DOOM Eternal foi lançado em 2020, e não demorou muito para começar a circular uma polêmica envolvendo a trilha sonora de Mick Gordon. Ao mesmo tempo que foi bastante elogiada, o material foi liberado com qualidade duvidosa, e um lançamento da trilha oficial foi adiado indefinidamente. Agora, o compositor explica a situação: foi enganado pela id Software, desenvolvedora do game.
Quem começou jogando lenha na fogueira foi Marty Stratton, produtor-executivo do estúdio, que havia feito um longo post no Reddit em 2020 em que dizia que todos os problemas da trilha sonora eram culpa de Mick Gordon. A publicação apontava que o compositor era preguiçoso, pediu por muito mais dinheiro do que o inicialmente combinado, atrasou as entregas e se recusou a finalizar a trilha. Apenas em 2022, o músico se defendeu.
Em seu Medium, Gordon publicou uma carta com mais de 14 mil palavras em resposta às acusações de Stratton. O motivo, segundo o próprio, é não deixar nada aberto a interpretações: “Minha resposta é longa e detalhada para impedir que afirmações vagas se tornem rumores e especulações”, afirma no começo do texto.
Mick Gordon então descreve uma parceria insalubre com a id Software, onde foi pago para produzir uma determinada minutagem de música (142 minutos), mas acabou fazendo quase o dobro sem nenhum tipo de ajuste em sua remuneração ou contrato. Além disso, a empresa também supostamente colocou vários de seus protótipos e testes no jogo, mesmo que nunca tivessem sido feitos para serem lançados - tudo sem a autorização do compositor.
Pior ainda, a id Software anunciou que um álbum com a trilha sonora oficial seria parte da edição de colecionador de DOOM Eternal, e abriu pré-vendas para a edição sem nunca contratar Mick Gordon para mixar o disco. O próprio compositor explica que há grande diferença entre os arquivos do jogo, onde a música muda de acordo com as ações do jogador e o momento da fase, e a mixagem de um álbum feito para ser ouvido fora do contexto do game.
Gordon afirma que precisou fazer hora extra não-remunerada (prática conhecida como crunch) para atender os prazos apertados do estúdio, chegando a trabalhar cerca de 18 a 20 horas por dia. No fim das contas, ele conta que ainda foi cortado das etapas finais do projeto, e que a implementação precária foi conduzida por outro membro do estúdio, que ainda ganhou crédito de co-compositor.
No texto, o músico diz que lidou com todas essas frustrações diretamente com Marty Stratton. Segundo ele, o produtor-executivo topou sentar e conversar sobre soluções práticas, começando com um texto aberto ao público, redigido pelos dois. Gordon afirma que Stratton passou a ignorá-lo de repente, e publicou aquela carta no Reddit durante esse tempo.
Mas o que levou Mick Gordon a se manifestar apenas anos depois do ocorrido? Segundo o próprio, um compromisso com a verdade, e também o fato de que a carta de Marty Stratton culminou em diversas oportunidades perdidas, ofensas na internet e até mesmo ameaças de morte a ele e sua família. O compositor acredita que só conseguirá reverter a situação ao abrir o jogo e detalhar toda sua experiência, incluindo citar “uma oferta em dinheiro de seis dígitos” para não falar mais sobre as complicações que passou no desenvolvimento da trilha sonora.
Até o momento, nem Marty Stratton, a id Software e nem a Bethesda, publicadora do game, se manifestaram sobre o texto de Mick Gordon. Vale lembrar que o compositor não retornou para as expansões de DOOM Eternal, que tiveram música por Andrew Hulshult (Dusk).
De lá para cá, Mick Gordon passou a trabalhar em projetos fora dos games, tendo produzido o álbum “Post Human: Survival Horror”, da banda Bring Me The Horizon, além de outros trabalhos com artistas de rap e eletrônica. O compositor já trabalha em novos jogos, incluindo a trilha sonora do shooter russo Atomic Heart e de Routine, game de terror que ganhou novo trailer em 2022.