Chega a ser curioso (e até meio aleatório) que é bem difícil encontrar algum gamer na República Tcheca que não tenha jogado ou, pelo menos, ouvido falar de Kingdom Come: Deliverance, o RPG de ação do Warhorse Studios. Apesar de um pouco distante dos brasileiros, a franquia é vista quase como um “Skyrim medieval” na Europa, indo além de ser apenas um game, mas uma obra culturalmente importante em vários países europeus.
Não à toa, o jogo vendeu mais de seis milhões de cópias ao redor do mundo e se estabeleceu como um dos RPGs mais únicos e inusitados da indústria na atualidade, consequentemente encomendando uma continuação: Kingdom Come: Deliverance II.
Com a intenção de mostrar o que os desenvolvedores tchecos têm cozinhado para esse próximo projeto nos últimos seis anos, o estúdio Warhorse convidou o NerdBunker para viajar até Praga (o que rendeu umas 20 horas em aeroportos e voos!) para jogar, em primeira mão, mais de três horas da sequência.
“Sorte favorece os corajosos”
Entre prédios arquitetônicos e canecas de cerveja, nossa visita à capital tcheca foi minuciosamente planejada pela desenvolvedora, com a ideia de nos inserir dentro do universo do jogo para sentir na pele o que está por vir.
Algo importante a destacar, antes de mais nada, é que a Warhorse tem mais de 10 anos de experiência e cresceu rapidamente ao decorrer dos anos, chegando a 250 funcionários. Ter mais mãos à obra reflete em peso no novo projeto, que aposta em ampliar o universo do primeiro Kingdom Come: Deliverance de forma bastante ambiciosa. Mas sem perder a essência.

Descrito como um "RPG imersivo", Kingdom Come: Deliverance II dá continuidade à história de Henry e se passa poucos dias após o final do primeiro game, repetindo a ambientação na Europa medieval. Segundo o gerente de relações públicas Tobias Stolz, a maior diferença narrativa está no tom: a sequência é “mais madura, profunda e sombria”, já que o protagonista, agora, é um adulto numa jornada para se tornar um guerreiro.
Afinal, Henry não precisa mais lidar com bandidos de vilarejos, mas se vê no meio de conflitos envolvendo reis e exércitos, enfrentando muitos horrores de guerras. Essa ideia ficou nítida nas minhas três horas de teste, uma vez que pude jogar boa parte do início do jogo — e testemunhar algumas reviravoltas sinistras.
Essa mudança de tom também reflete diretamente nas escolhas que o jogador precisa tomar durante a história, seja em diálogos ou em ações pelo gameplay, que prometem ser mais densas na sequência. Cada missão tem mais de uma maneira de ser resolvida, e decisões duras são impostas ao jogador a todo momento.
Imagine, por exemplo, que você está prestes a invadir um vilarejo, mas isso colocará seus companheiros em perigo, podendo até resultar em mortes. Para evitar fatalidades do seu lado, é possível incendiar o local antes da invasão, mas isso causará a morte de pessoas inocentes que não têm nada a ver com a situação. Resta a você decidir o que importa mais para Henry… e, seja como for, toda decisão terá uma consequência! Isso também fará com que cada jogador tenha uma experiência com desdobramentos únicos.

Logo de cara, é perceptível que Kingdom Come: Deliverance II tem um início mais bem construído do que o primeiro jogo, mostrando que os desenvolvedores estão empenhados em entregar uma experiência mais fluida. Os tutoriais, por exemplo, estão mais diluídos, evitando que você seja bombardeado de informações num primeiro contato.
Além disso, apesar de ser uma sequência direta, não é preciso ter jogado o primeiro capítulo para embarcar na nova jornada. Muitos flashbacks e sequências sobre o passado de Henry estão presentes, servindo como uma base para quem não sabe de nada do que aconteceu.
Assim, a Warhorse se mostra cuidadosa em tornar o RPG em algo convidativo a novos fãs, mas sem deixar de lado as principais características da franquia (até mesmo as esquisitas), como combate em primeira pessoa, sistema de reputação, criação de itens, alquimia, árvore de atributos e salvamento limitado (as controversas poções).
Essas mecânicas foram mantidas, mas algumas foram aprimoradas com polidez e novidades. O combate, por exemplo, tem uma variedade maior de golpes, armas de fogo e até mísseis. Também é possível desarmar inimigos, e todos os movimentos estão bem naturais, uma vez que o estúdio contratou mais desenvolvedores focados em animação só para aprimorar a movimentação de Henry.

Outro pilar de Kingdom Come: Deliverance é uma dose de realismo na jogabilidade, que induz a uma cadência lenta e específica — que também é a responsável por fazer muitos jogadores se afastarem da franquia. A decisão da Warhorse para a sequência, no entanto, é manter esse aspecto:
“Queremos entregar mais um Kingdom Come: Deliverance — e esses detalhes, como o realismo, são o que fazem o jogo ser o que ele é. Não achamos que inventamos um gênero, mas com certeza uma marca registrada, então pretendemos manter essas nossas características”, explica Stolz.
A diferença é que o realismo chega também ao visual de Kingdom Come: Deliverance II. Além de um belo salto gráfico e boas melhorias na animação e iluminação — com direito a pequenos detalhes visuais, como carregar flecha por flecha de uma besta —, os desenvolvedores colocaram em prática um sonho antigo do estúdio: recriar uma cidade inteira dentro do jogo. “Sempre quisemos criar uma cidade inteira medieval com milhares de NPCs, e isso foi um baita desafio!”, conta Stolz.
A região em questão é Kuttenberg, que fica a poucas horas de Praga. Após nossas três horas de teste, o estúdio nos levou para um tour completo na cidade, com o intuito de comparar cenários do game e os locais na vida real. A comparação mostra que as estruturas são idênticas, mas há algumas diferenças — uma vez que certos elementos foram adicionados após o período em que o jogo é ambientado. Por isso, a Warhorse fez muitos estudos e pesquisas para coletar o máximo possível de informações a fim de construir uma recriação fiel e consistente.

“Queremos entregar um mundo inteiro para você fazer o que quiser” foi a frase mais repetida por Stolz durante o teste — e é justamente o que senti ao jogar.
Com a proposta de reafirmar o que tornou Kingdom Come: Deliverance amado por muitos (e esquisito para outros), o novo jogo ajusta alguns parafusos para se tornar uma boa porta de entrada para esse universo medieval, mas sem se distanciar da alma do antecessor.
A sensação é que a Warhorse está prestes a entregar um Red Dead Redemption 2 para chamar de seu: uma sequência que não tem medo de apostar em características ambiciosas e únicas, e que ainda tem tudo para superar o primeiro capítulo.
Kingdom Come: Deliverance II será lançado no dia 11 de fevereiro de 2025 para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.
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