Desde a estreia, a série Obi-Wan Kenobi dividiu opiniões. Um lado celebrou a chance de reencontrar personagens icônicos de Star Wars e descobrir mais sobre o Jedi interpretado por Ewan McGregor. Já o outro, se incomodou com a oportunidade desperdiçada de contar um épico à altura das figuras envolvidas com uma história simples e cheia de furos.
Seis episódios depois, a produção do Disney+ chega ao fim alimentando os dois lados. Concluída nesta quarta-feira (22), a minissérie empolga e comove com alguns de seus momentos mais esperados, ao mesmo tempo em que frustra com os mesmos problemas que a impediram de decolar anteriormente.
[Atenção, a partir daqui spoilers do último episódio de Obi-Wan Kenobi]
- Como Darth Vader evoluiu de um papel pequeno ao coração da franquia Star Wars
- Roteirista de Obi-Wan Kenobi explica por que personagem foi colocada na série
- Memes de Obi-Wan Kenobi provam que zoeira não tem fim nem na galáxia muito distante
A Parte VI de Obi-Wan Kenobi tem a estrutura mais simples de toda a temporada. Após os eventos da Parte V, os insurgentes do Caminho são perseguidos por um Destroyer do Império. Sabendo que é o verdadeiro alvo, Obi-Wan decide fugir sozinho para atrair a atenção dos vilões liderados por seu ex-pupilo, Darth Vader (Hayden Christensen).
Depois de se despedir de pessoas que conheceu brevemente pelo caminho, como o falso Jedi Haja (Kumail Nanjiani) e o proto-líder Rebelde Roken (O’Shea Jackson Jr), ele dá adeus à reticente Princesa Leia (Vivien Lyra Blair). Protestando contra a partida de Kenobi, a jovem faz de tudo para que ele não vá, como se fosse possível parar a necessidade que Obi-Wan sente de tentar salvar a alma de Anakin Skywalker.
Ele segue adiante com o plano e vai até um planeta rochoso, onde espera por Darth Vader. Orgulhoso e exibido, o Sith decide ir sozinho para resolver a pendência de uma vez por todas. O que acontece a seguir é o embate definitivo entre mestre e discípulo, que finalmente coloca os coloca de lados opostos e em pé de igualdade.

Ao contrário do que aconteceu na Parte III, em que Obi-Wan mal conseguiu fugir por estar enferrujado e pouco conectado com a Força, a nova batalha é mais equilibrada e, portanto, mais empolgante.
A coreografia da luta, misturando golpes selvagens de sabres de luz com estratégicos usos da Força para desequilibrar o adversário, dura longos minutos e não desperdiça o poder do encontro que está mostrando. Um combate grandioso que por vezes dá a ambos momentos de superioridade até um clímax emocionante em que Obi-Wan racha o capacete de Darth Vader e consegue enxergar o rosto de Anakin pela última vez.
Forte, o momento remete diretamente ao final do Episódio III - A Vingança dos Sith (2005), em que o corrompido Skywalker coloca para fora todo o ódio que sente do amargurado antigo mestre. Dezessete anos depois, o reencontro se repete e é abrilhantado por uma atuação comovente de Ewan McGregor e Hayden Christensen. O primeiro demonstrando todo o desespero em finalmente enxergar o velho amigo sob a máscara de Darth Vader, e o segundo renegando qualquer resquício do bem que Anakin representava.

