O caro leitor poderia facilmente ser perdoado por sequer saber que o fim de 2024 teria mais uma série de Star Wars. Isso porque mesmo com o poder da presença de Jude Law, Skeleton Crew, que estreia com dois episódios nesta segunda-feira (2), vem como uma espécie de “patinho feio” da franquia espacial, que buscou uma divulgação relativamente mínima para o projeto.
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O perfil mais discreto pode também ser tomado como um indicativo de que o projeto não pretende ser um divisor de águas como Andor, ou uma peça indispensável do futuro da franquia na TV e no cinema, como The Mandalorian. Mas deixando todo o preâmbulo de bastidores para trás, o que pode-se esperar da nova aventura da saga espacial?
Skeleton Crew acompanha a jornada de um grupo de crianças perdido pela galáxia. Cara a cara com um mundo repleto de perigos e bem maior que os livros da escola, os pequenos encontram ajuda na figura de Jod Na Nawood (Law), um sensitivo da Força.
Se a mera menção de “aventura de um grupo de crianças” logo remete ao cheirinho de década de 1980 de produções como E.T. - O Extraterrestre (1982), Os Goonies (1985) e a recente Stranger Things, é porque Skeleton Crew não faz questão nenhuma de negar o quanto bebe de tais fontes. A nostalgia, no entanto, é um sabre de luz de dois gumes.

Num nível mais superficial, faz todo sentido que uma trama de Star Wars traga uma carga infantil e lúdica (afinal, a própria franquia é um dos pilares da cultura pop oitentista), mas enquanto tramas como a já citada Stranger Things partem do saudosismo para um desenrolar próprio, Skeleton Crew se acomoda no calor de um enorme cobertor tecido a mão por Steven Spielberg e outros mestres moldadores dos anos 1980.
Os dois primeiros episódios cumprem bem a função de apresentar os jovens Ravi Cabot-Conyers, Ryan Kiera Armstrong, Kyriana Kratter e Robert Timothy Smith como o quarteto Wim, Fern, KB e Neel. Todos na faixa dos 12 aos 15 anos, os pequenos astros seguram uma introdução que até sugere algo inédito nos quase 50 anos de Star Wars enquanto franquia.
Isso porque os capítulos de abertura têm uma forte base numa primorosa direção de arte que imagina como seriam os subúrbios, as ruas e escolas onde você facilmente poderia ver Ferris Bueller curtindo a vida adoidado, mas dentro de Star Wars.
Os problemas começam quando fica claro que, em vez de mera referência, Skeleton Crew usa a nostalgia praticamente como único norte para quase todas as decisões criativas. Não que o desenrolar da aventura torne-se um peso de se acompanhar (em boa parte graças à curta duração dos episódios), mas é de se pensar o quanto da série nasceu de uma legítima vontade de se criar uma nova história no universo Star Wars, ou de um experimento de “E se Os Goonies fosse feito em Star Wars?”.

A segunda opção ganha mais força considerando que a criação leva a assinatura da dupla Jon Watts e Christopher Ford. Watts, diretor da trilogia Homem-Aranha de Tom Holland, nunca disfarçou o estilo de narrativa altamente referencial, mas há que se pensar até onde a série se sustentará baseada num sem-fim de outras produções há décadas no imaginário popular.
É justo que, pelo tom “família” e a trama encabeçada por quatro crianças, pode-se argumentar que o público-alvo da série é a mesma faixa etária que sequer sabe quem são Elliot, Short Round, Sloth, Irmãos Fratelli e outros nomes que soam como grego para a geração streaming, mas que encantaram as telonas em décadas passadas.
Além do quarteto infantil, há ainda a presença carismática de Jude Law, à vontade como um personagem cheio de segredos, mas com uma malandragem de dar gosto até a velhos cafajestes da franquia como Han Solo e Lando Calrissian. O que se torna mais impressionante ainda visto o curto tempo de tela do astro, ao menos na primeira trinca de capítulos.
É perfeitamente possível que a série encontre um caminho próprio no decorrer das próximas semanas, e até diga de fato a que veio, ainda mais com a ajudinha de diretores de peso como Bryce Dallas Howard (The Mandalorian), Lee Isaac Chung (Minari) e a dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo).

Por agora, os fãs podem se contentar com uma largada bastante competente em todos os sentidos técnicos, e que, apesar de todos os pesares da franquia, entrega uma aventura envolvente e divertida o suficiente para que esperemos por mais capítulos.
Se nem fracassos e decepções recentes como The Acolyte e Obi-Wan Kenobi abalaram a fé em Star Wars, que Jon Watts, Jude Law e companhia nos levem como parte da tripulação esquelética, na torcida de que esse barco arrume o prumo.
Skeleton Crew ganha episódios inéditos toda segunda-feira, pelo Disney+.
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