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Shin Megami Tensei V: Vengeance é melhor versão de um RPG impiedoso | Review
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Shin Megami Tensei V: Vengeance é melhor versão de um RPG impiedoso | Review

Jogo expandido traz melhorias de qualidade de vida, mas não conserta narrativa

PH Lutti Lippe
PH Lutti Lippe
17.jun.24 às 16h10
Atualizado há 10 meses
Shin Megami Tensei V: Vengeance é melhor versão de um RPG impiedoso | Review
(Sega/Divulgação)

Shin Megami Tensei V é um jogo que vai na contramão do que a maioria dos RPGs japoneses tenta fazer hoje em dia. Afinal, faz todo o sentido uma Tóquio pós-apocalíptica tomada por uma guerra entre anjos ser um cenário opressor e desagradável de explorar.

Seguindo uma tradição da série que perdura por décadas, este é um jogo que quer te deixar com raiva. Mas a Atlus também sabe ser razoável, e Vengeance encontra os jogadores na metade do caminho: mesmo sem abrir mão do alto nível de dificuldade e de algumas mecânicas propositalmente enigmáticas, ele remove parte da fricção através de melhorias de qualidade de vida em relação ao jogo original.

Só que, por mais ambicioso que seja em sua expansão do que o primeiro Shin Megami Tensei V (2021), Vengeance ainda é, nos altos e baixos, essencialmente dois jogos distintos: um que é tecnicamente o melhor da franquia em praticamente todos os aspectos, e outro que representa um enorme regresso em termos de narrativa, que costumava ser um dos fortes da marca.

Foto de Shin Megami Tensei V: Vengeance A humanidade foi deixada para trás pela Tóquio do jogo (Imagem: Sega/Divulgação)

Um cenário hostil

No mundo de Da’at, em que o Satanás é quem humilha Jesus, o jogador precisa recrutar criaturas sobrenaturais – seja na base do argumento ou do suborno – para lutar ao seu lado e sobreviver aos perigos de uma jornada em direção ao fim de tudo. A facção dos demônios afirma que Deus está morto, e uma breve observação do estado em que Tóquio se encontra torna difícil argumentar contra.

A trama começa com uma rápida introdução do pré-apocalipse, mas logo transporta o protagonista para o que parece ser um deserto, onde ele é salvo por uma criatura chamada Aogami. Os dois se fundem, dando forma ao Nahobino: um ser que mistura o conhecimento dos humanos e a força das divindades.

A grande diferença na progressão da história em Vengeance é que, logo de cara, o jogador é obrigado a escolher entre dois “Cânones”: o da Criação, que contém a trama do Shin Megami Tensei V original, e o da Vingança, que traz a jovem estudante Yoko Hiromine e, junto dela, um rumo diferente para os eventos. As mudanças presentes no novo Cânone são impactantes, e até conduzem o jogador a uma área inédita, mas não chegam a configurar uma segunda campanha inteiramente nova, já que a maior parte da jornada segue inalterada além da narrativa.

Havia dentre fãs da série uma esperança de que a história nova em Vengeance consertasse os tropeços narrativos do jogo original. Forte em suas aspirações filosóficas, mas fraquíssima em execução, a história de Shin Megami Tensei V tem dificuldade em envolver o jogador por relatar eventos assustadores através da perspectiva de personagens incapazes de demonstrar emoções. É impossível sentir medo, por exemplo, quando eles reagem a situações de terror cósmico com diálogos que são equivalentes a citações de Shakespeare.

Infelizmente, os mesmos traços narrativos permeiam também o Cânone da Vingança, que muda, sim, a progressão da história de maneiras interessantes, mas insiste em centrar-se em personagens que agem como se estivessem desconectados dos eventos ao seu redor.

Foto de Shin Megami Tensei V: Vengeance Não se apegue muito aos demônios de seu grupo: eles são descartáveis (Imagem: Sega/Divulgação)

Quando uma unidade golpeia a fraqueza elemental de um oponente, ela ganha uma nova chance de atacar. Esta é a mecânica central das batalhas de turno do jogo, que transita de maneira violenta e constante entre o recompensante e o frustrante.

