Em seus minutos iniciais, Santa Clarita Diet mostra que estar vivo ou morto não se resume apenas a avaliar algumas atividades biológicas necessárias para a manutenção da vida. Metaforicamente, alguém pode deixar de viver muito antes de vir a óbito.
A corretora de imóveis Sheila Hammond (Drew Barrymore), por exemplo, passava seus dias simplesmente existindo no modo automático, sem realmente aproveitar oportunidades que poderiam fazê-la mais feliz.
...E morreu.
Depois de um incidente bastante nojento no qual Sheila bota para fora o próprio peso em vômito, ela morre e retorna totalmente diferente, sem pulso, com uma substância viscosa onde deveria estar seu sangue, mas se sentindo mais viva do que nunca. Ela deixa de reprimir os próprios impulsos e passa a apreciar novamente pequenos momentos do dia a dia, como sair com as amigas, aproveitar o sexo com o marido, comprar um carro novo ou devorar uma grande quantidade de carne humana fresquinha.
Apesar de a temática ser pesada, com muito sangue, tripas, vômito e canibalismo, grande parte das piadas são leves e abordam assuntos bastante cotidianos no núcleo familiar da protagonista. Joel (Timothy Oliphant), o marido, e Abby (Liv Hewson), a filha, tentam se acostumar com a nova realidade de Sheila enquanto lidam com problemas comuns na escola, no trabalho ou com vizinhos.
Pé de moleque, olho de sogra
Santa Clarita Diet foca muito mais nos tons de humor da ideia de devorar pessoas para sobreviver do que algo capaz de destruir a humanidade. Não há uma grande infecção com cadáveres devoradores de cérebros correndo (ou se arrastando) atrás de carne fresca. É só algo incomum que pode acontecer com qualquer pessoa naquele universo e não há grande diferenciação entre quem está vivo ou quem é morto-vivo.
Em pouco tempo, a família de classe média se adapta à nova rotina. A maior mudança na dinâmica do trio, além dos assassinatos e cadáveres guardados em um freezer, é que Sheila fica mais impulsiva e cheia de energia, e Abby começa a dar sinais de rebeldia adolescente por não saber exatamente como lidar com as mudanças súbitas e os crimes da mãe.
Dieta sem sustança
Em inúmeros momentos, Santa Clarita Diet ameaça fazer uma crítica a um estilo de vida plástico e superficial, mas não vai muito a fundo na ideia. Aliás, nada é desenvolvido com muita profundidade na história. Mesmo as questões morais sobre matar e canibalizar humanos são abordadas rapidamente, mas a conclusão lógica que os personagens chegam é que tudo bem cometer assassinato se forem de pessoas “ruins” que ninguém vai sentir falta. O julgamento, entretanto, é bastante subjetivo e nem sempre Sheila e Joel concordam sobre quem deveria ser a vítima.
Fora do núcleo da família Hammond, alguns personagens começam a ser construídos como antagonistas e parecem que vão crescer a ponto de se tornarem relativamente importantes para a trama. Porém, o arco de cada um deles é simplesmente concluído de maneira apressada e sem grande impacto a longo prazo na história dos protagonistas. Exceto, talvez, a influência que eles têm no cardápio de uma morta-viva.
Os episódios de Santa Clarita Diet são bem curtos, com pouco menos de meia hora de duração, e podem servir como opção para uma tarde de tédio, quando tudo que você quer é algo engraçadinho, mas sem muita profundidade. Esta é uma série mediana para assistir sem muito compromisso, que usa a linguagem de sitcom para falar sobre uma família de classe média na qual um dos membros não está vivo, nem exatamente morto. Ela pode satisfazer seus desejos por algo para passar o tempo, mas não é algo que sustenta por muito tempo.
*A Netflix disponibilizou antecipadamente todos os 10 episódios da primeira temporada da série para fins de review.
Santa Clarita Diet estreia em 3 de fevereiro, exclusivamente na Netflix.