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Fobia – St. Dinfna Hotel | Review
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Fobia – St. Dinfna Hotel | Review

Um survival horror brasileiro, que desafia a percepção do jogador com exploração bem pensada e quebra-cabeças inteligentes

Tayná Garcia
Tayná Garcia
28.jun.22 às 12h06
Atualizado há mais de 2 anos
Fobia – St. Dinfna Hotel | Review

Fobia – St. Dinfna Hotel é um jogo de terror ao estilo survival horror que, de forma simples e inteligente, desafia a percepção e os instintos do jogador. Além de ser mais um capítulo que fortalece a indústria de games no Brasil.

Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Pulsatrix, o título é ambientado em um hotel supostamente assombrado em Santa Catarina, que foi palco de tragédias e desaparecimentos no passado.

A história acompanha Roberto, um jornalista que decide se hospedar no local para investigar seus mistérios. Mas, como era de se esperar, a investigação não sai como ele gostaria e é o pontapé para mais acontecimentos inexplicáveis em St. Dinfna.

Ao princípio do livre arbítrio

Com uma forte inspiração na franquia Resident Evil, Fobia – St. Dinfna Hotel é focado em terror psicológico e não tem intenção de ser assustador o tempo inteiro. Em vez disso, cria uma atmosfera tensa, que estabelece o tom misterioso da trama.

A maior parte do jogo se passa dentro de uma versão destruída e sobrenatural do hotel, o que significa que há muitos andares, salas e áreas para investigar. E, é claro, escadas e elevadores nem sempre estarão disponíveis, levando a caminhos alternativos. Assim, tanto a atmosfera quanto a ambientação intensificam os principais elementos do game, que são a exploração e os quebra-cabeças.

fobia st dinfna hotel review Há quartos no hotel que foram tomados por fungos de mutações, o que resulta em locais... pouco convidativos

Fobia não subestima quem está com as mãos no controle. A intenção, na verdade, é justamente desafiar o jogador, que precisa ser curioso e se virar sozinho. A exploração é livre e não há indicadores de objetivo, então o jeito é ficar atento para entender o que precisa ser feito e encontrar pistas pelos cenários.

Muito acaba dependendo da sua própria percepção e memória. Viu uma sequência de livros com números nos títulos na prateleira que parece suspeita? Então, quem sabe não é uma dica para desvendar a senha de um cofre por perto? Cabe a você fazer essa distinção (e ainda lembrar!) do que é ou não uma pista útil. Desta maneira, é possível sentir na pele o que é ficar perdido em um macabro e misterioso hotel – assim como Roberto está se sentindo, o que gera uma sensação forte de imersão.

A trilha sonora também ajuda a intensificar o tom de mistério e tensão da trama, optando pelo silêncio durante a exploração. Ao andar pelos corredores sombrios de St. Dinfna Hotel, é possível apenas ouvir sons ambientes, como crepitar do fogo, passos distantes e até o barulho dos fungos nojentos deixados pelas criaturas mutantes. As músicas só aparecem em momentos de ação, para estabelecer um tom mais agitado, e em locais com opção para salvar e baús de gerenciamentos de itens.

fobia st dinfna hotel review A exploração vai até para dentro do computador! Há momentos em que é preciso manusear arquivos e documentos em um desktop para descobrir informações e pistas

Os quebra-cabeças lidam com lógica e gerenciamento de itens e são intuitivos, sendo complicados na medida certa. Eles têm aquela intenção de travar por alguns minutos, mas não ao ponto de esgotar a paciência. Perdi as contas de quantas vezes soltei um “a-há!” ao desvendar um enigma que me colocou para pensar. Além disso, tive que recorrer a anotações em papéis para não esquecer informações, números, códigos e afins que encontrava pelo cenário, ficando imersa (e até levemente obcecada) na solução dos problemas.

A exploração dos cenários também é essencial para encontrar mais detalhes sobre os mistérios da história, que é o maior e mais difícil quebra-cabeça de Fobia. Há bilhetes, jornais rasgados e fitas K7 que oferecem informações valiosas sobre a trama, que conta com arcos e até linhas temporais diferentes. Tudo ainda é contado sob pontos de vista diferentes, uma vez que Roberto não é o único personagem jogável.

