A série do Loki chegou ao seu terceiro episódio nesta quarta-feira (23). Marcando a metade da temporada, “Lamentis” acompanhou os passos do deus da trapaça após o surpreendente desfecho do segundo capítulo. Subvertendo expectativas, a nova etapa da jornada se entregou à comédia de erros, gênero de histórias em que a jornada é conduzida através de situações desastrosa, em um episódio cheio de ação.
[Atenção! A partir de agora, spoilers do terceiro episódio de Loki]
Os minutos iniciais do episódio mostram como a “variante”, que na verdade se chama Sylvie, extraiu informações sobre o funcionamento da Autoridade de Variação Temporal da Caçadora C-20. Pouco após criar uma ilusão, que será fundamental para o andamento da temporada, a personagem retorna ao momento presente e seu paradeiro após o encontro com Loki é revelado.
Curiosamente, ao invés de fugir para longe, ela retorna diretamente para a sede da AVT. Aproveitando o caos que instaurou na linha do tempo, ela tenta um encontro com os próprios Guardiões do Tempo. Após lutas empolgantes e bem coreografadas contra alguns dos agentes, ela só não atinge seu objetivo pois Loki aparece, não para salvar o dia e fazer a coisa certa, mas para sugerir uma parceria — e assim garantir uma fuga das garras da AVT.
A partir daí, as coisas começam a dar errado para a dupla. Nenhum dos dois chega aos Guardiões, sendo transportados para Lamentis - 1, a lua que dá nome ao episódio. O destino foi uma infeliz coincidência, pois só estava programado no “temp pad” de Sylvie por se tratar de mais um dos apocalipses em que ela poderia se abrigar.

Acontece que Lamentis é considerada a pior das catástrofes por Sylvie, que conta que este é um evento em que ninguém sobrevive. Sem carga para um novo teleporte, a dupla é forçada a trabalhar em equipe, porém, sendo dois Lokis, é claro que a natureza traiçoeira cria ruídos nessa relação. Ao forçar essa parceria pela sobrevivência, a série promove um dos pontos altos da temporada graças à soma de um texto afiado e de atuações cativantes.
A dinâmica entre Loki e Sylvie funciona tanto pela novidade, já que é raro o deus da trapaça interagir com alguém que devolve seu desdém na mesma moeda, quanto pela natureza imprevisível dos dois. E além de dar a Tom Hiddleston novamente a chance de brilhar, estes momentos mostram que Sophia Di Martino está à altura do desafio de dividir espaço com uma figura amada pelo público há uma década.
Nesta interação, a série volta à indagação que Mobius fez logo no episódio de estreia: “o que faz de Loki um Loki?”. Enquanto a versão de Hiddleston se esquiva, a de Di Martino faz questão de dizer que a resposta não lhe interessa, já que abandonou a alcunha de Loki há tempos. A preferência da personagem pelo nome Sylvie é um indicativo de que ela pode ser uma Lady Loki destinada a se tornar Encantor, personagem que tem o mesmo nome nas HQs.
De volta à pergunta, o episódio entrega uma resposta sincera mais adiante, quando a dupla invade o trem que lhe pode garantir a salvação. Rumo à balsa que pode carregar o temp pad e levá-los para fora dessa lua condenada, os dois tem um momento onde as camadas de cinismo e arrogância são deixadas de lado e descobrimos o que une e separa esses Lokis.

É surpreendente descobrir detalhes sobre a vida Sylvie, que por um lado sabia que era uma asgardiana adotada, mas por outro não se lembra de conviver com a mãe Frigga — figura importante para tornar o “nosso” Loki quem ele é. Nessa jogada, a série entrega algumas das respostas sobre quem é essa figura, mas deixa lacunas que certamente vão ser exploradas e dar o tom da jornada da personagem.
Em comum, eles têm a solidão de nunca encontrar um amor verdadeiro, sentimento tão “desconhecido” que chega a ser descrito como “ódio” e até uma “adaga imaginária”. Vale destacar que neste momento, a Marvel finalmente confirma que Loki, um dos seus grandes personagens, é LGBTQIA+. E é especialmente satisfatório como o faz de forma sem alarde, ao contrário das vezes em que prometeu representatividade e não cumpriu.
Após mais uma das pegadinhas do destino, a dupla é expulsa do trem e com isso o temp-pad é destruído. Em uma saída desesperada, eles decidem tentar roubar a barca e deixar o planeta, o que culmina em um clímax apocalíptico. Em um belíssimo plano sequência, o episódio acelera seu ritmo ao combinar a urgência da situação com a exploração de um labirinto neon.
Seu final desolador é a cereja do bolo, especialmente por colocar seres tão orgulhosos de seus enormes feitos e poderes confrontando a própria mortalidade. Se Loki já ficou impactado quando viu seu pescoço sendo quebrado por Thanos, encarar a própria morte de frente tem um efeito ainda maior e faz com que a série pise de vez no acelerador rumo à sua metade final.

Vale notar que desde o início, a série de Loki planta informações de forma sutil para usá-las como ponto-chave mais adiante. Em “Lamentis”, a principal semente plantada está na descoberta de que os agentes da AVT são variantes, e não criações dos Guardiões do Tempo. Além de ser uma grande brecha no esquema da organização, esse fato indica que nada do que sabemos sobre ela é verdade.
É claro que o episódio deixou novas lacunas para preencher, em especial em relação à Sylvie. Apesar de revelar que ela passou a vida toda fugindo da AVT e está executando um plano planejado há anos, sua verdadeira motivação e objetivos ainda não ficaram claros e certamente serão importantes para os desdobramentos dessa jornada.
Os episódios de Loki estão saindo semanalmente às quartas no Disney+.