Demon’s Souls foi originalmente lançado em 2009 para PlayStation 3, sendo responsável pelo surgimento do gênero Soulslike, caracterizado por uma dificuldade desafiadora, mecânicas punitivas e sistema de morte permanente. Onze anos depois, o clássico da From Software retorna repaginado pelas mãos da equipe de outro estúdio, já familiarizado em “retocar” títulos mais antigos.
A Bluepoint Games ganhou um espaço no mundão dos games com o remake de Shadow of the Colossus, mas é com Demon’s Souls que o estúdio prova que tem capacidade em recriar clássicos da indústria para uma geração mais atual.
Desenvolver um remake de um jogo com mecânicas de outra geração não é uma tarefa simples. É como a tradução de um texto: se ela for literal e não passar por um tratamento de adaptação de uma linguagem para outra, o resultado não fica lá muito bom. Para a sorte dos fãs, a Bluepoint entende perfeitamente essa ideia e conseguiu entregar uma bela porta de entrada nostálgica para uma nova geração no PlayStation 5.
O retorno para Boletaria
A primeira (e mais óbvia) mudança é o visual geral do jogo. Só que ela começa pela interface, que foi remodelada para ter um aspecto mais enxuto, com ícones menores e a contagem de almas no topo da tela para uma disposição mais limpa.
A mesma ideia acontece no inventário que ganha um ar mais moderno e convidativo com um design mais organizado e simplista, em que tudo é separado e indicado por legendas claras — ficando mais fácil de ler e, consequentemente, entender as características de cada item.

Todo e qualquer cenário é fácil de ser reconhecido, mas cada canto passou por um tratamento intenso. Os pisos ganharam texturas completamente novas, os inimigos foram remodelados, as animações foram atualizadas para uma fluidez maior e há um ótimo uso do contraste entre luz e sombra que dá mais vida aos ambientes.
Tudo isso fez com que o Nexus e as áreas das cinco Arquipedras — os mundos exploráveis — ficassem com tons únicos e mais particularidades. Enquanto há locais mais claros e limpos, outros são marcados por cavernas e pântanos gosmentos. Há muita disparidade entre cada um deles graças à paleta de cores mais ampla.
O mesmo pode ser dito sobre os chefões e as ambientações das lutas. Cada um deles (que são 17, ao todo) foi repaginado de modo que a maioria acabou adotando um visual mais intimidador e único. O melhor exemplo é o Rei da Tempestade, cuja luta ganhou um ar mais assustador, graças ao tom escuro, trovoadas constantes e chuva intensa que foram adicionadas.

Mas há exceções. Foram tomadas algumas mudanças criativas em alguns chefes, que não remeteram à essência do original. Esse é o caso do Falso Ídolo, que não passa mais um tom macabro e misterioso, dando lugar a um inimigo com pouca personalidade. A luta contra o Devorador é outra com problemas, mas pelo motivo contrário: por não ter passado por um refinamento maior. Por isso, ela conta com um ambiente datado e bugs que prejudicam o jogador.
De acordo com os desenvolvedores, a dificuldade do jogo e a inteligência artificial dos inimigos não foram alteradas — no entanto, alguns trechos dão a impressão de estarem mais fáceis, seja por conta das mecânicas atualizadas ou até mesmo bugs.

A jogabilidade em si não teve grandes alterações, mantendo a clássica “limitação” de comandos que dão aquele toque desafiador — algo recorrente em jogos da From Software. A principal melhoria fica para a movimentação, que está mais fluída.
Mas o destaque fica para a adição de itens inéditos, como armas e anéis, e recursos que facilitam a vida do jogador, como o envio automático de itens para o armazenamento quando o inventário fica lotado.
Uma novidade divertida é o Modo Foto, que rende bons memes graças às poses disponíveis para o personagem. Esse modo pode até ser usado como “trapaça” pelos jogadores mais espertinhos, já que força uma pausa no jogo, até mesmo no meio das lutas contra chefões.

Há ainda opções disponíveis para os jogadores que quiserem fazer experimentos com a taxa de quadros. O primeiro, o modo cinemático, roda o remake em 4K nativo e 30 fps constantes, enquanto o modo performance alcança 4K dinâmico e 60 fps.
As telas de carregamento são praticamente inexistentes, quando se trata de acessar o jogo pelo menu principal do PlayStation 5 e ao ser morto por um inimigo e levado ao Nexus, a "base segura" do jogador. Mas há um carregamento de 5 a 7 segundos para acessar o mundo de uma Arquipedra.
Por fim, o remake faz pouco proveito dos recursos do controle DualSense. Há poucos barulhos e vibrações ao usar a espada, rolar com uma armadura pesada e lançar feitiços, mas os feedbacks poderiam ser mais frequentes e diferenciados. A maioria apenas acaba passando despercebida e não incrementa a experiência tanto quanto poderia.
A modernização de um clássico
No fim, o remake conseguiu “traduzir” os principais elementos do original para uma experiência moderna e atual, funcionando tanto para os jogadores que querem revisitar esse universo, quanto para aqueles que pretendem conhecer pela primeira vez — e, talvez, até servindo como uma boa porta de entrada para o Soulsborne.
Há alguns tropeços aqui e ali, mas a somatória acaba com (muito) mais pontos positivos do que negativos. A Bluepoint Games tratou Demon’s Souls com o respeito que um clássico merece e provou, mais uma vez, como é possível trazer títulos passados para uma nova geração sem que eles percam a essência.
Demon's Souls está disponível para PlayStation 5. Este review foi feito com uma cópia do jogo fornecida pela Sony.