Criada pelo lendário escritor Frank Herbert na década de 1960, a franquia Duna é conhecida por suas profundidades sociais, religiosas e políticas, que resultam em um dos universos mais ricos (e complexos) do gênero de ficção científica.
Em meio à luta sangrenta entre dinastias, buscas incessantes por especiaria e encontros com vermes gigantes, você já parou para pensar como seria tentar sobreviver nesse mundo? Pois essa é justamente a premissa de Dune: Awakening.
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Desenvolvido pelo estúdio Funcom, conhecido por Conan Exiles e pelo clássico Dreamfall: The Longest Journey, o jogo é um MMO com elementos de sobrevivência e gerenciamento, que simplesmente larga o jogador no meio de Arrakis com o objetivo imediato de sobreviver.
Essa ideia é curiosa por si só, sobretudo aos fãs das obras de Herbert, mas confesso que só realmente a entendi ao colocar minhas mãos no game.
Isso porque, a convite da Tencent, viajamos até a fria capital da Noruega para testar mais de seis horas de Dune: Awakening, que chama a atenção por respeitar (e de forma inteligente) o material original.
Mais survival do que MMO
O que distancia Awakening de outros jogos de Duna é que ele aposta numa realidade alternativa desse universo, em que Paul Atreides nunca nasceu.
Obedecendo às ordens das Bene Gesserit, a Lady Jessica deu à luz uma menina chamada Ariste, o que gera consequências diferentes das originais. Uma guerra muito mais sangrenta entre os Atreides e os Harkonnens se dá início, Duque Leto ainda vive e os Fremen são completamente erradicados, por exemplo.
Essas mudanças preparam um terreno bem mais fértil para um MMO, no qual o jogador cria um personagem que precisa coletar recursos, construir bases, produzir armas e vestimentas, aprender a lutar e até evitar tempestades de areia e vermes gigantes — ou seja, encontrar uma maneira de deixar de ser alguém que está apenas perdido no deserto para possivelmente se tornar o membro importante de uma facção em Arrakis.
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Algo curioso é que o diretor criativo Joel Bylos afirmou que o estúdio evita rotular o jogo como um MMO o tempo todo, descrevendo-o como um “multiplayer de sobrevivência com mundo aberto” com mais frequência. Apesar de soar meio excêntrico, essa diferença se prova importante na prática, uma vez que não há muitos aspectos de RPG (que normalmente acompanham o gênero de MMO) na experiência.
Assim, Dune: Awakening apresenta uma estrutura que é familiar aos veteranos de Conan Exiles, mas com toda a roupagem de Duna ditando o ritmo.
“Como está escrito”
“Faça os seus designs encaixarem em Duna, e não o contrário” é a frase que Bylos usou para explicar como o Funcom pensou na jogabilidade de Awakening. A intenção foi transformar os conceitos mais marcantes da franquia — como a desidratação no deserto, o uso da Voz, o consumo de especiaria e a presença do Verme de Areia — em mecânicas, o que funciona e acaba se tornando o que mais chama a atenção no jogo.
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Minha experiência de seis horas serviu como um termômetro inicial para o potencial de Dune: Awakening, que quer entregar muitas horas de conteúdo, mas exige comprometimento, dedicação e paciência do jogador — algo esperado para um MMO.
Criei minha personagem (com opções simples de personalização) e, em poucos minutos, já estava pisando nas areias de Arrakis em busca de recursos para montar uma base. Há muitos sistemas e regrinhas a serem aprendidas na jogabilidade, o que leva a uma curva relativamente longa de aprendizado, mas é surpreendentemente acessível para o gênero.
Isso acontece porque o DNA de sobrevivência é muito mais forte do que o MMO em si, com grande foco no gerenciamento, mas não de forma pesada. O único requisito urgente para sobreviver, por exemplo, é evitar a desidratação do personagem, sem sistemas de comer ou dormir. Para isso, é preciso priorizar as sombras e evitar o sol, construir máquinas que purificam água e até drenar o sangue de inimigos.
