Fobia – St. Dinfna Hotel é um jogo de terror ao estilo survival horror que, de forma simples e inteligente, desafia a percepção e os instintos do jogador. Além de ser mais um capítulo que fortalece a indústria de games no Brasil.
Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Pulsatrix, o título é ambientado em um hotel supostamente assombrado em Santa Catarina, que foi palco de tragédias e desaparecimentos no passado.
A história acompanha Roberto, um jornalista que decide se hospedar no local para investigar seus mistérios. Mas, como era de se esperar, a investigação não sai como ele gostaria e é o pontapé para mais acontecimentos inexplicáveis em St. Dinfna.
Ao princípio do livre arbítrio
Com uma forte inspiração na franquia Resident Evil, Fobia – St. Dinfna Hotel é focado em terror psicológico e não tem intenção de ser assustador o tempo inteiro. Em vez disso, cria uma atmosfera tensa, que estabelece o tom misterioso da trama.
A maior parte do jogo se passa dentro de uma versão destruída e sobrenatural do hotel, o que significa que há muitos andares, salas e áreas para investigar. E, é claro, escadas e elevadores nem sempre estarão disponíveis, levando a caminhos alternativos. Assim, tanto a atmosfera quanto a ambientação intensificam os principais elementos do game, que são a exploração e os quebra-cabeças.

Fobia não subestima quem está com as mãos no controle. A intenção, na verdade, é justamente desafiar o jogador, que precisa ser curioso e se virar sozinho. A exploração é livre e não há indicadores de objetivo, então o jeito é ficar atento para entender o que precisa ser feito e encontrar pistas pelos cenários.
Muito acaba dependendo da sua própria percepção e memória. Viu uma sequência de livros com números nos títulos na prateleira que parece suspeita? Então, quem sabe não é uma dica para desvendar a senha de um cofre por perto? Cabe a você fazer essa distinção (e ainda lembrar!) do que é ou não uma pista útil. Desta maneira, é possível sentir na pele o que é ficar perdido em um macabro e misterioso hotel – assim como Roberto está se sentindo, o que gera uma sensação forte de imersão.
A trilha sonora também ajuda a intensificar o tom de mistério e tensão da trama, optando pelo silêncio durante a exploração. Ao andar pelos corredores sombrios de St. Dinfna Hotel, é possível apenas ouvir sons ambientes, como crepitar do fogo, passos distantes e até o barulho dos fungos nojentos deixados pelas criaturas mutantes. As músicas só aparecem em momentos de ação, para estabelecer um tom mais agitado, e em locais com opção para salvar e baús de gerenciamentos de itens.

Os quebra-cabeças lidam com lógica e gerenciamento de itens e são intuitivos, sendo complicados na medida certa. Eles têm aquela intenção de travar por alguns minutos, mas não ao ponto de esgotar a paciência. Perdi as contas de quantas vezes soltei um “a-há!” ao desvendar um enigma que me colocou para pensar. Além disso, tive que recorrer a anotações em papéis para não esquecer informações, números, códigos e afins que encontrava pelo cenário, ficando imersa (e até levemente obcecada) na solução dos problemas.
A exploração dos cenários também é essencial para encontrar mais detalhes sobre os mistérios da história, que é o maior e mais difícil quebra-cabeça de Fobia. Há bilhetes, jornais rasgados e fitas K7 que oferecem informações valiosas sobre a trama, que conta com arcos e até linhas temporais diferentes. Tudo ainda é contado sob pontos de vista diferentes, uma vez que Roberto não é o único personagem jogável.
A narrativa se desenvolve de forma lenta, em que avançar significa a aparição de mais perguntas ao invés de respostas por um bom tempo. Assim, é fácil ficar instigado e criando teorias do início ao fim.
A trama lidar com diferentes linhas temporais ainda reflete na jogabilidade com uma mecânica importante: a câmera fotográfica, que serve para “conectar os mundos”. Roberto está em 2010 e, ao olhar pela lente, consegue ver como o hotel era em 1960. O objeto é usado para obter pistas de puzzles, itens e até acessar locais do passado que são inexistentes no presente. Por exemplo, uma parede que existe no tempo atual pode desaparecer ao abrir a câmera, gerando uma nova passagem.

Fobia também conta com sequências de ação, que aparecem em poucos momentos, mas não brilham como os outros elementos do gameplay. O combate é limitado a poucas armas de fogo e o jogo não oferece opções ou maneiras de usar o cenário ao seu favor, o que faz com que todos os confrontos consistam na mesma estratégia.
Há ainda lutas contra inimigos comuns e mini chefes que deixam a desejar. Além de ter pouca variedade, algumas criaturas mutantes apresentam movimentos quase robóticos, uma inteligência artificial muito simples e até transpassam objetos como se fossem invisíveis em alguns momentos.
Tudo isso tira o peso dos momentos de ação, o que quebra o lado assustador da situação. Além disso, munição e curativos não são escassos. Então não é preciso economizar e gerenciar balas e itens de cura. Mesmo sem tomar cuidado, é extremamente difícil ficar sem suprimentos.

Apesar dos tropeços com as criaturas, a estética de Fobia impressiona com os cenários luxuosos e, ao mesmo tempo, decadentes. O visual é focado em cores pálidas e é possível perceber alguns detalhes cuidadosos, como a textura das pinturas e a maneira como a tinta da arma se desgasta ao decorrer da história. Mas a aparência de NPCs, no entanto, não acompanha a mesma qualidade e cuidado.
O game oferece poucas opções de acessibilidade que atuam como recursos adicionais, como assistência de mira e opção para mostrar indicadores de objetivo. Algo curioso é que o título não conta com checkpoints, então é preciso salvar manualmente em locais específicos, que não aparecem com tanta frequência. Assim, morrer significa voltar para a última vez que o jogador salvou, então as chances de perder progresso e ter que refazer boas partes é grande.
Como era de se esperar, o jogo está com texto, legendas e dublagem em português brasileiro. O elenco de vozes apresenta atuações que acompanham o tom misterioso e maluco (no melhor sentido!) da história, contando até com detalhes de sotaque.
Um “Resident Evil brasileiro”
Apesar de tropeços na ação, Fobia – St. Dinfna é especial para os fãs de terror e, principalmente, de survival horror.
Com uma campanha que dura entre 10 e 15 horas, o jogo realmente brilha por apresentar uma exploração viciante e instigante que, de forma inteligente, constrói um level design em torno de um hotel, um local com muitas possibilidades.
A liberdade que o título oferece ao jogador, sem ter a intenção de guiá-lo pela mão, explora e intensifica as melhores características do gênero. E me levou de volta àquele sentimento de perder noites e madrugadas com anotações de puzzles e mistérios de Resident Evil.
O game realmente tem uma grande inspiração na franquia da Capcom, que permeia em muitos elementos, como interface, inventário, jogabilidade, história com mutações e por aí vai. E isso pode ser tanto algo bom quanto ruim. Afinal, pode parecer que Fobia perde em personalidade, mas já prevejo muitas pessoas descrevendo o título como um “Resident Evil brasileiro”, o que não é nada mal! Pelo contrário.
Seja como for, Fobia – St. Dinfna Hotel me deixou imersa, viciada e impressionada em muitos sentidos, sendo uma fã de terror. Ele não só fortalece a indústria brasileira de jogos, mas também é uma das experiências de terror mais viciantes que tive nos últimos anos. E, confesso, já estou pronta para o check-in de novo.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela Pulsatrix Studios.
Fobia — St. Dinfna Hotel será lançado no dia 28 de junho para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.