É fato que X-Men ‘97 apostou alto com o quinto episódio. No meio da temporada, a animação da Marvel amarrou várias de suas tramas em um trágico atentado em Genosha, ilha que deveria ser o lar dos mutantes. Esse evento grave colocou fim à vida de alguns dos personagens mais queridos e estabeleceu um grande desafio para a sequência. Para a alegria dos fãs, os capítulos seguintes já provaram que os responsáveis sabiam bem o que estavam fazendo.
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Afinal de contas, o choque de mortes surpreendentes é uma ferramenta muito utilizada para manter a atenção do público – leitores de HQs de super-heróis que o digam. Porém, X-Men ‘97 já mostrou que o que houve em Genosha não foi o caso. Para entrar em detalhes, será preciso entrar em território de spoilers, então tome cuidado.
[A partir daqui, spoilers do sétimo episódio de X-Men ‘97]
Talvez não seja necessário, mas vamos recapitular rapidamente o que acontece no quinto episódio de X-Men ‘97. Em “Lembre-se Disso”, os heróis são levados a Genosha, ilha reconhecida como um país independente e lar da nação mutante. O que parece ser a concretização do sonho de coexistência do Professor Xavier se torna um pesadelo quando uma versão aprimorada dos Sentinelas chega ao local, destroi tudo e mata boa parte da população – incluindo nosso querido Gambit.
Essa tragédia dá início a uma nova etapa na complicada relação entre mutantes e humanos, que é o grande tema da produção desde o início. Porém, ela traz novas camadas ao fazer os X-Men lidar com uma situação tão extrema e, principalmente, ao testar os supostos aliados.
As faces dessa indiferença ficam claras em várias situações do episódio sete, “Olhos Brilhantes”. O primeiro exemplo está na atitude da mãe de Roberto Da Costa, que demonstra não ter problemas com o filho ser mutante, mas quer esconder isso para não afetar os negócios. Segundo ela, os acionistas não reagem bem ao tópico, especialmente após a coisa “desagradável” que aconteceu em Genosha.
Um tom parecido é encontrado nas palavras da repórter Patricia Tilby, que demonstra tristeza pelo massacre, mas condena protestos de mutantes que “quebram janelas”. Argumentando que “destruição não é comunicação”, ela diz que pessoas normais não aceitarão os mutantes por se sentirem ameaçadas. Como se o motivo para tal revolta não fosse um genocídio nascido justamente do ódio humano.

As coisas pioram quando começam a tomar caráter oficial. Logo no início, Ciclope ouve a ONU dizer que não pode mais oferecer ajuda na busca por sobreviventes. Quem diz isso é um candidato à presidência dos EUA, que se nega a pressionar por mais auxílio para não “assustar” possíveis eleitores – leia-se os que odeiam mutantes. E ainda acrescenta que está tentando se eleger para que o cargo não fique com alguém que não é tão aliado à raça.
Isso chega até mesmo à comunidade heroica. O Capitão América faz uma rápida aparição para parar os ataques da Vampira, que entra em uma jornada violenta em busca do responsável pelo ataque que matou seus dois amores – pois ela não sabe que o Magneto sobreviveu. Apesar de entregar uma pista para a jovem, o Supersoldado diz que precisa esperar ordens oficiais para ir até lá, porque precisa fazer as coisas seguindo a lei. Segundo ele, agir rápido e ser visto junto a ela “mandaria uma mensagem” que ele tem medo de passar.
Todas essas situações mostram que, na prática, os mutantes estão sozinhos. Mesmo os humanos do bem, que demonstram simpatia pela coexistência pacífica, têm medo de auxiliá-los. Um temor causado pelo que as “pessoas normais” vão pensar e como isso pode prejudicá-los, o que demonstra uma escala de prioridades distorcidas. Afinal de contas, elas estão mais propensas a se indignar com um ato de bondade com alguém que acabou de ser vítima de um massacre do que com o próprio massacre em si.
Um eco das diferentes formas de preconceito que X-Men ‘97 trabalha desde o início. Não é difícil imaginar que o médico que se nega a fazer parto de mutantes ou o próprio Executor X, um terrorista que atacou a ONU, se considerem “pessoas normais”.

Em X-Men '97, Genosha ecoa no tempo e no espaço
Outra forma de X-Men '97 honrar a escala do que aconteceu em Genosha é mostrar como a repercussão desse evento não ficou restrita ao aqui e ao agora. O sexto capítulo mostrou que a tragédia de Genosha foi forte ao ponto de viajar galáxias para afetar Charles Xavier, que estava com os alienígenas do Império Shi’ar desde o fim da animação original – mais sobre isso aqui.
Além disso, a catástrofe também se tornou um marco na vida de Cable, que fez duas viagens no tempo para ajudar a própria espécie. A primeira aconteceu momentos antes do ataque e rendeu apenas um rápido reencontro com a mãe, Madelyne Pryor. Já a segunda ocorre depois, quando ele chega ao presente para avisar que os vilões, na verdade, estão trabalhando para “alguém pior” e que pode não haver futuro se os X-Men não o impedir.
Esse é um grande gancho para a reta final da temporada, que culmina em um episódio triplo que começa no oitavo. Um clímax que colocará os X-Men diante de seu maior desafio, o qual terão de enfrentar sozinhos para salvar um mundo povoado pelos seus e pelos que os odeiam. Um conflito clássico desses personagens e que vem sendo construído com cuidado e paixão por X-Men ‘97, que faz bonito mesmo quando leva a história para caminhos dolorosos.

X-Men '97 ganha novos episódios às quartas-feiras no Disney+. O streaming também é casa da série animada original e dos demais filmes e séries dos mutantes.