A narrativa se desenvolve de forma lenta, em que avançar significa a aparição de mais perguntas ao invés de respostas por um bom tempo. Assim, é fácil ficar instigado e criando teorias do início ao fim.

A trama lidar com diferentes linhas temporais ainda reflete na jogabilidade com uma mecânica importante: a câmera fotográfica, que serve para “conectar os mundos”. Roberto está em 2010 e, ao olhar pela lente, consegue ver como o hotel era em 1960. O objeto é usado para obter pistas de puzzles, itens e até acessar locais do passado que são inexistentes no presente. Por exemplo, uma parede que existe no tempo atual pode desaparecer ao abrir a câmera, gerando uma nova passagem.

fobia st dinfna hotel review Marcas de mãos no cenário significam que há algo escondido ali em 1960, então é hora de ligar a câmera

Fobia também conta com sequências de ação, que aparecem em poucos momentos, mas não brilham como os outros elementos do gameplay. O combate é limitado a poucas armas de fogo e o jogo não oferece opções ou maneiras de usar o cenário ao seu favor, o que faz com que todos os confrontos consistam na mesma estratégia.

Há ainda lutas contra inimigos comuns e mini chefes que deixam a desejar. Além de ter pouca variedade, algumas criaturas mutantes apresentam movimentos quase robóticos, uma inteligência artificial muito simples e até transpassam objetos como se fossem invisíveis em alguns momentos.

Tudo isso tira o peso dos momentos de ação, o que quebra o lado assustador da situação. Além disso, munição e curativos não são escassos. Então não é preciso economizar e gerenciar balas e itens de cura. Mesmo sem tomar cuidado, é extremamente difícil ficar sem suprimentos.

fobia st dinfna hotel review As "aranhas" são um dos inimigos comuns do jogo, que arrancam um bom naco de vida de Roberto

Apesar dos tropeços com as criaturas, a estética de Fobia impressiona com os cenários luxuosos e, ao mesmo tempo, decadentes. O visual é focado em cores pálidas e é possível perceber alguns detalhes cuidadosos, como a textura das pinturas e a maneira como a tinta da arma se desgasta ao decorrer da história. Mas a aparência de NPCs, no entanto, não acompanha a mesma qualidade e cuidado.

O game oferece poucas opções de acessibilidade que atuam como recursos adicionais, como assistência de mira e opção para mostrar indicadores de objetivo. Algo curioso é que o título não conta com checkpoints, então é preciso salvar manualmente em locais específicos, que não aparecem com tanta frequência. Assim, morrer significa voltar para a última vez que o jogador salvou, então as chances de perder progresso e ter que refazer boas partes é grande.

Como era de se esperar, o jogo está com texto, legendas e dublagem em português brasileiro. O elenco de vozes apresenta atuações que acompanham o tom misterioso e maluco (no melhor sentido!) da história, contando até com detalhes de sotaque.

Um “Resident Evil brasileiro”

Apesar de tropeços na ação, Fobia – St. Dinfna é especial para os fãs de terror e, principalmente, de survival horror.

Com uma campanha que dura entre 10 e 15 horas, o jogo realmente brilha por apresentar uma exploração viciante e instigante que, de forma inteligente, constrói um level design em torno de um hotel, um local com muitas possibilidades.

A liberdade que o título oferece ao jogador, sem ter a intenção de guiá-lo pela mão, explora e intensifica as melhores características do gênero. E me levou de volta àquele sentimento de perder noites e madrugadas com anotações de puzzles e mistérios de Resident Evil.

O game realmente tem uma grande inspiração na franquia da Capcom, que permeia em muitos elementos, como interface, inventário, jogabilidade, história com mutações e por aí vai. E isso pode ser tanto algo bom quanto ruim. Afinal, pode parecer que Fobia perde em personalidade, mas já prevejo muitas pessoas descrevendo o título como um “Resident Evil brasileiro”, o que não é nada mal! Pelo contrário.

Seja como for, Fobia – St. Dinfna Hotel me deixou imersa, viciada e impressionada em muitos sentidos, sendo uma fã de terror. Ele não só fortalece a indústria brasileira de jogos, mas também é uma das experiências de terror mais viciantes que tive nos últimos anos. E, confesso, já estou pronta para o check-in de novo.


Este review foi feito com uma cópia cedida pela Pulsatrix Studios.

Fobia — St. Dinfna Hotel será lançado no dia 28 de junho para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.

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