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Com a desidratação como base, a exploração em Arrakis é o principal pilar da experiência. O planeta é um deserto imenso, e o jogo não tenta fugir visualmente disso, então só abraça a ideia. As regiões são compostas por montanhas, cavernas, pedras e… bem, muita areia — o que pode transmitir uma sensação de repetitividade, que só é contornada ao desbloquear veículos ou planadores que facilitam a locomoção pelo mapa.
Uma parte interessante do mundo aberto é que existem as tempestades Coriolis, que forçam os jogadores a procurarem abrigo em poucos minutos. Elas reiniciam o mapa (ou seja, mudam toda a topografia) e, se você for pego, é morte na certa.
E, é claro, temos os Vermes de Areia, que são realmente assustadores. Ao andar pelo deserto, a tela exibe um medidor que mostra os barulhos dos passos do jogador, que podem atrair um dos gigantões para a sua direção. Confesso que perdi as contas de quantas vezes fiquei apreensiva ao repentinamente ouvir os movimentos de um verme sob a areia, enquanto coletava recursos e só cuidava da minha vida!
Alertar um dos vermes faz com que ele apareça e, acredite, é tão angustiante quanto soa. Ainda é possível escapar do ataque ao correr para “terra firme”, mas, se você for engolido, perde todos os equipamentos e trajes que está usando, sem possibilidade de recuperação. É… melhor não brincar com eles!
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Todos esses elementos fazem com que Arrakis seja um lugar obviamente hostil, mas não de forma exaustiva, sendo acessível o suficiente para atrair até quem não é muito experiente com o gênero.
Colocando a mão na caixa
Combate, naturalmente, também é uma parte importante de Dune: Awakening e se equilibra entre golpes corpo a corpo e habilidades especiais, que são responsáveis por dar uma mexida na dinâmica dos confrontos. Elas são desbloqueadas em quatro árvores de habilidades, que são divididas em Swordmaster (a inicial), Bene Gesserit (que possibilita o uso da Voz), Mentat (técnicas mais estratégicas e analistas) e Trooper (longo alcance).
Um elemento curiosamente divertido, no entanto, é o escudo, que funciona de uma maneira inventiva que conversa com o universo de Duna: cada escudo é desativado de um jeito específico, seja por um tipo de arma ou faca, então não são tão fáceis de serem desligados.
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Por fim, a jogabilidade não poderia deixar a especiaria, a substância que é responsável por todo o caos envolvendo dinastias em Arrakis, de lado.
É possível encontrar e extrair especiaria em Awakening, o que afeta cada jogador de formas diferentes, seja aguçando os sentidos, dando melhorias que diminuem o tempo de uso de habilidades, ou até oferecendo informações dos inimigos (como barra de vida ou quantidade de munição). Só que, para isso acontecer, é preciso consumi-la em doses altas e frequentes, o que não é uma tarefa tão fácil e exige uma exploração pesada do planeta.
Além disso, também é preciso tomar cuidado: o consumo “errado” também traz efeitos colaterais, limitando o potencial do personagem. Infelizmente, testei apenas o início do MMO, o que limitou meu acesso à especiaria, que tem um papel mais forte ao progredir no jogo, segundo os desenvolvedores.
Um destino no deserto
Confesso que, assim que foi anunciado, Dune: Awakening instigou a minha curiosidade como fã da saga de Frank Herbert, mas deixou dúvidas se não tentaria apenas aproveitar o sucesso dos filmes do cineasta Denis Villeneuve.
Visitar a sede do Funcom provou justamente o contrário. A ideia do projeto nasceu antes mesmo do retorno da franquia aos cinemas, e é nítida a dedicação dos desenvolvedores para que o jogo faça jus a esse universo rico e complexo. As mecânicas exploram conceitos que vieram diretamente dos livros, apesar de tropeços e falta de polimento em alguns aspectos, como repetitividade no visual, falta de variedade no mapa e muitos elementos estarem bloqueados até um nível mais elevado.
Mas Awakening se esforça em tornar a sobrevivência em Arrakis em algo instigante e desafiador, além de ser intencionalmente acessível para atrair o máximo possível de jogadores, e parece ter bastante potencial para isso com o lançamento. Só nos resta esperar para ver se realmente não tem jeito e é o Lisan Al-Gaib!
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Dune: Awakening será lançado para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC em algum momento de 2025.
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