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Por que sair da Marvel ajudou a carreira de Dave Bautista
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Por que sair da Marvel ajudou a carreira de Dave Bautista

Mesmo com fama de “reclamão”, ator demonstra estar certo em olhar além dos filmes de herói para criar uma carreira

Arthur Eloi
Arthur Eloi
16.fev.23 às 12h00
Atualizado há cerca de 2 anos
Por que sair da Marvel ajudou a carreira de Dave Bautista
Vingadores: Ultimato/Marvel Studios/Divulgação

Para a maioria das pessoas, pensar em Dave Bautista trará à mente uma dessas duas imagens: seu tempo nos ringues da WWE, quando era chamado apenas de Batista; ou então a performance cômica como Drax, o guerreiro sem noção de Guardiões da Galáxia. Nos últimos anos, o ator está realmente lutando contra ambas essas percepções - e isso é uma coisa boa.

Nos últimos anos, Bautista ganhou uma reputação de “reclamão” por falar abertamente sobre seu trabalho na Marvel Studios. Os atritos começaram por volta de 2018, quando o ator criticou publicamente a demissão de James Gunn por conta de tweets polêmicos do diretor. Mas nem a volta do cineasta freou as cutucadas ao estúdio de Kevin Feige.

De lá para cá, Bautista começou a demonstrar certo cansaço pelo papel de Drax. O ator anunciou que o vindouro Guardiões da Galáxia Vol. 3 será sua última aparição como o personagem, e também deu várias declarações dizendo que não sentirá falta.

Sou muito grato pelo Drax. Eu adoro ele, mas é um alívio encerrar o papel”, falou em entrevista à GQ no início de 2023. “Nem tudo foi agradável. O processo de maquiagem acabou comigo. Não sei se quero que o Drax seja meu legado. É uma atuação boba, quero fazer papéis mais dramáticos”.

Desde que Martin Scorsese criticou as produções da Marvel, o fã de filmes de herói tem sido bastante sensível com críticas que inferiorizam o gênero, mas é impossível negar que o ator tem um ponto. Drax é bastante divertido, mas não há espaço para crescer além de uma piada - especialmente quando essa evolução não é prioridade dentro da fórmula do MCU.

Curta participação em Blade Runner 2049 deu espaço para Dave Bautista mostrar talento além da comédia e ação [Créditos: Divulgação]
Fora das telonas da Marvel, Dave Bautista está testando suas habilidades de formas que os filmes do estúdio nunca lhe permitiriam fazer. O ator é sagaz em se aliar com diretores autorais, como Dennis Villeneuve, Zack Snyder ou M. Night Shyamalan, para citar alguns. E, além disso, as obras costumam testar habilidades diferentes.

Army of the Dead: Invasão à Las Vegas lhe colocou no posto de um típico herói de ação em um apocalipse zumbi. Glass Onion explorou seu carisma ao viver um brutamontes descolado. Mas os papéis dramáticos são os mais surpreendentes.

Uma curta cena de Blade Runner 2049, em que vive um androide em negação de ter chegado ao fim da vida, traz inesperadas doses de sensibilidade. Isso é ainda mais evidenciado em Batem à Porta, em que vive um professor infantil que carrega o fardo de avisar uma família sobre o fim do mundo, tentando manter a compostura e educação em meio ao caos e desespero.

Dave Bautista surpreende em Batem à Porta com performance sensível e complexa [Créditos: Divulgação]
Bautista foi bastante elogiado por essas duas performances, e com razão: são completamente diferentes do papel que lhe deu os holofotes. Segundo o ator, seu objetivo profissional não é se limitar aos blockbusters. Isso não significa apenas aceitar projetos cult ou dramáticos, visto que Bautista já demonstrou interesse em estrelar a adaptação de Gears of War na Netflix, e também de interpretar Lex Luthor na DC, mas sim ser versátil o bastante para ter uma boa reputação dentro da indústria.

O próprio ator explicou isso… em termos um pouco mais agressivos ao se comparar com Dwayne ‘The Rock’ Johnson, ex-lutador da WWE que se tornou um dos principais nomes dos blockbusters em Hollywood.

Eu nunca quis ser o próximo Rock. Só quero ser um bom ator. Um ator respeitado. Honestamente, não dou a mínima [sobre ser uma estrela de cinema]. Não vivo uma grande vida luxuosa. 

Eu moro aqui em Tampa. Não me importo com os holofotes, não me importo com a fama. Só quero ser um ator melhor. Quero respeito dos meus colegas. Não preciso de elogios – realmente não preciso, cara. É sobre a experiência, sobre saber que consegui algo.

