Com um tom macabro e fofo ao mesmo tempo, Cult of the Lamb é um jogo indie que coloca o jogador na pele de uma ovelha que foi sacrificada em um ritual. No entanto, ela retorna à vida com a ajuda de uma entidade satânica que, é claro, pede alguns favores em troca: pregar sua palavra e matar seus principais rivais.
Assim, os objetivos da ovelhinha se tornam gerenciar um culto e enfrentar masmorras na busca pelos cinco Hereges – os chefões principais do título.
E sim, essa jornada é tão maluca (e complicada!) quanto parece.
Não negocie com o diabo
Desenvolvido pelo estúdio Massive Monster, Cult of the Lamb é um jogo que mistura gerenciamento e exploração de dungeons, forçando o jogador a tomar decisões e ser estratégico o tempo inteiro.

A ideia é literalmente conduzir um culto do zero, ao converter seguidores, escolher quais doutrinas devem ser seguidas, realizar sermões diários e estruturar o “acampamento” em que todos vivem.
O local da seita é personalizável e cabe a você decidir quais construções devem ser criadas e onde elas vão ficar, o que exige a coleta de suprimentos específicos como madeira, pedra e grama – outro sistema para se preocupar.
É preciso ainda cuidar de perto dos seguidores, que ficam com fome, doentes ou simplesmente infelizes. Verificar se todos têm alojamentos, se o banheiro está limpo, se o almoço está pronto e outras tarefas mundanas (mas importantes!) precisam ser feitas a todo instante.
Lidar com problemas também faz parte da liderança proposta por Cult of the Lamb. Se alguma ação desagradar um seguidor, ele pode se tornar um descrente e espalhar profanações pela comunidade. Você, então, precisa decidir o que fazer: tentar uma reeducação com prisão ou, quem sabe, só sacrificá-lo em um ritual satânico para colocar uma pedra no assunto. E digamos que apenas prefiro não comentar qual caminho eu escolhi!

As crenças do culto também são decididas pelo próprio jogador. É preciso escolher os hábitos que a comunidade mantém (como oferecer benção ou coletar dízimo), decidir os rituais que podem ser feitos e quais princípios os seguidores devem acompanhar, por exemplo.
Com tudo isso, a sensação é de que você precisa gerenciar muitos elementos ao mesmo tempo. Um pequeno deslize, desatenção ou escolha mal pensada pode gerar consequências que vão gerar dores de cabeça cedo ou tarde. Então é preciso trabalhar duro para manter o funcionamento da seita e ajudá-la a crescer. Ao mesmo tempo em que é um sistema desafiador que exige estratégia e cuidado, também é recompensador: quanto maior a seita, mais poderoso você fica.

Outro pilar de Cult of the Lamb é o estilo “dungeon crawler”. Para derrotar os Hereges, é preciso explorar dungeons procedurais (ou seja, que são geradas aleatoriamente). Apesar disso, elas são curtas e diretas ao ponto, colocando o jogador em áreas pequenas e limitadas para enfrentar inimigos – ou, como o próprio game diz, “purificar os descrentes”!
Também é possível encontrar suprimentos, recrutar novos seguidores ou conhecer NPCs amigáveis no caminho, o que oferece uma fuga da mesmice das masmorras, uma vez que a estrutura das áreas sempre é a mesma.
Assim, as dungeons consistem no elemento roguelike do jogo e ser morto significa uma perda de progresso naquela dungeon específica, obrigando o player a começar novamente. Mas, se essa ideia te assusta, não se preocupe: ao avançar no game, você descobrirá que há maneiras de evitar isso.

Se não bastasse a trama inusitada, Cult of the Lamb também tem uma forte identidade visual, que sabe explorar as cores que destacam o lado macabro da história, como vermelho sangue, preto e laranja vivo.
Toda a estética é bem pensada e convidativa, dando um aspecto surpreendentemente fofo a uma premissa que, em teoria, tem tudo para ser aterrorizante.
Os cenários misturam elementos em 2D e 3D, oferecendo dinamismo e aspecto únicos. Muitos detalhes das ambientações e até os personagens estão em sincronia e se movimentam com cada passo que o jogador dá, tornando toda a estrutura muito chamativa visualmente.
Além disso, o jogo apresenta texto e legendas em português brasileiro, que acompanham o tom da história — que é relativamente sério e, ao mesmo tempo, leve e com espaço para trocadilhos vez ou outra.
Diabolicamente viciante
A ideia de misturar gerenciamento e dungeons não é exatamente nova, mas Cult of the Lamb une tais conceitos de uma maneira tão bem pensada, que história e jogabilidade conversam diretamente entre si. Não apenas isso, mas esses sistemas estão interligados e funcionam juntos dentro da premissa com teor religioso.
O game tem muitos sistemas, mecânicas e segredos que não são entregues de cara, então há uma experiência desafiadora ao forçar o jogador a aprender a se virar sozinho, tomar decisões, lidar com consequências e ser metódico.
Assim, o jogo oferece conteúdo e incentivo o suficiente para ser diabolicamente viciante, mas não escapa da sensação de repetitividade. Afinal, você precisa lidar várias vezes com situações muito parecidas e a história avança de forma gradual, o que pode desagradar jogadores mais impacientes. É ainda um título que exige boas horas de dedicação, com duração variando entre 15 a 25 horas.
Em minha jornada, a repetição não chegou a se tornar cansativa, mas deixou a sensação de que o título se estende um pouco mais do que deveria e poderia ser mais enxuto. No entanto, minha sede em me tornar um poderoso cultista e curiosidade pelo desfecho da história do misterioso Aquele Que Espera me mantiveram imersa até o fim.

Seja como for, Cult of the Lamb é uma experiência maluca e única no melhor sentido possível, que entrega muita diversão, personalidade e alguns rituais satânicos aqui e ali.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela Devolver Digital.
Cult of the Lamb será lançado no dia 11 de agosto para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, PC e Nintendo Switch.