Desde a revelação do primeiro trailer, Sonic Frontiers chamou a atenção da comunidade por mostrar que a próxima aventura do ouriço velocista seria em mundo aberto, indo além do conceito de “zonas abertas” da franquia.
Os "soniqueiros" ficaram curiosos com o que estava por vir, afinal, até o próprio título indicava que poderíamos sonhar com algo que iria “além das fronteiras” da saga. As expectativas eram de receber um jogo diferente de tudo que já vimos do Sonic – e, de fato, é… mas não no bom sentido.
Veloz e repetitivo
Sonic Frontiers acompanha a jornada de Sonic em cinco ilhas misteriosas, após ele e seus amigos (Amy, Knuckles e Tails) serem repentinamente transportados para um mundo digital. No entanto, apenas o ouriço passou ileso, enquanto os outros ficaram presos em um limbo entre a realidade e o virtual, e precisam de ajuda.
As ilhas são ruínas de uma civilização antiga que estava à frente do seu tempo, então apresentam estruturas com uma tecnologia ancestral avançada e ainda são guardadas por criaturas imensas conhecidas como Titãs.
O objetivo de Sonic, então, é explorar cada ilha para encontrar as sete Esmeraldas do Caos, se transformar em Super Sonic e derrotar os Titãs na esperança de libertar os coleguinhas.

Apesar de uma certa relutância da SEGA, a estrutura de Sonic Frontiers é essencialmente um mundo aberto, que deixa o jogador livre para explorar o que quiser e na ordem que quiser. Em poucos minutos de jogo, você já está solto para perambular pelo mapa inteiro.
As ilhas apresentam muitas plataformas, corrimões, rampas e trampolins para todo o lado, que rendem quebra-cabeças de travessia curtos e podem ser usados por Sonic para encontrar moedas douradas e itens importantes. É algo relativamente simples e que funciona a princípio, mas se torna repetitivo com facilidade.
Há Ciberespaços espalhados pelo mapa, que são fases curtas em alta velocidade, em que o objetivo é coletar moedas douradas e vermelhas até a linha de chegada. É a parte mais nostálgica de Frontiers, lembrando os títulos clássicos da franquia. Tais fases são divertidas, porém poucas e limitadas, deixando um gostinho de “quero mais”.
Existem também mini-games que, ao serem completados, mapeiam a região para tornar a locomoção mais rápida. Só que a maioria é pouco desafiadora, sendo tarefas fáceis demais, que podem ser feitas em poucos segundos. Além disso, inimigos e mini-chefes aparecem com frequência e, ao serem derrotados, recompensam o jogador com pontos de habilidade e mais itens importantes.

Boa parte desse conteúdo soa como opcional, e passa a mesma impressão na prática. No entanto, a exploração das ilhas é obrigatória e você precisa concluir boa parte disso tudo se quiser avançar na trama. Não há uma maneira de focar apenas em missões principais, uma vez que é preciso coletar uma quantidade específica de itens para desbloquear as cutscenes e os acontecimentos da história.
A sensação é que o jogador precisa literalmente “comprar” as cenas com moedas in-game para ver o desenrolar da narrativa. Isso faz com que o jogo caia em um ciclo de repetitividade: afinal, para progredir, é preciso coletar uma quantia de um determinado item, que exigirá a quantia de outro item e por aí vai. Toda ilha reprisa a mesma cadeia de ações repetitivas.
Por exemplo, para obter uma Esmeralda do Caos, é preciso ter uma quantidade específica de Chaves, que são obtidas em Ciberespaços, que são desbloqueados por Engrenagens, itens “dropados” por mini-chefes (ou inimigos comuns, se estiver com sorte). Agora, imagine ter que fazer exatamente o mesmo processo sete vezes em todas as ilhas?
Com isso, Sonic Frontiers é um game com foco em exploração, mas que faz isso de forma tão repetitiva e sem personalidade – o que é um erro grave, já que se trata de um dos personagens mais icônicos e únicos dos videogames –, que passa a sensação de ser a parte de conteúdo opcional de qualquer jogo de mundo aberto. Até senti um pouco de motivação para explorar as ilhas nas primeiras horas, mas o sentimento rapidamente desapareceu quando já estava explorando as mesmas coisas pela terceira, quarta ou quinta vez consecutiva. Isso se mantém até o fim do game.
A sensação maçante de repetitividade ainda é intensificada com a falta de um level design bem pensado. As cinco ilhas têm aparência e estruturas muito semelhantes, sendo sempre uma área aberta imensa e plana, em que apenas a paleta de cores muda (e de forma bem sutil). Assim, os mapas passam um aspecto vazio que, somado ao conteúdo e sistema de desbloqueio de cutscenes, gera um ritmo lento que não se justifica.

