[Aviso: spoilers abaixo!]
“Sem Mindinho, Ramsay e o resto, eu teria continuado um passarinho a vida toda”, disse Sansa (Sophie Turner) a Sandor Clegane (Rory McCann). O reconhecimento por parte da garota de que tudo o que viveu e enfrentou até aqui acabou moldando a pessoa que é hoje ecoa frases similares ditas por Bran (Isaac Hempstead Wright) a Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e Theon (Alfie Allen) nos dois episódios anteriores — e que parecem ser a tônica da última temporada de Game of Thrones.
O tema foi mais uma vez explorado em The Last of the Starks, principalmente no que se refere a Arya (Maisie Williams). O conjunto de habilidades que adquiriu em sua convivência com Syrio Forel (Miltos Yerolemou), o Cão, a Irmandade Sem Bandeiras e Jaqen H'ghar (Tom Wlaschiha) foi o que possibilitou que ela matasse o Rei da Noite; ao mesmo tempo, reforçou a convicção de que não é uma lady, fazendo-a rejeitar o “final feliz” — na forma da proposta do agora lorde Gendry (Joe Dempsie) — e retomar sua missão de vingança. Por sua vez, Sansa fez valer seu período de aprendizado de maquinações políticas com Cersei (Lena Headey) e lorde Baelish (Aidan Gillen) ao estrategicamente revelar a Tyrion (Peter Dinklage) a verdade sobre a identidade de Jon (Kit Harington).
Também Jaime foi confrontado por sua própria trajetória. O relacionamento com o irmão e, em especial, com Brienne (Gwendoline Christie) podem tê-lo ajudado a ser colocar no caminho da redenção, porém, ainda lhe falta acertar as contas com o passado — algo que ele parece ter percebido ao saber da vitória de Cersei em seu ataque-surpresa empreendido pela frota de Euron (Pilou Asbæk).
Por sinal, o novo revés sofrido pelas forças de Daenerys (Emilia Clarke), além de trazer baixas significativas, reafirmou sua inferioridade em termos estratégicos, conforme indicaram as sucessivas derrotas na sétima temporada. O roteiro dos showrunners David Benioff e D.B. Weiss retomou ainda outra ideia sugerida anteriormente: a de que, em algum momento, a Nascida da Tormenta pode enlouquecer, assim como seu pai.
É possível que esse temor se concretize — e, a julgar pela expressão da mãe de dragões nas últimas cenas, a morte de Missandei (Nathalie Emmanuel) pode ter sido a gota d’água. Do mesmo modo, um confronto entre ela e Jon parece tão inevitável quanto era o romance dos dois. Some-se isso tudo às declarações de George R. R. Martin de que as Crônicas de Gelo e Fogo teriam um final agridoce e conclusão que emerge é que um deles não sobreviverá. Considerando-se os respectivos arcos dramáticos, Dany é a que mais teria a crescer com a eventual morte do amado.
Por outro lado, é interessante observar que a abertura do episódio não apenas serviu como despedida aos que tombaram na batalha de Winterfell como também aludiu a uma importante profecia que existe nos livros e que envolve justamente a khaleesi. Em A Fúria dos Reis, quando entra na Casa dos Imortais, ela tem uma série de visões, que inclui a advertência de que terá de acender três fogueiras (uma pela vida, uma pela morte, uma pelo amor), ter três montarias (uma para o sexo, uma para o terror, uma para o amor) e sofrer três traições (uma por sangue, uma por ouro, uma por amor).
A pira funerária de sor Jorah (Iain Glen) pode representar a segunda fogueira — a primeira teria sido a de khal Drogo (Jason Momoa), que fez nascer seus três “filhos”. Com isso, faltariam se cumprir, teoricamente, apenas as três partes finais, referentes ao amor, já que Dany também teve duas montarias (o cavalo que recebe do khal e o dragão Drogon) e sofreu duas traições (da feiticeira Mirri Maz Duur e de Jorah).
Sublinhe-se “teoricamente”, pois na série todas essas informações foram deixadas de lado. Em Valar Morghulis (S02E10), episódio que trata dos eventos em Qarth e na Casa dos Imortais, o que Daenerys vê é bem diferente: a Fortaleza Vermelha em ruínas, o Trono de Ferro coberto de neve e, mais adiante, seu falecido marido. Se há, de fato, algum caráter profético nessas imagens, talvez o destino de Daenerys em Porto Real seja uma viagem sem volta às Terras da Noite, o pós-vida dos dothraki, onde Drogo a espera.
Seja como for, enquanto o futuro de alguns permanece em aberto, o de outros parece definido, Com o fim da ameaça dos Outros, alguns personagens perderam suas funções. Embora seja provável que ainda os vejamos antes da conclusão, é difícil imaginar que Samwell (John Bradley) e Gilly (Hannah Murray) ainda tenham papel ativo na trama. Infelizmente, o mesmo pode ser dito dos injustiçados Tormund (Kristofer Hivju) e Fantasma.