Para todos que já assistiram Breaking Bad do começo ao fim, não resta dúvida de que "Ozymandias", antepenúltimo capítulo da temporada final, é o melhor episódio da série inteira.
Nesse episódio, Walter White (Bryan Cranston) finalmente vê seu império e suas relações familiares ruírem de uma vez por todas. Além disso, temos a fatídica e impactante morte de Hank (Dean Norris). O capítulo termina com Heisenberg sequestrando Holly no meio da noite.
Conversando com o The Ringer, Cranston relembrou um momento inesperado da sequência, na qual a atriz mirim que interpretava Holly começou a chamar por sua mãe:
Foi a primeira vez que estávamos gravando aquela cena, e gentilmente pegamos o bebê. A mãe estava no set, e a criança começou a chamar por ela. Sabíamos que tínhamos ouro nas mãos naquele momento.
O ator explicou que seus olhos encheram de lágrimas no momento em que isso aconteceu, mas que seguiu no personagem, sabendo que aquilo daria ainda mais impacto para aquela cena. A roteirista do episódio, Moira Walley-Beckett, disse que esse impacto maior de fato aconteceu:
O mais extraordinário é que Bryan continuou na cena. E aquilo partiu o coração dele. A cena foi muito maior do que eu imaginei que seria quando estava escrevendo o roteiro.
O diretor Rian Johnson disse que o fato da criança ter chorado e pedido pela mãe foi "um daqueles momentos de pura sorte, que ninguém consegue duas vezes na vida".
Cranston acrescentou que o momento em que Walter sequestrou Holly foi uma cena que provou que a TV é um meio que pode ser mais poderoso que o cinema:
Eu sempre digo que Breaking Bad foi a série de TV perfeita porque seria um filme horrível, certo? No cinema você teria de comprimir, truncar e pular vários momentos, tirando muito material bom de desenvolvimento e crescimento dos personagens, reduzindo a queda desse homem e a degeneração da alma dele. Tudo isso seria perdido no cinema.
"Ozymandias" é o episódio com as melhores críticas de Breaking Bad, tendo sido aplaudido por fãs e pela imprensa ao redor do mundo.
Desesperai, ó Grandes!
O nome do episódio, "Ozymandias", veio de um soneto escrito pelo poeta inglês Percy Byshee Shelley, em 1818. O poema fala sobre um viajante de uma terra distante que acaba encontrando uma estátua do faraó Ramsés II (cujo apelido era Ozymandias). Através disso, o autor tenta mostrar ao leitor como impérios ruíram por conta da arrogância de seus líderes, e como legados persistem para sempre, mesmo que em meio a ruínas.
Confira o poema, com tradução feita por Eugênio da Silva Ramos, em 1989:
Ao vir de uma antiga terra, disse-me um viajante:Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Encontram-se no deserto. Jazendo, um pouco distante,
Afundado na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis:
Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
Depois de ver o episódio e ler o poema, não dá pra não achar que o título escolhido para o capítulo foi perfeito, né?