Pensando num plano de dominação global através da popularização das caçadas de monstros, a Capcom apresenta Monster Hunter: World. E o jogo chega cheio de surpresas, com um visual aprazível, caçadas emocionantes e diluindo a complexidade da franquia, condensada em quase 15 anos de história, de modo a conquistar novatos e veteranos mais uma vez.
Maior do que nunca, com uma fauna e flora riquíssimas em espécimes, MonHun: World é o melhor início de carreira que qualquer caçador poderia sonhar. Apesar de notarmos uma certa continuidade no “lore”, com o resgate de personagens do jogo e elementos que fazem parte da franquia desde o início, siga tranquilo que logo tudo será bastante comum a você também — mesmo que você não tenha jogado os títulos anteriores.
E digo isso por experiência própria. As três primeiras horas de jogatina são as piores. É muita informação para assimilar, com itens para procurar, recursos para adquirir, regras de caçada, utilização dos menus, dos atalhos, missões principais, investigações, armas para escolher, stamina, alimentação, poções, churrasco, além do personagem para criar. Sem brincadeira, dá tontura só de lembrar.
E isso, acredite, já é a versão simplificada da coisa toda. O que gostaria que tivessem dito para mim nesse começo mas não disseram é: “Não se preocupe, você vai aprender na prática”. E é verdade. No final de semana seguinte ao baque — logo depois de uma conversa com um amigo sobre desistir do jogo "porque não ia rolar, não tinha gostado do game" —, já somava mais de 40h jogadas e o número só aumentava.
Viciei completamente. Já estava quase causando a extinção dos Tzitzi Ya-Ku por conta de um par de botas para completar o visual do meu avatar. E pensar que há uma semana eu dizia que não conseguiria me interessar por MonHun por dó dos animais. Pff!
É claro, essa parte de criação de itens é só um pedaço da premissa do jogo. Desta vez, MonHun conta com uma campanha com foco na narrativa e personagens que trabalham com você em prol da resolução dos mistérios que envolvem um dragão ancestral chamado Zorah Magdaros (mais ou menos uma versão tunada do último Godzilla japonês).
Sem entrar em pormenores da trama, dá para dizer que ela consegue prender o jogador em missões solo (mas que podem ser feitas com amigos online se quiser) e serve como apresentação de todo o novo continente em que se passa a aventura. Também é uma excelente vitrine de monstros aterrorizantes que eventualmente serão caçados.
Um dia da caça, outro (se você vacilar) também
Monster Hunter: World conta com 14 tipos de armas para o jogador escolher. Essas armas funcionam como classes de personagens, possibilitando formas diferentes de jogar o mesmo jogo, além de algumas habilidades exclusivas dependendo da sua escolha. E não se preocupe, é possível trocar essas armas quando bem entender.
De uma forma geral, não há muito mistério na utilização de nenhuma delas. Claro, algumas exigem estratégias diferentes, como a Dual Blade: uma arma rápida, que faz o seu personagem atacar velozmente e muitas vezes, mas com dano reduzido. Ela também concede ao jogador um movimento especial que o deixa mais forte por um curto período de tempo. O que já não acontece com a Great Sword, a espada mais pesada do jogo, que causa maior dano por ataque. Já a minha preferida por enquanto foi a Lâmina Dínamo: um combo de espada e escudo que consegue acumular uma energia especial a cada acerto e pode ser transformado em um machado gigante. Com a energia carregada, causa também dano elétrico.
As armas de longo alcance são as que mais exigem do jogador no começo, já que é preciso manusear diversos tipos de munição e pensar estratégias completamente diferentes das convencionais. Mas tudo que está ali disponível vale a experimentação, porque cada uma delas muda completamente a mecânica de combate.
Seja o que for que escolher, não deixe de experimentar a Insect Glaive, a arma que possui os combos mais bonitos do jogo. Parece até hack’n slash com air combos. Sério.
Escolhida a arma, é hora da caçada. Perseguir um animal selvagem na mata requer encontrar seus rastros. Pegadas na lama, arranhões em pedras, resíduos espalhados por todos os lugares, tudo que é inspecionado pelo caminho ajuda os seus guialumes a encontrarem o seu destino final.
