Quinto episódio de What If…? traz zumbis ao universo Marvel com violência e esperança

Desde que o Marvel Studios começou a revelar maiores detalhes sobre a animação What If…?, os fãs ficaram automaticamente empolgados com um elemento em especial: os zumbis. O conceito de transformar os grandes heróis da editora em mortos-vivos já tinha sido abordado na HQ Zumbis Marvel, escrita por ninguém menos do que Robert Kirkman, o criador de The Walking Dead.

Mas como uma história tão sangrenta poderia funcionar em um universo cinematográfico que nunca trouxe histórias para maiores? A resposta foi dada no episódio que chegou ao Disney+ nesta quarta-feira (8). Se inspirando livremente no quadrinho original e encaixando o conceito em um período muito importante para o MCU, o episódio fez bonito e ainda deixou portas abertas para o futuro.

[Atenção! A partir daqui, spoilers do quinto episódio de What If…?]

O quinto episódio de What If…? começa de um ponto bastante conhecido pelos fãs da Marvel: após lutar contra Thanos e perder, o Hulk cai na Terra com a missão de avisar aos colegas heróis da ameaça que está por vir. Porém, ao contrário de Vingadores: Guerra Infinita, o herói encontra um planeta desolado por uma praga que transformou quase toda a humanidade em zumbis.

A parte mais aterrorizante é que essa estatística inclui também seus colegas superpoderosos. Pouco antes de ser atacado por Fauce de Ébano e Estrela Negra, dois dos aliados do Titã roxo, Bruce Banner é salvo por uma versão zumbificada do Doutor Estranho, Wong e Homem de Ferro. Depois de matar e se alimentar dos alienígenas, o trio avança contra Banner, que não consegue virar o Hulk e é salvo primeiro pela capa de Strange e depois pelo Homem-Aranha.

Com o resgate, o episódio faz uma espécie de interlúdio para explicar a origem para essa catástrofe e retorna para um outro filme do MCU. O Vigia revela que o apocalipse zumbi deste universo começou durante os eventos de Homem-Formiga e a Vespa. Aqui, Hank Pym chega ao Reino Quântico e encontra uma versão zumbificada de sua esposa Janet Van Dyne, infectada por um vírus do local. Ao retornar, a dupla dá início a uma infecção que se alastra pelo mundo — especialmente com a queda dos Vingadores, que mantém os próprios poderes mesmo como mortos-vivos.

De volta ao presente, Bruce Banner se junta ao grupo de heróis sobreviventes formados por Homem-Aranha, Soldado Invernal, Vespa, Okoye, Sharon Carter, Happy Hogan e Kurt — aquele amigo do Homem-Formiga interpretado por David Dastmalchian. A missão do grupo é chegar a uma antiga base da S.H.I.E.L.D., onde um outro grupo de sobreviventes afirma ter encontrado a cura para o vírus.

Com isso, o episódio se desenvolve pegando emprestado diversos elementos de filmes de zumbis. What If…? é sagaz em injetar a atmosfera de paranoia dos clássicos da década de 1960 e 1970 e o humor sombrio de sucessos recentes como Zumbilândia à fórmula de super-heróis. Nesse ponto até a cinefilia tagarela de Peter Parker presta homenagem a franquias como Pânico, que constroem a própria identidade ao brincar com clichês do cinema de horror.

A viagem até a base abandonada da S.H.I.E.L.D. é cheia de perigos e dá espaço para que todos os membros dessa equipe inusitada brilhem. Assim como as outras séries da Marvel no Disney+, What If…? destaca personagens que não puderam brilhar tanto nos filmes de uma forma carismática e empolgante. Um triunfo não apenas dos anos de trabalho desses atores nos live-actions, mas do próprio roteiro da animação, que une personagens com pouco em comum com muita facilidade e carisma.

Durante essa etapa acontecem os momentos de maior ação, onde vemos a aparição da versão zumbificada de outros heróis, como Capitão América, Falcão e Gavião Arqueiro. E claro que com oponentes tão fortes, membros da equipe vão ficando pra trás. É o caso de Sharon Carter e Happy Hogan, além da Vespa, que foi ferida durante um dos combates e provavelmente se tornaria um zumbi. Porém, ao invés de deixar o destino decidir, ela cresce e usa o tamanho para levar o restante da equipe até a base para encontrar a cura.

Esses momentos de heroísmo e sacrifício mostram como a duração dos episódios prejudica What If…?, já que não há tempo para que esses eventos sejam absorvidos pelos heróis e pelo público. Segundos após ver a Vespa tombar, o grupo chega à tal base e dá início a inúmeras reviravoltas e descobertas.

Para começar, quem pediu ajuda foi o Visão, que graças à natureza andróide não desperta a fome dos zumbis. Além disso, ele consegue afastar os mortos vivos com a Joia da Mente, que ainda pode servir para curar infectados. É o caso de Scott Lang, o Homem-Formiga, que é trazido de volta à vida — mesmo que apenas como uma cabeça tagarela.

Por outro lado, essa chegada também revela verdades terríveis. O chamado que o Visão espalhou não era exatamente para trabalhar na cura, mas sim para alimentar uma Feiticeira Escarlate zumbificada. Um dos heróis atraídos pelo sintozóide foi o Pantera Negra, cuja perna já havia sido devorada por Wanda.

A partir daí começa uma correria para garantir a sobrevivência da humanidade. Enquanto Wanda desperta e começa a devorar vários dos heróis, um pequeno grupo consegue fugir para Wakanda portando a Jóia da Mente. O plano é utilizar a tecnologia do local para amplificar os poderes do artefato para curar os infectados. E assim o episódio se encerra em um misto de esperança — com Peter Parker, T’Challa e a cabeça de Scott Lang em busca da cura — e desespero, já que tudo isso está acontecendo enquanto Thanos ainda busca pelas Joias do Infinito para concretizar os planos de acabar com metade da vida no universo.

Ao final, é justo dizer que o “episódio dos zumbis” honrou a expectativa criada. Além de propor soluções criativas para encaixar a violência e brutalidade da HQ original em um produto para a família, o episódio vai além e adiciona toda uma camada de esperança e otimismo inexistente no material original. Além de fazer mais sentido com o MCU, esse direcionamento abre as portas para uma continuação que prende justamente pela esperança de ver os heróis superando as adversidades para vencer no final.

Esse capítulo entra também no rol das melhores “realidades alternativas” apresentadas aqui, justamente por ir bem longe dos filmes. Mais do que simplesmente refazer cenas e diálogos, aqui há uma mistura de elementos que faz jus ao projeto. Isso tudo enquanto escancara ainda mais as portas do universo Marvel para o terror, que começou no episódio do Doutor Estranho Supremo e promete voltar no futuro.