Título que marca a estreia do recém-formado Studio Zero, Metaphor: ReFantazio é um jogo que quer ser o melhor possível, reunindo os principais aspectos de títulos anteriores da empresa em uma comemoração não intencional dos 35 anos da Atlus.
Este é o primeiro RPG de fantasia da empresa, que finalmente achou uma faceta para explorar em um dos gêneros mais clássicos e celebrados dos games.
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Durante a Summer Game Fest 2024, conversamos com Katsura Hashino e Shigenori Soejima, duas das mentes por trás dos Personas 3, 4 e 5, e responsáveis pelo desenvolvimento de Metaphor: ReFantazio.
"RPGs de fantasia são um gênero muito popular, e pensamos que talvez agora, com 35 anos de empresa, talvez tenhamos experiência para aceitar esse desafio de abraçar o gênero", afirma Hashino, que dirigiu os títulos da franquia Persona e também dirige a aposta da Atlus.
Com a promessa de levar os jogadores em uma jornada cheia de aventura, saciamos nossa curiosidade acerca de alguns aspectos de Metaphor: ReFantazio na entrevista abaixo.
Fantasia conceitual
"Quando fizemos o Studio Zero e descobrimos que faríamos um jogo de fantasia, a primeira personagem que fizemos foi a Hulkenberg, essa moça de cabelo vermelho", Soejima conta, contorcendo-se na cadeira para apontar para o painel que estava atrás dos entrevistados (incluindo dele). "Não era exatamente assim, mas tinha muitos dos elementos dela. Esse é o tipo de personagem de fantasia que eu sempre quis criar, então estou muito feliz que deu certo."

Hulkenberg faz parte dos roussaintes, que possuem orelhas longas e pontudas, e possuem uma postura elegante. São várias as raças, como Gallica, que é uma pequena fada e também a guia do protagonista. Outro destaque fica com Strohl, jovem da tribo clemar, que é um nobre e possui dois chifres pequeninos na cabeça.
Mas como trazer originalidade para um gênero que já foi tão explorado? Shigenori Soejima, no papel de designer de personagens, mesclou referências clássicas para deixar as coisas com um ar "não tão polido e terminado", além de trazer diversas referências de títulos anteriores e até mesmo da alta costura para criar os habitantes do Reino Unido de Euchronia.
"Tivemos que pensar muito na iluminação, em colocar texturas como terra, sujeira. Acrescentar coisas que dessem essa energia de fantasia", trazendo um lado mais orgânico para o visual.
Em contrapartida, a veia "fashion" continua em Metaphor: ReFantazio — este é um jogo da Atlus, afinal. Soejima parece se divertir com o fato de poder mesclar referências e encontrar o limite entre a fantasia e a moda moderna. O personagem principal tem um estilo inspirado pela alta costura do nosso mundo moderno: "Queria que parecesse moderno e imaginário ao mesmo tempo, realista e fantasioso."
Embarcando em uma viagem
Sem esconder seu objetivo ambicioso, o game toma proporções muito mais épicas do que as que estamos acostumados a ver em ambientações como de Shin Megami Tensei e Persona, que se passam em escolas e cidades. Desta vez, o objetivo é unificar um país inteiro, e, para isso, Hashino e sua equipe precisaram pensar muito em um aspecto: o deslocamento.
"Nós queremos levar mais para o lado da exploração do desconhecido enquanto você atravessa esse mundo. Não é como um mundo completamente aberto, não queremos que o jogo tenha o sentimento de um mundo aberto, e sim passar a ideia de explorar algo novo."
O transporte escolhido para abrigar este grupo de aventureiros viajantes foi feito por ninguém mais, ninguém menos que Ikuto Yamashita, que trabalhou ao lado de Hideaki Anno nos designs de mecha de Neon Genesis Evangelion.
O Armored Tank é um veículo, mas também é onde os personagens vão passar o tempo e fazer atividades triviais, como cozinhar e até lavar a roupa. É onde o protagonista desenvolve seu relacionamento com os outros, fortalecendo os laços entre eles. Essa é uma mecânica bastante familiar para quem já conhece outros títulos da Atlus, e ela é aplicada de forma similar aqui.

Por conta da trama, o jogador passará bastante tempo em trânsito do ponto A ao ponto B, e a ideia é que seja possível aproveitar esse deslocamento ao máximo:
"Queríamos transmitir a sensação de viagem, não por ter um mundo para explorar, mas para dar a sensação de movimento. Quando você chega num lugar novo, você conhece gente nova, você participa de novos eventos e se mete em novos acontecimentos. Então este é o sentimento que queremos evocar."
Isekai ao contrário

Munidos com a confiança de explorar um gênero inédito até então para a Atlus, os desenvolvedores de Metaphor: ReFantazio logo se viram em um redemoinho de perguntas com o objetivo de encontrarem uma direção para seguir.
Ainda que todos fossem familiarizados com o conceito e gostassem de fantasia em jogos e outras mídias, parecia faltar uma resposta primordial: por que gostamos de fantasia?
Hashino e sua equipe perguntaram para outras pessoas da empresa, mas não obtiveram respostas. E isso chamou a atenção do diretor.
"Nós, japoneses que vivemos no Japão moderno, achamos o Japão moderno muito chato. É o de sempre, não é? Mas então vemos o mundo de fantasia e pensamos 'estes mundos de fantasia são fascinantes, podemos ser o que quisermos ser, eles são muito divertidos e interessantes'.Quando pensei nisso, cheguei à conclusão de que dependendo de como você se sente sobre o mundo em que vive, isso muda sua percepção de como você o interpreta. E isso é meio que brincar com a imaginação."
Brincando com o ponto de vista, Hashino propõe uma nova reflexão sobre a atual sociedade japonesa ao inverter posições e colocar a nossa realidade como ficção no mundo de Metaphor: ReFantazio.
"E se as pessoas do mundo fantasioso tivessem nosso mundo como a fantasia deles? Talvez isso mude a forma com que nós, do mundo real, pensamos sobre o nosso mundo também. E pensei: 'essa é uma boa ideia!” É algo legal para trazer para um RPG da Atlus. Não o mundo moderno, mas um novo modo de enxergar o mundo moderno."
Ganância

Se o jogo parece ambicioso para você, saiba que ele é mesmo. Nascido da vontade de Hashino de criar um novo herói, Metaphor: ReFantazio deseja, sim, mudar o mundo, um jogador de cada vez.
"Quando estávamos fazendo jogos como Persona 5, ficamos muito surpresos em ver quantas pessoas amaram nossos jogos, e fomos tocados por essas pessoas.Queremos fazer um jogo que as pessoas possam jogar e se emocionar. Este tem temas de medos, ansiedades e como superar esses sentimentos.
Queremos alcançar as pessoas, comovê-las, ajudá-las a enfrentar seus medos e ansiedades, superá-los e seguir para o próximo passo da vida delas. Não importa onde elas estejam, ou quem sejam."
A narrativa, jogabilidade e visuais foram desenvolvidos a partir do conceito de "se tornar um rei". Para isso, o protagonista deve conversar com as tribos, conhecer o mundo, fortalecer os relacionamentos e descobrir mais Arquétipos dentro de si, lidando com responsabilidades, escolhas e com o peso da disputa real do Reino Unido de Euchronia.
Metaphor: ReFantazio traz elementos familiares para os fãs dos jogos da Atlus ao mesmo tempo em que amplia o escopo, o mundo e a ambição de Hashino e sua equipe. Com o lançamento marcado para o dia 11 de outubro de 2024, nos resta esperar para ver o resultado final.