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Mullet MadJack é um dos melhores e mais malucos indies da década | Review
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Mullet MadJack é um dos melhores e mais malucos indies da década | Review

Criado por três brasileiros, o FPS parece ter saído de um anime violento dos anos 1990

Tayná Garcia
Tayná Garcia
14.mai.24 às 05h00
Atualizado há 11 meses
Mullet MadJack é um dos melhores e mais malucos indies da década | Review
Mullet Madjack/Hammer95/Divulgação

Imagine um mundo que é regido por robôs bilionários, humanos hipnotizados pelo consumismo e megacorporações que lucram em cima da violência. Apesar de podermos traçar analogias com a vida real, esse é o universo distópico de Mullet MadJack — um jogo brasileiro que fará sua mente explodir. Quase literalmente.

Criado pelo estúdio Hammer95, composto por três desenvolvedores brasileiros, o jogo é um FPS, que parece uma mistura maluca entre Doom e Hotline Miami, com um toque de animes da década de 1980 e 1990, como Akira, Riding Bean e Neon Genesis Evangelion.

Mesmo com tantas referências, Mullet MadJack consegue esbanjar personalidade com uma proposta, a princípio, simples, mas que é tão bem feita e cheia de camadas que se transforma numa experiência única. E, ouso dizer, em um dos melhores indies da década.

O poder do mullet

Mullet MadJack coloca o jogador para controlar Jack, mercenário de uma megacorporação que faz lives de matanças em troca de likes e engajamento. O objetivo é invadir um prédio cheio de inimigos e matar todos que aparecerem pela frente para resgatar uma influencer, que foi sequestrada por robôs bilionários para um ritual.

Apesar da premissa objetiva (e meio doida, diga-se de passagem), o jogo subverte as expectativas com uma história com muitas reviravoltas, quebras de quarta parede e críticas sociais tão escancaradas que chegam a parodiar a vida real. Mas o que mais chama a atenção é como a trama conversa diretamente com a jogabilidade, fazendo com que cada elemento tenha um propósito narrativo — por mais maluco que seja!

Toda a “missão” do protagonista, por exemplo, é transmitida ao vivo para os espectadores pela internet, e isso reflete na câmera em primeira pessoa. Ou seja, tudo o que você vê é através da câmera da live, o que gera uma interface bem característica e chamativa.

A atmosfera do jogo é inquietante e esquisita, por cutucar “feridas” contemporâneas e ter uma identidade visual hipnotizante (Imagem: Mullet MadJack/Hammer95/Captura de tela)

Com ritmo completamente frenético, o foco do jogo é usar pistolas, metralhadoras ou espadas para eliminar os inimigos de um prédio inteiro, composto por 60 (!) andares. Não é preciso matar literalmente todo mundo, apenas sobreviver até alcançar o elevador pro próximo andar.

Isso porque há uma sacada divertida na jogabilidade de Mullet MadJack. Não existe uma “barra de HP”, e a vida de Jack é, na verdade, um contador de 10 segundos que o mata instantaneamente se não eliminar um robô no tempo limite. Ao matar, o público reage com likes — e a megacorporação recompensa o mercenário com uma dose de dopamina que o mantém vivo. Um sistema que, nas palavras da própria firma, é movido pelo lema de “quanto mais violência, mais dinheiro”.

Cada andar dura de 30 segundos a 1 minuto, uma vez que o ritmo é bem acelerado de forma proposital (Imagem: Mullet MadJack/Hammer95/Captura de tela)

Com nove capítulos ao todo, o jogador precisa finalizar cada fase de uma só vez para acionar um checkpoint (salvando, assim, o progresso feito até então), o que se deve à essência roguelite de Mullet MadJack. Se morrer no meio, terá que recomeçar o capítulo em questão.

Todas as fases têm um objetivo parecido: chegar ao fim de vários andares gerados aleatoriamente para enfrentar um chefão. Mas, assim como a história, a jogabilidade também tem reviravoltas, então espere por chefes que exigem mais do que uma pancadaria para serem derrotados e chegam até a brincar com outros gêneros de jogos.

Os corredores dos cenários são propositalmente estreitos, o que torna a experiência mais frenética, viciante e divertidíssima, em que a estratégia é sair atirando em tudo que move, esquivar de armadilhas e evitar que o contador zere.

A movimentação é fluida e ágil, e o level design (ou seja, design de fases) evolui ao progredir. Obstáculos como correntes em portas, poças de ácido e plataformas quebráveis começam a aparecer, dificultando a tarefa de sobreviver no meio de tanto caos, matança e sangue espirrado. É preciso pensar muito e rápido para sobreviver, o que faz o gameplay ser bem desafiador e empolgante.

Entre as fases, também é possível desbloquear melhorias temporárias para transformar Jack em uma máquina de matar ainda mais potente, intensificando o combate. Alguns dos upgrades, por exemplo, podem aumentar a chance de dano crítico ou até ceder um segundo a mais de “vida”. Outros já são zoeiros, como soltar a língua do protagonista para frases de efeito como “sinta o poder do mullet!” aparecerem com mais frequência.

Perdoe o clichê, mas alguns diálogos são um soco no estômago no jogador (Imagem: Mullet MadJack/Hammer95/Captura de tela)

Como se tivesse saído de um anime violento e sangrento da década de 1990, Mullet MadJack apresenta uma estética retrofuturista, aspecto 2D e traços característicos de animações japonesas, além de leves falhas e instabilidades de televisores velhos, que dão uma alma das antigas à experiência. Existem ainda detalhes no mesmo estilo na própria interface, como janelas de publicidade de computadores de tubo e fontes antiquadas.

Isso nos leva a outro aspecto que impressiona no indie brasileiro: uma forte identidade visual, que é nostálgica para os amantes de cultura asiática e extremamente cativante. Há um cuidado da direção de arte em usar cores fortes para criar uma atmosfera que intensifica o frenesi da jogabilidade, com boas doses de gore e tripas voando para todo lado.

Nostalgia é um dos pilares do jogo do Hammer95! (Imagem: Mullet MadJack/Hammer95/Captura de tela)

Pela natureza roguelite, Mullet MadJack é criado para ser viciante — e acerta em cheio na proposta. Isso porque, ao finalizar cada capítulo, o jogador é avaliado em um sistema de rank e uma tabela com detalhes da matança (como quantidade de tiros na cabeça, explosões e afins), incentivando a melhorar o desempenho cada vez mais.

Além disso, há o Modo Infinito que, como o próprio nome indica, só acaba quando Jack for derrotado, além de exibir um placar global com pontuações de outros jogadores ao redor do mundo. É a maneira perfeita para estender a jogatina se você se viciar no combate — o que, fica o alerta, é bem fácil de acontecer…

Por fim, o jogo também oferece diferentes níveis de dificuldade, desde um "Fácil" sem o tempo contado de Jack, até um punitivo modo de morte permanente (em que, ao morrer, é preciso jogar literalmente tudo do zero). Porém, não há mecânicas voltadas para acessibilidade além disso.

Chefe da pilha de escombros

Cheio de personalidade, Mullet MadJack é um jogo que abraça completamente a maluquice — e quer que você faça o mesmo.

Entre tripas, corredores infinitos, referências a Akira e chefes mirabolantes, o FPS nasce como um clássico indie, que me faz querer terminar logo essa análise só para encarar mais alguns robôs bilionários. É uma experiência verdadeiramente única e indispensável, que também marca o cenário brasileiro de jogos eletrônicos com uma lindíssima voadora do Jack.


Mullet MadJack será lançado no dia 15 de maio para PC e Nintendo Switch.

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