Apesar de ser relativamente simples, a história de Sonic Frontiers aborda temas que envolvem uma civilização antiga e complexa, uma tecnologia além da compreensão, uma personagem totalmente inédita e até um lado não explorado de Robotnik.
No entanto, peca ao resolver os maiores problemas da trama com o “poder da amizade” e conta com cenas que se afundam em clichê, o que faz com que a narrativa perca muito da sua força e potencial.
Combate à altura do ouriço
A parte curiosa é que Sonic Frontiers acerta (e em cheio!) no combate. Os inimigos são bem variados, tanto em tamanho, quanto padrão de ataque. Lutar contra criaturas muito maiores do que você é divertido e recompensador, com momentos em que é preciso correr em alta velocidade pelas pernas, braços ou tentáculos das criaturas para poder golpeá-las de surpresa.
Sonic conta com uma árvore de habilidades, incluindo golpes e combos diversos que são fáceis de aprender, mas desafiadores para dominar, além de estilosos visualmente. O sistema de upgrades é bem construído, pois adiciona melhorias essenciais e novas opções de uso para habilidades já adquiridas. Assim, o jogador fica mais forte conforme desbloqueia a árvore, sentindo que evoluiu no gameplay.
Ter um combate bem pensado contrasta (e muito) com a estrutura fraca do mundo aberto, fazendo com que os sistemas não conversem entre si e até pareçam ser de games diferentes. Esse aspecto se evidenciou ainda mais quando, ainda no início da terceira ilha, eu já tinha desbloqueado todas as habilidades e não tinha mais como evoluir até o fim do jogo, acumulando mais de 200 pontos sem ter onde gastar.

Falando sobre o visual, Frontiers é bem simples… até demais em alguns momentos, parecendo ser de um jogo de uma geração passada. Há ainda aspectos que parecem não estar finalizados, com texturas piscando, inimigos passando por objetos e até corrimões e plataformas aparecendo apenas quando o jogador se aproxima, mostrando um problema de performance geral.
Já a trilha sonora conta com altos e baixos. Há momentos com músicas mais calmas e um toque lo-fi, que não se encaixa na proposta do jogo. Mas outras cenas acertam com faixas mais frenéticas e animadas, combinando com a alta velocidade do protagonista.
Sonic Frontiers apresenta apenas texto e legenda em português brasileiro, com uma tradução satisfatória a princípio. No entanto, após o começo do game, há algumas decisões confusas de tradução, como “Esmeralda Chaos” em vez de simplesmente “Esmeralda do Caos”. Além de palavras simples em inglês que foram mantidas, como os nomes de alguns inimigos, que no início estavam sendo traduzidos.
O jogo conta com três níveis de dificuldade, que afeta apenas o combate, mas não conta com nenhuma opção de acessibilidade. Há apenas opções para alterar a velocidade do Sonic e a distância e o ângulo da câmera, que são mais voltadas para caso o jogador sinta enjoo com os movimentos rápidos. Assim, a SEGA não teve cuidado em tornar o jogo mais acessível para o público e pessoas com deficiência (PcD), o que é um erro imenso ao considerar o tamanho e o peso da franquia Sonic.
Jogo confuso com a própria proposta
Em poucas palavras, a sensação que fica é que Sonic Frontiers é um jogo confuso que, com um mundo aberto mal pensado, apresenta cerca de 27 horas de conteúdo, quando facilmente poderia ter condensado tudo em menos de 10 horas.
As mecânicas não combinam entre si, a cadência é lenta sem um propósito, a estrutura e as tarefas são repetitivas do início ao fim e a história também deixa a desejar. Nem mesmo o combate, que é divertido e viciante, consegue salvar a combinação.
O game chamou a minha atenção pelos trailers misteriosos que, confesso, eram meio esquisitos. Mas esperava que ainda tivesse surpresas e me impressionasse com um mundo vivo e consistente, o que acabou não acontecendo. A surpresa, infelizmente, foi negativa — e Frontiers se tornou uma das experiências mais fracas do ano.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela SEGA.
Sonic Frontiers será lançado em8 de novembro pra PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, Nintendo Switch e PC.