Desde que deixou The Walking Dead, em 2018, o Rick Grimes de Andrew Lincoln passou por um caminho tão esburacado fora da tela quanto as batalhas contra zumbis na série. O plano ambicioso do canal AMC era trazer o protagonista de volta em três filmes para o cinema. No entanto, uma pandemia, diversos atrasos e dúvidas cada vez maiores sobre o estado do projeto recalibraram a trama para uma minissérie de seis episódios.
- Criador de Walking Dead explica por que HQ não deve virar animação
- The Walking Dead: Daryl Dixon ganha data de estreia na TV brasileira
O revés, no entanto, mostrou-se uma decisão acertada, já que The Walking Dead: The Ones Who Live não é o retorno que os fãs queriam, mas é definitivamente o que a saga (e seu herói) precisavam.
[Zona de Spoilers de The Walking Dead: The Ones Who Live]
Para ser justo, sim, The Walking Dead ainda tem uma base enorme de fãs dedicados (incluindo este que vos escreve). Mas é fato que a franquia está bem longe do auge de popularidade que tinha há uns 10 anos.
A decisão de criar um grande universo compartilhado, com um bocado de séries derivadas e produções para o cinema, já era esquisita pelo timing, ao ser anunciada quando a série principal estava na NONA temporada. E se nem a poderosa Marvel, que popularizou o formato, vem acertando, pra que arriscar?
The Ones Who Live vai contra quase todo o tipo de fan service que se esperaria de uma produção assim. Grandes reuniões entre o protagonista e velhos companheiros da série principal? Esqueça. A união das diversas forças mostradas nas outras produções derivadas contra um inimigo comum? Menos ainda. A trama entende que a jornada de seu herói é a única coisa que realmente importa, e aposta todas as fichas nisso.

Na série, descobrimos que Rick passou anos a serviço do grupo militar CRM. Longe da família e amigos por quase uma década, o sobrevivente busca um jeito de escapar. Ao mesmo tempo, a porradeira Michonne (Danai Gurira) parte numa missão própria em busca do amado.
Corajosamente, The Ones Who Live opta por contar um drama humano, em um ritmo deliberadamente mais lento, do que a explosão de tripas e corpos putrefatos da série original. Apostando no carisma e profundidade de Andrew Lincoln e Danai Gurira para honrar seus personagens numa possível despedida, a minissérie concede a eles uma dimensão inédita até mesmo nos 12 anos da série principal.
Como fã, pode ser frustrante não ver em cena um aguardado abraço entre Rick e Daryl Dixon (Norman Reedus), ou que a CRM, antagonistas ventilados por anos na série principal, no fim, era apenas mais um obstáculo no caminho do reencontro de Rick e Michonne, e não a grande ameaça que encerraria a franquia com uma batalha apoteótica.
Mas é preciso lembrar que toda essa história começou com Rick Grimes, e nada mais justo e poético para o personagem (e para o próprio Andrew Lincoln), que sua despedida verdadeira seja uma trama focada justamente em concluir o arco do xerife, do que preparar terreno para um futuro que sabe-se lá quando (ou se) vem.

Como ensina a vasta sabedoria popular, é muito bom saber o que quer, mas é melhor ainda querer o que não sabe. Com The Ones Who Live, The Walking Dead ganhou um novo sopro de vitalidade, mostrando que ainda bate um coração, mesmo embaixo de dezenas de corpos e planos fracassados.
The Walking Dead: The Ones Who Live está disponível no catálogo brasileiro do Prime Video. Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.