Em Tekken 8, Kazuya Mishima e Jin Kazama — pai e filho — batalham entre si pelas ruas de Nova York. Possuídos por espíritos demoníacos, ambos desafiam a lógica: Jin derruba o helicóptero de Kazuya com uma moto, que sai ileso das chamas e ainda provoca o filho para resolver as diferenças na porrada. Tem gostinho de batalha final, mas essa é só a abertura do novo game de luta da Bandai Namco.
Recorrente desde a época do PS1, não é novidade que Tekken abrace o absurdo, algo que se manifesta no design dos lutadores e na trama de tretas familiares. É uma identidade firme, que a saga sempre soube como manter, mas hoje em dia o cenário de jogos de luta é bastante disputado. Assim, fica a dúvida: será que a bizarrice é o suficiente para que o game se destaque em meio a Street Fighter 6, Mortal Kombat 1 e afins?
Felizmente, por baixo das divertidas peculiaridades, Tekken 8 é frenético, viciante e muito robusto. A estranheza é sim grande parte do apelo, claro, mas é surpreendente como o espetáculo se mistura com mecânicas sólidas para criar um dos games mais satisfatórios do gênero.
Malabarismos e Rasteiras

A porradaria acontece de pé, com os lutadores em lados opostos, mas é possível continuar batendo no oponente no chão, no ar, contra a parede e muito mais. Por um lado, pode ser um pouco frustrante ser pego em sequências quase infinitas de golpes. Por outro, há bastante opções para se defender, esquivar e quebrar os combos rivais, além de ser muito satisfatório prender o rival em um combo desses que começa de pé, vai aos ares e termina no chão. O importante é estar do lado certo do sarrafo.
Seguindo a tendência de outros jogos de luta modernos, Tekken 8 quer muito ser convidativo aos novatos. O jeito que faz isso é um esquema de controle alternativo que simplifica bastante a jogabilidade: um botão dá golpes especiais, outro faz combos aéreos, um faz agarrões e rasteiras, e outro dá golpes poderosos para quebrar a guarda e interromper combos inimigos.
Simplista demais? Talvez, mas aqui funciona muito bem porque sair esmagando botões em Tekken é prazeroso como poucos jogos conseguem fazer. Além do mais, os recursos podem ser ativados rapidamente no meio de partidas, e garantem diversão imediata até para quem nunca encostou em um controle na vida.
O “xadrez mental” de entender a dinâmica da luta e explorar as fraquezas do adversário sempre foi e sempre será a essência de jogos de luta. Tekken 8 oferece isso aos veteranos e dá um gostinho para os novatos, mas, em ambos os casos, é possível argumentar que o apelo do game é o espetáculo.
Show da Porradaria

O jogador tem dois tipos de poderosos especiais à disposição, seja gastando uma barrinha que potencializa o impacto dos ataques (chamada de Heat Meter), ou então uma finalização devastadora que só é liberada quando se tem pouca vida, chamada de Rage Art. Ambas podem virar o rumo da partida, trazem variados movimentos acrobáticos, que são diferentes para cada lutador, e também são visualmente muito chamativos.
Além disso, os lutadores em si são um show à parte. Com 32 personagens jogáveis, é impressionante como o Tekken 8 já chega com quantidade e qualidade, já que os combatentes conquistam por serem drasticamente diferentes entre si.
Não só os golpes e estilos são variados, como seus designs são bastante criativos e suas personalidades, marcantes. Você pode escolher entre guerreiros japoneses bombados, uma feiticeira norte-americana, um espião que parece um John Wick francês, uma dançarina peruana viciada em café, ou então um urso gigante com um peixe robótico. Muitos são personagens recorrentes da franquia, mas ainda assim dá vontade de testar todos os lutadores.
Casos de Família

Recorrente desde 1995, a trama de Tekken é um grande “Casos de Família”, em que homens bombados lutam contra os próprios pais para tentar assumir o controle de uma megacorporação. No novo jogo, o perverso Kazuya não só consegue o trono corporativo, como também usa o exército privado da empresa (sim) para declarar guerra contra o mundo.
Com planos ambiciosos de reestruturação global, Kazuya oferece uma chance aos países que queiram servi-lo no novo mundo: um torneio de porradaria para filtrar as nações fortes das fracas. É aí que seu filho, Jin, vê um caminho direto para sair na mão com o pai, recrutando um grupo de aliados para ajudá-lo na jornada.
É uma premissa deliciosamente cafona, conduzida sem medo algum do ridículo. A briga pelo controle da empresa a lá Succession, o fato de que os lutadores se comunicam em diferentes idiomas como se fosse uma Torre de Babel, os monólogos introspectivos no meio das lutas, os momentos em que o jogo coloca dezenas de inimigos no seu caminho tal qual um musou — tudo é muito peculiar, e se você também for um novato nessa trama, a sensação que fica é a de começar um anime exagerado já pelo episódio 100. Você pode não fazer ideia do que está acontecendo, mas é difícil não ficar entretido pela escala e exagero dos conflitos.
Insira a ficha

Pensado como um tutorial narrativo, o modo permite criar um personagem do zero e te introduz à comunidade de jogos de luta dos fliperamas. Na trama, o lançamento do novo Tekken se torna um evento grandioso nos arcades, e seus amigos te inserem nesse mundo a partir de pequenos campeonatos em lojas de bairro. A partir dali, seu objetivo é crescer até conquistar os palcos dos grandes torneios.
É um modo um pouco mais básico, com diálogos em texto e personagens de visual mais simples, mas acaba sendo uma experiência adorável. O amor manifestado ali pela cultura dos fliperamas e pelo gênero até pode soar um pouco brega, talvez até comercial demais, mas é genuíno.
Na verdade, é uma tendência dos jogos de luta atuais, já que Street Fighter 6 também foi elogiado por um modo paralelo que traduz a essência dos arcades para a era online. É curioso notar como o berço do gênero segue tão influente ao ponto de inspirar homenagens saudosistas até nos próprios jogos. Games de luta estão vivendo uma nova fase de ouro, mas nunca vão deixar de olhar para trás.
No fim das contas, o acerto de Tekken 8 é justamente conciliar o passado e o futuro. É um jogo moderno, com ótimos gráficos pela Unreal Engine 5, feito para ser jogado online (com crossplay e rollback netcode, que garante partidas virtuais precisas) e tudo mais, mas que se mantém muito fiel ao espírito insano e ousado que colocou a franquia no mapa, lá em 1995.
É uma evolução para os fãs veteranos, e é acessível aos novatos sem a necessidade de se podar para atrair gente nova. Venha pela campanha e pelos lutadores completamente absurdos, e fique por um dos jogos de luta mais satisfatórios e empolgantes dos anos recentes.
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