Já cara a cara com o bichão, é impossível saber o que vai acontecer. Claro, cada monstro tem seus golpes específicos e é relativamente fácil decorá-los. Mas isso de nada importa, já que a natureza pode intervir das maneiras mais imprevisíveis no seu combate. O pior caso é quando, durante o combate, acidentalmente, invadimos o território de outro monstro, aí são os dois tretando entre si, e a gente fica ali de espectador, sem saber se espera ou ataca os dois e tenta a sorte.
O mais legal disso tudo é que nada é pré-renderizado pelo jogo. Tudo pode ou não acontecer, vai da sua sorte (ou azar). Todas as batalhas acontecem em tempo real, sem cutscenes ou escapadas para locais específicos. Quer dizer, o único local que o monstro sempre vai quando está ferido, mancando e prestes a morrer, é o seu ninho. Não vou mentir que por muitas vezes preferi capturar ao invés de acabar com a vida do coitado (a animação dele sofrendo faz bem o seu papel).
Vale muito a pena dar uma olhada na forja, especificamente na parte de criação de armaduras, para entender as fraquezas do monstro enfrentado. Claro que você só descobre isso após lutar uma primeira vez, mas usar o elemento certo contra seus adversários ajuda um bocado o ‘farming’ de materiais para a criação de itens. E tem muito item legal que pede dedicação na caçada.
O Novo Mundo
Caçar também envolve o conhecimento completo do ambiente. Se preparar para enfrentar pântanos ou vales putrefatos repletos de gases venenosos faz parte da profissão de caçador. Por sorte, os pesquisadores do seu acampamento fazem um trabalho excepcional e sempre têm boas dicas de antídotos, poções de resistências e por aí vai.
Outra parte da aventura que é muito importante, mas fica por trás dos panos quase sempre, é a parte de gerenciamento de itens no seu acampamento. Depois de algumas horas de jogo é possível cultivar alguns recursos naturais e colhê-los sem a necessidade da exploração. Quanto mais você desenvolve seus centros de pesquisas avançadas (através de pontos de pesquisas, adquiridos durante a exploração tradicional), mais e mais itens são disponibilizados para o cultivo, inclusive alguns bem raros.
Os bychanos, seus companheiros na aventura, também conseguem itens raros para você, desde que os mande em aventuras solo. Essa parte do jogo abre depois de um tempo na campanha principal e apesar de aleatório, só os bychanos conseguem adquirir certos itens especiais que serve para criar armas ou armaduras. Tem que ficar de olho também.
Online e Offline
É possível encontrar diversão sozinho ou em grupo durante as aventuras em Monster Hunter: World. A questão aqui é que o jogo tende a recompensar mais aqueles que se aventuram em grupos.
Criar o seu time de ataque não é uma tarefa difícil, pelo menos no lançamento do game. Pessoas para jogar com você existem aos montes, e o que importa é aumentar o seu nível de caçador, para assim poder acessar as missões de ranqueamento mais alto.
As estratégias de combate também mudam. É sempre bom ter um time misturado, com armas variadas e possibilidades de captura e abate. O jogo também se atualiza para entregar uma experiência mais recompensadora em dificuldade para jogadores em grupo, o que é bom, visto que na mesma pegada, ele também deixa o jogador solitário se divertir sem muito estresse.
Óbvio que durante o “endgame” (quando estamos jogando há mais tempo do que gostaríamos de assumir) é muito importante se reunir com outros jogadores para enfrentar os desafios do jogo, mas bem no comecinho do jogo ter uma equipe para realizar missões como enfrentar um Anjanath, por exemplo, deixam todo mundo menos frustrado no final.
No geral, creio que a experiência de Monster Hunter: World como um todo só se revela mesmo depois de um amadurecimento do jogador. Não querendo colocar prazo aqui, mas 30 horas não serão suficientes para apresentar tudo que o jogo tem a oferecer. É um compromisso sério, quase uma união em comunhão de bens com o game, e ele vai exigir muita atenção e dedicação de você, enquanto lhe devolve alegrias e frustrações, mas principalmente amor por esse universo a ser descoberto.
Esse review foi feito com uma cópia de Monster Hunter: World para PS4 cedida pela Capcom.
Monster Hunter: World será lançado em 26 de janeiro para Xbox One e PS4, enquanto a versão de PC chega no terceiro trimestre de 2018.