Scooby-Doo para maiores? Conheça a nova animação da Velma

Scooby-Doo é um clássico que dispensa apresentações. Um dos maiores sucessos do estúdio Hanna-Barbera, a turma de detetives adolescentes e o cachorro falante resolve mistérios há mais de 50 anos em séries, filmes e muito mais. Esse universo retorna às telinhas com Velma, nova animação para maiores do HBO Max.

Lançada no streaming nesta quinta-feira (12), a série é um prelúdio que se passa antes da formação da agência de investigação Mistérios S/A. Na trama, Velma, Fred, Daphne e Salsicha – aqui chamado Norville – são estudantes do ensino médio quando um misterioso serial killer começa a atacar. Isso leva a personagem-título a uma investigação para limpar a própria barra após ser acusada de ser a assassina.

Os cabeças da produção são os comediantes Charlie Grandy e Mindy Kaling, que se tornaram conhecidos como roteiristas de The Office, série que teve Kaling como intérprete de Kelly Kapoor. Criadores de Velma, eles também atuam como roteiristas, e a atriz empresta sua voz para a protagonista.

Décima quarta série do universo Scooby-Doo, a animação busca se destacar das demais por ser a primeira destinada ao público adulto. Indicada para maiores de 16 anos no Brasil, a primeira temporada de Velma terá dez episódios, lançados semanalmente no HBO Max.

Velma com o pai e Fred em cena da nova animação

Mas afinal, Velma vale a pena?

Com os dois primeiros episódios da temporada disponíveis, Velma tem um início agridoce. Muito bem-vinda, a ideia de repaginar Scooby-Doo para um público adulto é quase toda desperdiçada em um roteiro frágil que chega muito perto de parecer uma paródia boca-suja.

Bagunçado, o texto parece não confiar na inteligência do público ao literalmente explicar para onde a história está indo ou como os eventos estão afetando os personagens. A desconfiança é tão explícita que chega ao ponto dos protagonistas verbalizarem os ensinamentos que a jornada trouxe, como se o espectador fosse incapaz de chegar a essa conclusão sozinho.

Por um lado, essa saída parece uma espécie de homenagem com o formato dos desenhos mais antigos, que costumavam parar para explicar o que estava acontecendo às crianças. Porém, o tom sarcástico e espertinho de Velma impede que a ideia se encaixe, e a execução pouco inspirada torna tudo ainda mais enfadonho.

O mesmo vale para o humor, que se perde em falatórios cínicos que usam metalinguagem como escudo para as críticas. São várias as piadas sobre como o cinema e a TV lidam com situações de forma clichê para, no fim, a própria história cair nas exatas armadilhas do lugar-comum. E não ajuda que muitas das piadas são entregues de forma tão mastigada que perdem o timing e a graça.

Por outro lado, todos esses problemas só ficam tão aparentes por conta do contraste com os momentos em que Velma brilha. Quando abre mão da pose cínica e investe em sinceridade, a produção mostra a que veio. Os melhores exemplos dessa dobradinha inicial estão na relação entre os futuros integrantes da Mistério S/A.

Velma e Daphne na nova animação de Scooby-Doo

A conturbada relação entre Daphne e Velma cresce muito quando deixa de lado uma troca de farpas que mais parece um campeonato de quem é mais petulante. O mesmo pode ser dito de Norville, o Salsicha, que em muitas formas contradiz a imagem criada em torno do personagem ao longo das outras versões.

Velma também se sai bem quando traz boas novas ideias para o universo Scooby-Doo. Nesta versão, os personagens têm traços de personalidade muito definidos, o que garante que cada um seja carismático à sua maneira. Os conflitos internos de cada um e a forma como são externalizados preparam terreno para uma dinâmica divertida quando finalmente se unirem.

O verdadeiro ponto alto de Velma é a animação. Essa versão tem um design encantador, que faz com que o visual retrô dos personagens se encaixe ao mundo moderno que o roteiro busca estabelecer. O nível de capricho é tanto, que o visual tem uma identidade própria sem esconder toda a influência das clássicas versões anteriores.

Esse nível de capricho, somado às boas ideias e a forma como homenageia o legado de Scooby-Doo, é o que traz esperança para que a animação melhore no decorrer da temporada. Mesmo com as derrapadas do roteiro, que não foram poucas, a produção demonstrou que há formas de contorná-las. O grande mistério que fica é se a equipe conseguirá atenuar os problemas e levar essas crianças enxeridas de volta aos dias de glória.