Construir times com demônios capazes de desferir golpes de todos os tipos é essencial para o sucesso em Shin Megami Tensei V. Um único ataque crítico no momento certo pode mudar completamente o rumo de uma luta – e isso vale tanto para o jogador quanto para seus inimigos. Particularmente em batalhas contra chefes, não é tão raro ver times com as fraquezas erradas serem varridos da existência em apenas um turno.

Por conta desta mecânica específica, o jogo prestigia aqueles que estão dispostos a descartar escalações inteiras de demônios com frequência. Recrutar novas criaturas é um processo bem ágil, assim como fundi-las com outras (ou com suas essências) para criar monstruosidades ainda mais fortes. Para o gênero, é algo bem diferente: em vez de grind constante, SMTV quer que você pratique a reinvenção constante.

Como os demônios são vistos pelo jogo como recursos descartáveis, porém, é confusa a inclusão do Antro dos Demônios como uma das principais novidades de Vengeance. Trata-se de um refúgio onde é possível conversar com e ser presenteado pelos demônios de seu time, criando relacionamentos com eles de uma maneira que parece avessa à lógica que rege o resto do jogo.

Foto de Shin Megami Tensei V: Vengeance A rota Cânone da Vingança tem uma série de antagonistas novas (Imagem: Sega/Divulgação)

Experiência única

Sendo o primeiro Shin Megami Tensei fora do Switch após a explosão de popularidade de Persona, é de se imaginar que muitos visitem Da’at atrás de um gostinho a mais do que aquela série spin-off oferece. E, a menos que sejam muito fãs do sistema de combate de Persona, estas pessoas provavelmente ficarão decepcionadas.

O mundo de SMTV é um enorme calabouço. Não há descanso para as batalhas, nem atividades paralelas que distraem o jogador do ciclo de vencer um chefe, explorar uma nova área e encontrar recursos para fortalecer sua escalação de demônios. Há colecionáveis e missões paralelas espalhados pelos mapas, mas a busca por elas sempre esbarra no risco de encontrar algum demônio mais forte do que o normal em combate.

Frente ao nível alto de estresse que o jogo oferece, as melhorias de qualidade de vida que Vengeance apresenta tornam a experiência muito mais proveitosa. A possibilidade de salvar o progresso a qualquer momento, em especial, é uma dádiva: perdi a conta de quantas horas vida desperdicei morrendo longe de um ponto de salvamento no SMTV original. Há também outras novidades que tornam o Nahobino mais poderoso em batalha, como habilidades inatas de cada demônio e novos "ultimates" Magatsuhi em grupo capazes de mudar o rumo de um embate.

Foto de Shin Megami Tensei V: Vengeance Ataques Magatsuhi em grupo são extremamente poderosos (Imagem: Sega/Divulgação)

No Nintendo Switch, a experiência é muito similar à do Shin Megami Tensei V original. Já nas plataformas mais potentes, a fluidez dos 60 quadros por segundo tornam a exploração do Da’at em alta velocidade muito mais proveitosa.

No fim, Shin Megami Tensei V: Vengeance chega como a melhor versão de um título que decepcionou muitos fãs mais aficionados, e também como porta de entrada ideal para quem passou décadas apenas ouvindo falar em Shin Megami Tensei.

E, para nós brasileiros, o título representa ainda mais: Shin Megami Tensei V: Vengeance é o primeiro jogo da série traduzido inteiramente para o português do Brasil. Durante meu tempo com o jogo, notei alguns erros pequenos de revisão – coisas como palavras com a grafia errada, ou então a ocasional falta de espaço entre duas palavras –, mas, no geral, a localização é muito boa.


Esta review foi feita com uma cópia digital do jogo cedida pela Sega.

Shin Megami Tensei V: Vengeance já está disponível para Nintendo Switch, PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X|S.

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