A Casa do Dragão está quase na metade de sua primeira temporada. Após ter episódios que mostram bastante o rei Viserys (Paddy Considine) e o príncipe Daemon (Matt Smith), chegou a vez de focar em Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock) e seu crescimento.
Porém, ainda que tenha suas sutilezas, o capítulo segue sendo Game of Thrones e choca com cenas que chegam a ser inquietantes.
[Spoilers do quarto episódio de A Casa do Dragão a partir daqui]

Após ter o aval do pai para escolher quem gostaria de tornar seu marido, Rhaenyra começa a tortuosa missão de conhecer os nobres de Westeros. Como esperado, uma jovem com o espírito livre como ela encontra pouco apelo em homens comuns, que pouco têm a lhe oferecer além de muita ambição, um ou outro castelo e a promessa de filhos (o que não poderia empolgar menos a princesa).
Ainda assim, é interessante como a garota começa a se relacionar mais com o povo de seu reino. Diversas vezes, a história de As Crônicas de Gelo e Fogo foi criticada por focar quase inteiramente nas histórias dos nobres e deixar os problemas dos plebeus de lado. Mesmo com momentos questionáveis, é importante que Rhaenyra conheça as características de seus súditos – as boas e ruins.
Em paralelo, Daemon volta para a corte com um pedido de paz para o irmão. O príncipe afirma que foi nomeado como Rei do Mar Estreito após a vitória nos Degraus, mas tira a coroa que estava usando e se ajoelha na frente de Viserys, dizendo que ele é o único rei. A cena acrescenta mais uma camada à relação dos dois. Se antes o príncipe demonstrava uma certa insubmissão, agora parece haver ao menos respeito. Os tempos, pelo menos por um breve momento, parecem de paz.
Até mesmo a rivalidade entre Rhaenyra e Alicent (Emily Carey) some brevemente. Em uma cena afetuosa, é como se todas as questões dos últimos anos tivessem sido deixadas de lado, e as garotas fossem apenas… garotas que compartilham dos mesmos anseios. Mas, sendo essa uma história trágica, nada disso dura muito. As diferenças entre as personagens se tornam cada vez maiores para que elas consigam sustentar a amizade.

Agora rainha e mãe de dois herdeiros, Alicent vê o desejo de liberdade de Rhaenyra quase como uma imaturidade, um capricho de uma garota que cresceu com tudo ao seu redor. A nova rainha se ressente disso, justamente porque não pôde ter as mesmas escolhas. Já a princesa vê na ideia de casar e ter herdeiros a sina da mãe, que morreu tentando dar um filho homem ao marido. Novamente, a série coloca frente a frente dois argumentos muito bons, que tornam difícil para o público julgar qualquer uma das personagens.
Mas o capítulo quatro de A Casa do Dragão guarda momentos chocantes. Após voltar à corte, Daemon resolve levar Rhaenyra para as ruas de Porto Real durante a noite. Mais do que colocar a princesa em contato com as outras pessoas que habitam Westeros, a aventura tem como objetivo despertar o desejo sexual da garota. Não há como negar que é inquietante ver um homem adulto beijando uma adolescente – ainda mais levando em consideração que os dois são tio e sobrinha. O ato não é levado adiante, mas as cenas mostradas incomodam o suficiente.
Se o romance entre irmãos chocou os espectadores na época de Game of Thrones, o tema do incesto é retomado com toda a força aqui. O episódio mostra, inclusive, que Daemon pensou em se casar com Rhaenyra. O movimento o tornaria rei, ainda que ele não seja o herdeiro nomeado pelo irmão e, aos olhos de muitos, seria motivo para uma estabilidade, afinal, dois Targaryens estariam no trono. Mas o príncipe é rechaçado pelo irmão e mandado embora mais uma vez.
Enquanto isso, Rhaenyra não consegue deixar de lado todos os sentimentos que foram aflorados naquela noite, e dorme com Sor Criston Cole (Fabien Frankel), membro da Guarda Real, seu protetor e juramentado com a castidade que esse posto exige. Ainda que também tenha seus problemas, essa cena incomoda menos. Primeiro porque a nudez foi tratada com muito mais sutileza, no caso da atriz Milly Alcock. Ainda que o bordel mostrado alguns momentos antes estivesse repleto de homens e mulheres nus, o seriado tornou a perda da virgindade da personagem algo sobre ela, sem servir de escada para outras tramas, e não precisou ter nudez explícita para isso.
Segundo, porque foi o desejo de Rhaenyra estar ali ao lado daquele homem. Em um contexto de fantasia medieval, em que o sexo costuma ser algo penoso para as mulheres, e a própria montagem do episódio mostra isso, é interessante como a princesa entende o prazer e o poder que há neste ato.
Por que é claro que um ato como esse, vindo de uma princesa, tem suas consequências. Ainda que não tenha feito sexo com o tio, rumores sobre a castidade de Rhaenyra começam a circular e, sem alternativas, ela aceita um casamento que colocará fim a tudo. O escolhido é Laenor Velaryon (Matthew Carver), filho de Corlys (Steve Toussaint) e Rhaenys (Eve Best). Além de solucionar a questão do casamento, a união também é uma aliança forte para a coroa, juntando duas casas de origem valirianas.

Outro desenvolvimento importante do episódio é que Rhaenyra convence o pai a tirar Otto Hightower (Rhys Ifans) do posto de Mão do Rei. O argumento da herdeira é que o nobre tem interesses próprios, agora que é avô do filho do rei, e que isso está atrapalhando seu julgamento sobre o que é melhor para a coroa.
Dessa forma, ainda que tenha estabelecido uma certa paz em seu começo, o quarto capítulo de A Casa do Dragão termina novamente com disputas e intrigas. Daemon está banido mais uma vez da corte, e a recém-resgatada amizade entre Rhaenyra e Alicent se desgastou de novo, já que a rainha não vê com bons olhos as atitudes recentes da princesa. Até o momento, as disputas internas entre a família estão maiores do que nunca.
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A Casa do Dragão ganha novos episódios aos domingos, na HBO e HBO Max.