Vale o adendo que esse momento é parecido até demais com um outro combate de Darth Vader mostrado na série Star Wars: Rebels, quando a máscara se parte e um ente querido vislumbra uma parte do rapaz enterrada pelo Sith. Rimas são constantes no universo de Star Wars, mas é impossível não sentir que Obi-Wan Kenobi trapaceou ao repetir um movimento tão impactante – que você pode conferir clicando aqui.
É claro que essa semelhança não diminui em nada o impacto da cena, que finalmente coloca traz um peso emocional que nunca havia sido alcançado plenamente pela série até ali. Especialmente por ser o momento definitivo em que o Lado Sombrio se apossa de Darth Vader — corrupção belamente ilustrada pela forma como seu rosto deixa de ser iluminado pela luz azul do sabre de Obi-Wan e passa a refletir o vermelho característico dos Sith.
Ao perceber que o velho amigo estava além da redenção, Kenobi nega o combate e vira as costas, deixando Vader à própria sorte. É claro que em termos práticos ele poderia ter continuado e até matado o Sith, evitando toda a dor e sofrimento que ele ajudou a perpetuar pela galáxia. Porém, considerando a forma como o velho Jedi evitou o combate a todo custo, não é de se estranhar que ele tenha se contentado em simplesmente sobreviver ao novo encontro.
Reva e a falta de criatividade em Obi-Wan Kenobi
Enquanto Obi-Wan e Vader resolviam suas pendências, Reva (Moses Ingram) seguiu adiante com sua missão de se vingar de Anakin Skywalker. Usando um poder de dedução sobrenatural, ela segue a pista deixada por Bail Organa (Jimmy Smits) e chega à Tatooine com a missão de matar Luke Skywalker (Grant Feely) na esperança de que isso machuque o pai biológico do garoto — que nesse ponto sequer sabe que o pequeno existe.
É nesse ponto que o roteiro de Obi-Wan Kenobi volta a derrapar feio. Como se não bastasse a personagem magicamente perceber uma ligação entre Luke e Anakin, ela ainda consegue se curar de uma ferida aparentemente mortal e voar até Tatooine em um tempo recorde, chegando ao planeta desértico antes mesmo de Kenobi decidir servir de isca para o Império.
Além de desperdiçar uma personagem com um enredo tão inovador quanto uma sobrevivente da Ordem 66 que se infiltra no Império por vingança, essa trama força a barra ao colocar a jovem tendo dificuldade em lidar com dois fazendeiros após lutar contra o próprio Darth Vader e o Grande Inquisidor (Rupert Friend).
No fim, ela consegue chegar a Luke, mas hesita na hora de matá-lo e o entrega de volta à própria família. Um arco de redenção que estava se desenhando desde que Obi-Wan tentou convencê-la a unir forças que não surpreende, mas cativa graças à performance de Moses Ingram.
O choro sofrido da personagem ao reencontrar Obi-Wan dá uma gravidade que escapou a um texto simplório que dá a ela o desfecho esperado. Reva renega o Lado Sombrio e decide sair em uma jornada para descobrir quem realmente é – o que certamente vai acontecer em uma nova série do Disney+ ou em livros e quadrinhos.

Com tudo resolvido, Kenobi chega ao fim com o velho Jedi se despedindo dos gêmeos Leia e Luke. Ele visita a garota em Alderaan, onde explica como as principais qualidades dela vieram dos pais e que ela deve usá-las para o bem – como virá a acontecer em Episódio IV - Uma Nova Esperança (1977). Já o garoto ele tem a chance de conhecer rapidamente quando se despede de Owen Lars (Joel Edgerton) com a promessa de deixá-lo crescer em paz.
É só nesse ponto em que ele parte para se exilar e esperar em uma casa no deserto até que o tempo passe e um jovem piloto bata em sua porta com um dróide carregando o pedido de socorro de uma princesa rebelde. Porém, no meio do caminho ele finalmente tem a chance de rever Qui-Gon Jinn (Liam Neeson), mestre falecido em Episódio I - A Ameaça Fantasma (1999) e com o qual tentou falar por quase uma década.

A aparição de Qui-Gon é rápida e não impacta em nada a trama e justamente por isso não decepciona. Fan services fazem parte das grandes franquias, mas enfraquecem muito as tramas que são baseadas justamente nisso. Então ter Liam Neeson de volta apenas para acenar para o protagonista nos minutos finais não parece uma oportunidade perdida, mas sim um aceno aos fãs com a decência de não basear suas reviravoltas no retorno de um personagem familiar.
Com isso, Obi-Wan Kenobi encerra sua jornada de forma satisfatória. Entre momentos emocionantes que aquecem o coração dos fãs e furos de roteiro decepcionantes, a produção deixa em aberto para que o público decida qual dos lados falará mais alto.
A série Obi-Wan Kenobi está disponível na íntegra no Disney+.