David Benioff e D.B. Weiss sabem bem que um final mal feito pode degringolar até mesmo a melhor das histórias. Que o diga a legião de fãs de Game of Thrones que, apesar dos anos de fartura com a trama, segue com o gosto amargo na boca, meia década após o fim da série criada pela dupla. Talvez até para driblar a desconfiança, os dois, espertamente, trocaram o sangue e os dragões por alienígenas e problemas de física em O Problema dos 3 Corpos, nova série da Netflix.
Baseada no livro de mesmo nome, do chinês Liu Cixin, a trama acompanha um grupo de amigos envolvido num mistério de proporções interplanetárias após mortes de cientistas ao redor do mundo. A busca pela verdade joga os cinco amigos em um jogo de gato e rato entre poderosas forças do governo e um perigoso grupo disposto a mudar o mundo como conhecemos.
Benioff e Weiss assinam a produção, criação e roteiro da série em parceria com Alexander Woo (True Blood, The Terror). De cara, a aposta em mais uma adaptação literária parece segura, mas, justiça seja feita, David e D.B. sempre trabalharam melhor justamente como grandes curadores de como formatar histórias aparentemente inadaptáveis à tela.
O que evitaria que O Problema de 3 Corpos acabe na mesma insatisfação que Game of Thrones? Bom, para começar, a série de livros que baseia a série está devidamente concluída. A não ser que o alinhamento planetário mude, não há razão para que a dupla invente moda mexendo em time que já está ganhando.
Em segundo lugar, o fracasso pode, mesmo, ser o melhor professor. Porque a nova série traz de volta as maiores forças do trabalho criativo de Benioff e Weiss, agora postas sob uma nova ótica.

“Eles estão chegando”
O Problema dos 3 Corpos mistura ficção científica, suspense policial, realismo fantástico e até terror em uma enorme salada de gêneros que, milagrosamente, não soa confusa. Isso porque, ao longo de oito episódios, a trama toma todo o tempo necessário para apresentar conceitos complicadíssimos de forma digerível, além de encontrar espaço e profundidade para nada menos que oito personagens principais.
Na linha de frente, está o quinteto Jin (Jess Hong), Jack (John Bradley), Saul (Jovan Adepo), Auggie (Eiza González) e Will (Alex Sharp). Reunidos após a morte de uma ex-colega, os cinco botam as mentes brilhantes para pensar no que pode causar a morte de pesquisadores no mundo todo, e ainda embaralhar todo o conhecimento científico da humanidade.
No papel, o grupo poderia cair na caricatura de “gênios esquisitões que se completam”, ou coisa do tipo, mas os protagonistas carregam a série com folga graças ao roteiro e ao trabalho dos cinco atores.
Velho conhecido dos fãs como o Sam, de Game of Thrones, John Bradley encarna, mais uma vez, um herói improvável contra uma ameaça iminente à humanidade, trazendo uma bem-vinda dose de comédia ao peso emocional de personagens como Auggie e Jin.
Crente na ciência e na explicação lógica para tudo, o time é forçado a rever as próprias vidas em meio a uma situação fantástica e inconcebível, representando bem a resiliência humana em meio ao caos.
No lado da lei, Benedict Wong (Doutor Estranho) e Liam Cunningham (mais um nome de GoT) auxiliam o quinteto como o detetive Clarence e o escorregadio Wade, homem do governo responsável pelos segredos sujos que nem o próprio governo sabe.
A dupla rouba a cena na relação de confiança/desconfiança, amparado por uma dose de respeito mútuo, de certa funcionando também como os olhos e ouvidos do espectador na trama toda.
Até porque, claro, ninguém espera que você entenda as minúcias da física aplicada que faz O Problema dos 3 Corpos avançar, o que, mais uma vez, é mérito do trabalho de adaptação de Benioff, Weiss e Woo.

A primeira temporada da série se firma com os próprios pés, apresentando uma história incrivelmente distante do que as mentes de David e D.B. trouxeram antes, mas igualmente fascinantes.
O Problema de 3 Corpos pavimenta o caminho para um futuro interessante e envolvente. Isso, claro, se considerarmos que séries de sci-fi, muitas vezes, estão sob ameaça do corte impiedoso da guilhotina dos streamings (como os fãs de Westworld, 1899 e mais sabem…).
Seja como for, o que se apresenta ao longo dos episódios iniciais é o suficiente para que se dê uma nova chance aos produtores, e torcer por um final realmente eficaz em novas temporadas que adaptem os livros restantes da saga. Afinal, o futuro aos alienígenas pertence?
O Problema dos 3 Corpos está em streaming na Netflix. Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.