O plano de carreira da Marvel

Dave Bautista não foi o único a reclamar: Elizabeth Olsen e Anthony Mackie também já falaram sobre o efeito da Marvel em suas carreiras [Créditos: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura/Divulgação]
Mas será que as reclamações de Bautista são válidas? Como o Universo Cinematográfico da Marvel é colossal, isso pelo menos deve servir para alavancar seus participantes para outras oportunidades, não? Pelas declarações de vários envolvidos, não é o que parece.

Por mais que a Marvel Studios seja sim a maior instituição do cinema moderno, é curioso o quão limitante é seu efeito na carreira de seus atores. Dave Bautista dificilmente foi o único a perceber e reclamar disso. Elizabeth Olsen, a Feiticeira Escarlate, e Anthony Mackie, o Falcão, já comentaram sobre isso no passado, em tons muito menos confrontacionais que o intérprete de Drax.

No caso de Olsen, a atriz revelou ao NY Times em 2022 que teve de passar projetos que se alinhavam mais com seus objetivos profissionais - ou seja, mais artísticos e desafiadores - por conta da agenda apertada que é fruto do recheado calendário de lançamentos da Marvel.

Perdi a possibilidade de realizar certos trabalhos que acredito serem mais alinhados com as coisas que gosto de assistir como público, sendo bem honesta. Comecei a ficar frustrada. 

Por um lado, tinha segurança trabalhista, mas estava perdendo papéis que se conectam mais comigo. E quando mais me distanciei disso, me consideravam menos para essas oportunidades.

Anos antes de Tarantino, Anthony Mackie já afirmava que não existem mais astros de cinema, apenas franquias e personagens famosos [Créditos: Falcão e o Soldado Invernal/Divulgação]
Anthony Mackie, por sua vez, falou sobre isso em 2017. Durante uma aparição em uma convenção em Londres, Reino Unido, o intérprete de Falcão (e atual Capitão América) comentou como o apego com franquias e personagens mudou a indústria.

Não existem mais astros do cinema. Anthony Mackie não é um astro de cinema, e sim o Falcão que é. Isso é estranho, pois antes tínhamos Tom Cruise, Will Smith, Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger. Quando você ia ao cinema, era para um filme desses atores. Agora você vai assistir aos X-Men.

A evolução dos filmes de herói trouxe a morte do astro de cinema. E esse é o medo agora, já que só se faz produções para adolescentes de 16 anos e para o mercado chinês. Pense em alguns dos seus filmes favoritos do passado, eles nem seriam feitos hoje em dia.

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Curiosamente, em 2022, essa mesma declaração surgiu novamente pela boca de Quentin Tarantino. O diretor de clássicos como Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Bastardos Inglórios, entre muitos outros, afirmou:

Parte do processo de ‘Marvelização’ de Hollywood é que todos esses atores se tornam famosos interpretando personagens, mas eles não são astros de cinema. O Capitão América e o Thor são os astros. Não sou o primeiro a falar disso, já foi dito um zilhão de vezes, mas a realidade é que os personagens de franquias que se tornam estrelas.

Mas o que Tarantino tem a ver com o caso de Dave Bautista? Tudo. O ator de Drax assumiu os holofotes e ganhou reputação de “reclamar de barriga cheia”, mas os fãs precisam perceber que não só ele tem o direito disso: ele está certo.

Na era em que qualquer filme que não seja de uma propriedade intelectual conhecida sofre para conseguir chegar às telonas, entrar para a Marvel - ou para Star Wars, DC e qualquer outra franquia recorrente - não é exatamente um grande passo para a carreira de seus intérpretes.

Essa noção, inclusive, já foi falada com todas as palavras por Leonardo DiCaprio. Ao aconselhar o jovem Timothée Chalamet, o ator - que é um dos maiores do cinema moderno - deu apenas duas pílulas de sabedoria que coletou ao longo de décadas nessa indústria: “Nada de drogas pesadas e nada de filmes de heróis”.

Por conta da atenção que recebe, a Marvel Studios frequentemente é alvo de críticas, mas é preciso compreender que não são reclamações gratuitas. O estúdio domina o cinema atual, mas é uma máquina de dinheiro que não se importa de moer sua mão de obra e ofuscar o futuro de seus envolvidos. Se Dave Bautista quer crescer como ator, assim como qualquer outro nome promissor atualmente associado com as obras de herói, será preciso deixar as capas e universos expandidos de lado.

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