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CorpoNation: The Sorting Process cria impactante distopia corporativa | Review
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CorpoNation: The Sorting Process cria impactante distopia corporativa | Review

Game indie a lá Papers, Please imerge o jogador em um pesadelo trabalhista

Arthur Eloi
Arthur Eloi
11.mar.24 às 18h44
Atualizado há mais de 1 ano
CorpoNation: The Sorting Process cria impactante distopia corporativa | Review
CorpoNation: The Sorting Process/Divulgação

Cada dia se torna mais difícil não ficar ansioso com o futuro, especialmente no que diz respeito ao trabalho. Os expedientes se tornam mais longos, os salários se mantêm estagnados, a precarização avança violentamente. Sensível à sociedade que está inserida, a cultura pop tenta explorar os complexos sentimentos de exploração, injustiça e cansaço generalizado, seja na TV, cinema ou nos games.

CorpoNation: The Sorting Process é um bom exemplo disso. Primeiro jogo do estúdio britânico Canteen, publicado pela PlayTonic (Yooka-Laylee), a obra insere o jogador em um mundo em que o corporativismo não só é um estilo de vida, mas a realidade toda.

Trabalhar Cansa

Em CorpoNation, tudo gira ao redor do trabalho [Créditos: Captura de Tela]
A trama segue Max, novo funcionário da CorpoNação Ringo, uma corporação gigantesca que funciona, essencialmente, como um país, fornecendo emprego, moradia, alimentação, informação e lazer para os trabalhadores. Como parte do setor de genoma, seu objetivo é separar amostras de DNA todos os dias.

Logo, um movimento revolucionário, que busca acabar com esse pesadelo, tenta cooptar Max como infiltrado da causa, colocando o jogador na encruzilhada entre ser um funcionário exemplar, ou se arriscar para acabar com o sistema todo.

O game traz uma agradável estética retrô, com gráficos pixelados que remetem a clássicos japoneses de PC, o que aumenta a aura de distopia cyberpunk do conto. As mecânicas são simples, apenas com cliques do mouse, e tudo gira ao redor de um minigame de catalogação, que fica progressivamente mais complexo.

As amostras aparecem em tubos e é preciso separá-las, com critérios variados para isso, dependendo das demandas do dia. Ora é pelo formato molecular, ora pelo padrão das amostras, ora pela numeração e, ocasionalmente, por tudo isso ao mesmo tempo e mais. O tempo é curto, e erros são descontos diretamente do pagamento.

Jogabilidade de CorpoNation é baseada em um repetitivo e desafiador minigame de catalogação [Créditos: Divulgação]
A ideia é que tudo seja desafiador e repetitivo. Há dias mais fáceis, e há dias em que é muito difícil dar conta de todos os pedidos, da velocidade que aparecem as amostras, dos vários processos tediosos que vão se acumulando. Os dias são curtos, durando apenas alguns minutos, mas o objetivo dos desenvolvedores é que você vá ficando cada vez mais cansado.

Em essência, remete a Papers, Please. O queridinho indie de 2012, sobre trabalhar na imigração de um país soviético, é influência direta e assumida dos desenvolvedores, mas aqui há outras prioridades. A jogabilidade, ainda que divertida, é menos empolgante do que a excelente escrita do jogo, que carrega a experiência nas costas.

Mundo Patrocinado

Trabalhar bastante para poder bancar um cubículo e encher de porcarias [Créditos: CorpoNation: The Sorting Process/Captura de Tela]
Muita atenção é dedicada ao mundo exterior ao trabalho, que não é tão externo assim. Todos os dias, o jogador vai para o expediente, trabalha, volta para casa e mexe no computador antes de dormir, para recomeçar o ciclo no dia seguinte. O apartamento do protagonista fica nas dependências da empresa, mediante ao pagamento mensal de aluguel. O computador é cedido pela corporação, que também fornece o conteúdo consumido, como jogos com monetização predatória, regados a microtransações, e notícias chapa-branca, assinadas por um setor de comunicações interno.

Ler as “notícias”, conversar com outros funcionários no bate-papo, receber e-mails infestados de slogans motivacionais e incentivos a gastar seus créditos suados — tudo isso dá um gostinho daquela bizarra realidade, que frequentemente se parece com a nossa, apesar de todos os exageros. É um caso de sátira tão absurda e na cara, que acaba sendo meio triste notar as semelhanças.

O game leva a outro patamar a idolatria a figura de executivos poderosos, ou a adoração a empresas, e coloca o jogador no centro de uma vida sem cor e sem sal, que têm pouco propósito além de trabalhar e gastar dinheiro. Quando surge a possibilidade de se aliar com os que querem derrubar a corporação, a mera ideia de quebrar essa dinâmica soa sedutora demais para se amedrontar pelo perigo de ser pego conspirando e desviando recursos.

CorpoNation não é exatamente satisfatório, mas ajuda a lembrar que o sentimento de cansaço é geral [Créditos: Captura de Tela]
Talvez a maior questão para CorpoNation seja o ritmo. Por mais que o desenrolar dos eventos soe bastante orgânico, e a repetição seja parte essencial do argumento central, se torna rapidamente cansativo viver o mesmo ciclo todos os dias, ainda mais com o jogo ultrapassando as cinco horas de duração. Isso não o impede de ser um bom game, mas pode não cair no gosto de muita gente mais impaciente — especialmente aqueles que, assim como o protagonista, costumam jogar como escapismo do trabalho e responsabilidades.

Essa é a grande questão das distopias corporativas: confrontar o escapismo e oferecer uma dose de realidade, para nos lembrar que é possível lutar contra uma vida que não seja ideal. O impacto da mensagem vai de acordo com a energia de quem a recebe, mas obras como CorpoNation são um bom lembrete que há sim certa universalidade na desesperança e no cansaço de lidar com o mundo moderno. Pode ser sombrio, mas é estranhamente reconfortante, já que, no fim das contas, é um lembrete de que não estamos sozinhos nessas sensações.

CorpoNation: The Sorting Process está disponível para PC. A review foi feita com base em cópia cedida pela desenvolvedora. Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.

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