De tempos em tempos, fenômenos tomam conta da cultura pop, e não é diferente com produções otakus. Nos últimos anos, animes/mangás como Demon Slayer e Jujutsu Kaisen ganharam uma base gigantesca de fãs, mas há outra história que merece destaque: Spy x Family.
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O mangá de Tatsuya Endo começou a ser publicado em 2019, e rapidamente se tornou popular, algo que só aumentou com o lançamento do anime em 2022. Todo esse sucesso meteórico culmina no lançamento de Spy × Family Código: Branco, filme que ressalta o que a franquia tem de melhor.
Para começar, é bom dizer que o longa pode facilmente ser uma porta de entrada para quem ainda não conhece a história. Logo no começo, a produção se preocupa em explicar que a família do título não é o que parece. Loid Forger (voz nacional de Guilherme Marques), o pai, é na verdade um importante espião, conhecido como Twilight, que forma a família apenas para servir ao seu disfarce. A mãe, Yor Briar (voz nacional de Maíra Paris), é uma assassina profissional, que aceita estar no casamento só para não levantar suspeitas. Bond (voz nacional de Victor Moreno), o fiel cãozinho, passou por experimentos, por isso consegue prever o futuro. E a jovem Anya Forger (voz nacional de Nina Carvalho), maior carro-chefe da franquia, é uma telepata, que lê os pensamentos de todos – e os interpreta das formas mais engraçadas possíveis.
Os três vivem no contexto de uma “guerra fria” entre as nações fictícias de Ostania e Westalis, e a grande missão de Loid, chamada Operação Strix, é se aproximar de uma das lideranças de Ostania e evitar que uma guerra real aconteça entre os dois países. Com esse contexto, o filme coloca a família em uma viagem, mas as coisas começam a dar errado quando Anya entra, sem querer, no meio de uma conspiração envolvendo um chocolate e um microfilme, que armazena informações importantes.
Tal história não é uma adaptação do mangá de Endo, e sim uma trama inédita para as telas, que irá depois para a publicação. Neste sentido, é interessante ressaltar como o roteiro de Ichirô Ôkouchi mostra uma evolução natural da franquia. Com créditos no próprio anime de Spy x Family e no recente Kaiju No. 8, Ôkouchi se afasta da ideia de “episódios em uma tela grande”, e cria uma narrativa coesa, com começo, meio e fim, que dá espaço para cada personagem se sobressair, e também funcionar dentro da equipe disfuncional que é a família Forger.
Claro, Anya brilha quando está em tela, e os momentos de fofura da garota são facilmente os melhores da produção, mas há um grande mérito em dar espaço também para Loid e Yor, que possuem histórias igualmente interessantes e misteriosas. Ouso dizer que tal equilíbrio, inclusive, intensifica os momentos de Anya, que se tornam ainda mais aguardados e celebrados ao longo do filme.
O absurdo que funciona

Quem não está acostumado com o anime de Spy x Family talvez estranhe uma característica curiosa da trama: muitas coisas (mesmo) acontecem pelo mais profundo acaso. Isso quer dizer, por exemplo, que uma ação boba de um dos protagonistas pode salvar outro, que está em outro lugar em uma batalha terrível. Em Código: Branco, tal característica é levada a alguns extremos, que podem até gerar um certo incômodo aqui ou ali. Porém, os personagens de Spy x Family são tão carismáticos, que tal sensação rapidamente dá lugar a uma suspensão de descrença genuína.
É um acerto, aliás, que o filme não tente explicar ou amenizar o absurdo, para forçar o espectador a aceitá-lo. Em vez disso, a produção cria uma história tão cativante em meio ao caos, que, quase sem perceber, rimos e lembramos que estamos assistindo a um filme de anime, totalmente ficcional, que existe acima de tudo para divertir. Código: Branco cumpre tal tarefa tão bem, que não é raro dar uma risada sincera de um momento que é completamente descabido, mas ainda assim funciona.
Tal característica também é bem aproveitada na parte técnica do longa. Além de utilizar os recursos de computação gráfica de forma certeira, apenas como complemento, sem nunca roubar a cena, Spy × Family Código: Branco alterna estilos de animação em momentos específicos, como quando precisa mostrar Anya transcendendo a vontade de usar o banheiro, ou Loid em uma luta de igual para igual. Com isso, o filme cumpre o papel de tirar o melhor que a animação pode oferecer, sem medo de brincar com conceitos, texturas, cores e mais. Tais cenas trazem ainda uma bem-vinda sensação de novidade para os fãs do anime, acostumados ao estilo mais tradicional da produção.
Com isso, felizmente, Spy × Family Código: Branco é uma ótima adição à nova leva de filmes longa-metragem inspirados em anime. Se afastando do conceito de ser apenas uma “colagem” de episódios, o filme funciona por si próprio e cumpre bem os papéis de ser interessante o suficiente para quem já ama a franquia, e um bom começo para quem quer começar a acompanhar as aventuras de Anya e sua bela e confusa família.
O longa está em cartaz nos cinemas brasileiros.