Em uma era onde os shooters em primeira pessoa se tornaram sinônimos de realismo e simulação, é refrescante que Wolfenstein II preze mais pela sua diversão, assim como os outros games mais recentes da franquia e DOOM fizeram, mas este novo título tem suas próprias excentricidades, que fazem parte de seu violento charme.
Se sair correndo por aí com duas escopetas automáticas nas mãos atirando em nazistas e robôs gigantes parece algo divertido como seria como nos antigos jogos de FPS, é porque realmente é. A Machine Games acertou em cheio com essa e diversas outras escolhas feitas em Wolfenstein II: The New Colossus.

Chega de nazistas
Antes de tudo, quero dizer que recomendo jogar no idioma original. A dublagem até é competente na interpretação, mas tem diversas falas completamente sem sincronismo com os movimentos labiais, entonação que não combinam com as cenas e várias palavras com traduções erradas, o que estraga o clima durante os excelentes trechos cinematográficos.
Também vale notar que o game exige que o jogador refaça a escolha feita no final de The New Order (não vou dizer qual para evitar spoilers), o que muda diversas cenas e alguns outros elementos ao longo da história. Então se quiser ver todas as possibilidades, é preciso jogar mais de uma vez.
"Um equilíbrio perfeito de drama, violência e piadas, tudo regado com muitas cenas exageradas e inusitadas"
Wolfenstein II começa exatamente onde seu antecessor terminou: o mundo foi dominado pelos nazistas e o protagonista William Joseph “B.J.” Blazkowicz foi ferido mortalmente, mas resgatado por seus companheiros. Apesar de seu estado é crítico, isso não o impede de lutar. Não quando sua noiva está esperando gêmeos.
Logo no início o jogo mostra para que veio dando um soco na cara do jogador, metaforicamente. Blazkowicz sonha com sua infância, relembrando de sua amada mãe, uma judia, e seu pai, um racista, elitista e extremista que se casou com ela por dinheiro. Mas tem outro problema: William tem uma nova amiguinha. Negra. E isso não será tolerado.
Tomamos controle do pequeno William em uma situação bem desagradável. Entenda: o pai dele quer ensinar que na vida precisamos ser fortes para tomar decisões e fazer o que é certo, não importa o quanto doa. A única forma de continuar é fazendo algo horrível.
Eu fiquei PU** da vida! Não com o jogo, mas com esse pai miserável. No entanto, esta cena não está lá apenas para ser chocante. Ela mostra o tipo provação pelo qual Blazkowicz passou em sua infância, por que ele odeia o autoritarismo e de onde ele tira forças para fazer o que ninguém mais faz.
Em diversos momentos nós entramos na psique de Blazkowicz, descobrindo que ele não é só mais um brucutu durão. Pelo contrário: começamos a controlar o protagonista em uma cadeira de rodas, em uma excelente fase introdutória, e depois só conseguimos levantar graças a uma armadura.
Isso não significa que esta é uma trama sentimental. A Machine Games não teve medo de chocar, mas a verdade é que a equipe encontrou um equilíbrio perfeito de drama, violência e piadas, tudo regado com muitas cenas exageradas e inusitadas, além de críticas não apenas às filosofias nazistas, mas à humanidade em geral.
O título consegue contar uma excelente história que flui muito bem por todos estes elementos sem ficar cansativo e sem prejudicar o gameplay. E embora eu tenha sentido que o clímax não foi forte o bastante para superar o que aconteceu ao longo da aventura, o final consegue ser extremamente satisfatório, principalmente para quem jogou The New Order.
MATAR!
Claro que assistir e acompanhar a história não é a única coisa boa para fazer no jogo. Antes de tudo, Wolfenstein II: The New Colossus é um shooter e, como disse no começo, a proposta de que matar os inimigos seja um processo divertido é cumprido com excelência. E o principal motivo para isso é que ele é direto: é só mirar e atirar em tudo o que se move.
Para isso, Blazkowicz conta com uma bela seleção de armas, sendo que uma delas muda de acordo com a escolha feita no começo da história. Depois que pega uma pela primeira vez, ela sempre estará em seu inventário.
Aliás, é ainda melhor do que isso, porque a qualquer momento você pode usar uma arma em cada mão ao mesmo tempo com qualquer combinação que você quiser, incluindo duas iguais. Você perde a habilidade de “fechar a mira” dos FPS atuais, mas quem precisa disso quando se é uma máquina da morte?
Diferente de muitos outros FPS desta geração, Wolfenstein II também não é linear. Os mapas são, em geral, bastante abertos para que você aborde as situações como preferir, sendo até mesmo possível ser furtivo se quiser.
Há várias formas de jogar e tudo o que você faz aumenta um dos atributos conhecidos como Vantagens. Ao maximizar algum deles, aquela característica fica mais forte. Então se você gosta de usar duas armas ao mesmo tempo, por exemplo, essa habilidade ficará melhor depois, automaticamente favorecendo seja lá qual for seu estilo de jogo.
"Um dos melhores títulos de tiro em primeira pessoa da atualidade, de longe"
Também é possível usar Kits de Melhorias para adicionar modificações às armas, como silenciador ou tiros que penetram armaduras. Este é só um dos itens que você pode encontrar explorando as fases, que também são cheias de colecionáveis.
Mas passar dos estágios e avançar a história não é a única atividade disponível no jogo. Entre missões podemos explorar o Martelo de Eva, submarino tomado pelo grupo de Blazkowicz. Lá podemos conhecer outros personagens, todos carismáticos, obter e realizar missões adicionais e até jogar uma versão modificada do clássico Wolfenstein 3D, que neste universo se chama Wolfstone 3D e os nazistas são os heróis (afinal, toda mídia neste mundo fictício precisa ser pró-nazismo).

Depois de determinado ponto, também podemos desvendar códigos nazistas para desbloquear segredos em fases, missões de assassinato e até retornar para estágios anteriores para explorar e encontrar novos itens.
B.J. Blazkowicz pronto para a ação
Wolfenstein II: The New Colossus é uma sequência mais do que digna para a clássica franquia, sendo tranquilamente um dos melhores jogos com o nome Wolfenstein. Aliás, é também um dos melhores títulos de tiro em primeira pessoa da atualidade, de longe.
A Machine Games acertou em cheio com uma ótima jogabilidade e uma excelente história contada com um estilo intencionalmente galhofa e exagerado. Tudo isso faz com que uma viagem a um mundo paralelo horrível onde os nazistas venceram a Segunda Guerra seja extremamente divertida e, se precisarem de alguém para combater os vilões de novo, estarei ansioso para assumir o controle.
Wolfenstein II: The New Colossus está disponível para Xbox One, PlayStation 4 e PC. O jogo também será lançado para Nintendo Switch em 2018. Este review foi feito com uma cópia do jogo cedida pela Bethesda.