No boom das produções nacionais, o horror lentamente começa a conquistar espaço no cenário indie brasileiro. Cada vez mais desenvolvedores buscam revisitar jogos clássicos formativos, como influência para contar histórias macabras ambientadas no nosso país. Dessa leva, Asleep é um dos destaques.
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Produção da Black Hole Games, estúdio de Teresina, no Piauí, o jogo está em desenvolvimento desde 2021. Nesse tempo, marcou presença em diversos eventos e também arrecadou mais de R$ 95 mil em uma campanha de financiamento coletivo de sucesso. Agora, o primeiro ato do game enfim foi lançado, repleto de boas ideias e algumas ressalvas importantes a serem resolvidas no Ato 2.
Ambientada no nordeste brasileiro, durante a década de 1990, a trama segue Ana Lúcia, uma jovem que é atormentada por perturbadores pesadelos. As ocorrências noturnas se intensificam, e logo a jovem se vê em uma realidade aterrorizante, e precisa lutar pela sobrevivência para escapar.
Sonhos incansáveis

Ao melhor estilo Tropicália, o jogo mescla a homenagem à obra estrangeira com elementos fortemente brasileiros, criando um contraste intrigante entre a referência japonesa e o imagético nacional de cidades pequenas, muros pichados, vendinhas de garagem, cozinhas com filtro de barro e botijão de gás com paninho de crochê.
Trazer Silent Hill para a realidade brasileira é o maior triunfo do projeto, tanto em termos de atmosfera quanto em jogabilidade. Em especial, o game acerta em cheio em reproduzir a exploração, tão marcante na saga clássica — só que com o desafio de fazer isso em perspectiva 2D, que essencialmente reduz tudo a grandes corredores.

Além de navegar pelo mapa, Ana Lúcia ainda esbarra com criaturas, mas o game não oferece nenhum tipo de combate. A única arma contra o desconhecido é a mesma lanterna usada para iluminar ambientes escuros. Com apenas dois tipos de criaturas, a jogabilidade usa a simplicidade com elegância: é possível paralisar alguns monstros com a luz, mas tomar cuidado com outros que ficam ainda mais agressivos ao serem iluminados. Assim, é preciso ouvir atentamente aos grunhidos e risadas pelas fases, para não acabar entrando em confrontos desnecessários.

É bom que dizer que o forte realmente é a jogabilidade, como a administração de inventário, a busca por salas seguras para salvar o progresso, ou o ato de quebrar a cabeça para resolver puzzles. A trama, por sua vez, não é tão original, com revelações previsíveis e alegorias rasas. Curiosamente, a forma como tudo se desenrola funciona bem o bastante para motivar o jogador a seguir em frente.
Tropeço no escuro

Os controles também deixam muito a desejar. O game pode ser jogado como point-and-click tradicional, clicando onde ir e com o que interagir, ou pelas setas de direção. Em ambos os esquemas, é enroscado e pouco fluído, com interações que pedem que o jogador esteja em posições específicas para responder. Frequentemente, ao tentar interagir com uma porta ou espelho, você verá Ana Lúcia girando de um lado para o outro. Junte isso com a dificuldade de visualizar os caminhos e o resultado é uma briga contra os controles, algo especialmente complicado quando sendo perseguido por criaturas.

No fim das contas, o saldo de Asleep é positivo. O game demonstrou bastante progresso desde que foi apresentado, lá em 2021, e chega com um conto de terror com gostinho brasileiro, feito sob medida para as muitas viúvas de Silent Hill. O Ato 1 pode não ser nada bombástico, mas um teaser do Ato 2 demonstra que os desenvolvedores estão prontos para ir além da homenagem, com a continuação ambientada em uma roça brasileira, até mesmo com bodes demoníacos medonhos.
É um projeto que tem muito potencial nas mãos. Caso o Ato 2 lapide os problemas e tente mais ideias originais, o game só se beneficiará de encontrar a própria voz.
Asleep: Ato 1 já está disponível para PC. O código do jogo para o preview foi cedido pela publicadora Nuuvem.
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