca-a-boca’, com avaliações e comentários pela internet, emprestando um cartucho, ou literalmente jogando com (ou contra) alguém.
Assim, de uma forma ou de outra, os videogames sempre acabam sendo uma ‘experiência multiplayer’ fora das telas — e Split Fiction celebra abertamente essa ideia.
Dançando o tango mais uma vez
Chefiado por Josef Fares, o Hazelight Studios parece determinado em se tornar um estúdio reconhecido por jogos cooperativos. Após It Takes Two (2021) e A Way Out (2018), o estúdio retorna ao gênero do co-op em 2025, com Split Fiction.

Com cooperativo local e on-line para dois jogadores, Split Fiction traz a história de duas escritoras amadoras que, em busca da primeira publicação, topam participar do projeto de uma editora misteriosa. Elas, no entanto, acabam presas dentro de uma máquina experimental, que as colocam dentro de suas próprias histórias.
Isso leva a dupla a várias aventuras malucas que literalmente saíram das páginas de livros, mas com uma sacada divertida que dita a experiência. Cada escritora é especialista numa temática específica — Zoe é obcecada com fantasia, enquanto Mio ama ficção científica —, e isso reflete tanto na trama quanto na jogabilidade.

Com muito bom humor (o que é de se esperar vindo de Josef Fares), a história é simples e carismática na medida certa, usando a velha “rixa” entre fantasia e sci-fi como fio condutor da química entre Zoe e Mio. Difícil não soltar risadas quando uma não entende a premissa da história da outra, ou quando tiram sarro dos artifícios e clichês narrativos usados.
Esse laço da dupla é construído aos poucos, entre risos, debates calorosos e crises de artistas, conforme a vida das escritoras e os segredos da editora vêm à tona.
Felizmente, a localização em português brasileiro também acompanha essa qualidade do texto. Além de uma boa tradução, existe uma adaptação que traz trocadilhos e referências que aproximam os diálogos do Brasil. Alguns exemplos são chefes que soltam frases como “malandro é malandro, mané é mané”, e “hora de martelar o martelão!”. Pois é, teve até Bonde do Tigrão!

Diversão em dose dupla
Lá em 2020, It Takes Two furou a bolha e interessou até a pessoas ‘não gamers’, que acabaram jogando por terem sido convidadas por amigos, familiares, namorados ou afins. E parece que o Hazelight estava de olho durante todo esse tempo.
Isso porque é nítido como o estúdio se preocupa mais com a cadência da experiência em Split Fiction. É claro que cooperação é o alicerce da jogabilidade, uma vez que as mecânicas de Zoe e Mio se complementam, mas há vários momentos em que o jogo dá uma ‘ajudinha’ ao jogador menos habilidoso em sequências complicadas, como checkpoints mais frequentes e generosos. Assim, a fluidez de momentos com mais adrenalina não é quebrada, sem deixar ninguém frustrado ou (tão) para trás.

E Split Fiction repete o que fez It Takes Two conquistar tantos fãs: transitar entre diferentes gêneros. Só que faz isso de uma forma mais atrelada à história, uma vez que as roupagens de fantasia e sci-fi são o que guiam o design de fases. Então as mudanças sempre conversam com a narrativa de alguma maneira.
Isso também dá espaço para o jogo brincar com os gêneros de uma forma menos fragmentada e mais frequente. Eu, por exemplo, perdi as contas de quantas vezes a perspectiva dos cenários mudou de 3D para 2D ou 2.5D no meio de praticamente todas as fases! A sensação que fica é que os desenvolvedores se sentiram ainda mais ‘soltos’, o que resulta no gameplay imprevisível a todo momento, indo de plataforma 3D a shooters, corridas e até run and gun.

O verdadeiro charme de Split Fiction, no entanto, está nas missões secundárias, que são portais que levam a fases opcionais e curtinhas. Elas são uma dose extra de adrenalina e diversão no meio dos capítulos principais, que narram alguma história esquecida de Zoe e Mio, como um conto para ensinar crianças como salsichas são feitas (que, sim, é tão bizarro quanto soa) ou protagonizar fugas e perseguições em alta velocidade.
Outro acerto?
Existem jogos que conseguem fazer você sorrir do início ao fim – e Split Fiction é um deles. Retomando os passos do aclamado It Takes Two, o mais novo game do Hazelight Studios traz tudo que uma experiência cooperativa precisa.

Seja pelas maluquices das histórias de Zoe e Mio, pela criatividade maluca da jogabilidade ou simplesmente por ter uma essência multiplayer magnética, o título é obrigatório para todo gamer – e 'não gamers' também! – que estão em busca de uma jornada divertida e despretensiosa.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Electronic Arts.
Split Fiction será lançado no dia 6 de março para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.
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