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Nosferatu de 1922 quase foi apagado da história antes de virar cult
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Nosferatu de 1922 quase foi apagado da história antes de virar cult

Adaptação não autorizada de Drácula foi ordenada à extinção, mas sobreviveu e mudou o horror para sempre

Arthur Eloi
Arthur Eloi
07.jan.25 às 15h03
Atualizado há 6 meses
Nosferatu de 1922 quase foi apagado da história antes de virar cult
(Reprodução)

Os fãs de horror começam 2025 em festa com a estreia de Nosferatu, novo filme de Robert Eggers (A Bruxa, O Farol) que reimagina um dos maiores clássicos do Expressionismo Alemão. Acontece que o filme original, de 1922, nem sempre foi esse marco do cinema: quando saiu, há mais de 100 anos, quase foi exterminado da história do cinema.

Acontece que o longa de F.W. Murnau é uma adaptação não autorizada de Drácula, o romance essencial de vampiros escrito por Bram Stoker. E isso, claro, acabou se voltando contra o diretor e a produtora.

No início do século 20, o nome de Murnau crescia como um dos principais no cinema alemão, que vivia uma movimentada e reflexiva fase de reconstrução após a derrota da nação na Primeira Guerra Mundial. A dedicação do jovem cineasta chamou a atenção do produtor Albin Grau, que o contratou para dirigir a primeira obra da Prana-Film, produtora inaugurada em 1921, inteiramente dedicada a obras macabras, que flertam com o ocultismo.

Grau serviu nas trincheiras durante a Grande Guerra, e se tornou fascinado pelo conceito de vampirismo ao escutar lendas urbanas de fazendeiros e observar aranhas sugando o sangue de presas indefesas. Assim, decidiu que o primeiro filme da Prana, sob o comando de Murnau, seria nada mais que a adaptação de uma das mais populares histórias de vampiro da época: Drácula, o romance de Bram Stoker, originalmente publicado em 1897. Mas Grau não conseguiu os direitos da obra.

Copia mas não faz igual (mesmo)

Imagem de Nosferatu Nosferatu mudou alguns conceitos, mas contava, no geral, a mesma história de Drácula (Reprodução)

Stoker faleceu em 1912 e, a partir deste momento, foi sua esposa, Florence Balcombe, que passou a administrar o patrimônio do falecido marido. Em vida, o autor irlandês não lucrou tanto com Drácula, apesar das boas avaliações e da popularidade do romance macabro. Portanto, a viúva não era muito suscetível à adaptações do precioso trabalho pelo qual Stoker tanto se dedicou a criar. Mas isso não impediu Albin Grau, F.W. Murnau e a equipe de levarem o projeto para as telas.

Sem os direitos em mãos, a equipe — que contava ainda com o roteirista Henrik Galeen (O Golem) — mudou vários elementos para driblar o plágio direto. A trama era praticamente a mesma, mas todos os personagens ganharam novos nomes, com a principal diferença sendo o conde vampiresco Drácula adotar o nome de Orlok. A missão do vampiro mudou de cenário: em vez de Londres, buscava uma mansão na Alemanha.

Além da safadeza burocrática, as alterações também ajudavam a tornar a história mais próxima do público alemão, visto que a ideia era que o Nosferatu fosse exibido apenas no país. Apesar de tudo, a “inspiração” em Drácula é reconhecida nos créditos de abertura do longa.

A mídia alemã da época cobriu extensivamente a produção. A pré-estreia, em 1922, foi um luxo só, com um baile antes da exibição do filme. As avaliações foram positivas, ainda que não tenha conquistado todos os críticos de primeira. De qualquer forma, tudo se alinhava para que virasse um sucesso absoluto — até que o processo veio.

Sobrevivente do fim: o legado de Nosferatu

Imagem de Nosferatu Efeito borboleta macabro: salvar as cópias do Nosferatu clássico chegou até o filme de 2025 (Divulgação)

Furiosa, Florence Balcombe processou a Prana-Film pela adaptação não autorizada. Mesmo com as mudanças, era impossível defender o caso de Nosferatu como algo além de um plágio descarado. O veredito foi impiedoso: além de uma enorme compensação em dinheiro, todas as cópias do filme teriam de ser destruídas. A produtora não só acatou, como também faliu por conta do processo. O filme foi o único projeto da Prana-Film.

Mas há motivos para a história não ter acabado por aí: algumas poucas cópias sobreviveram, gerando as várias contribuições de Nosferatu aos vampiros, ao gênero de horror e ao cinema como um todo.

O filme traz uma versão aterrorizante do vampiro, sanguinário e de aparência marcante, com uma performance medonha e inspirada por Max Schreck. A direção de F.W. Murnau enfatiza o clima macabro. As cenas das sombras de Orlok projetadas na parede não só se tornaram uma das principais representantes do movimento do Expressionismo Alemão, como também demonstraram toda a força do então nascente cinema de horror.

É, sem dúvidas, uma das obras mais influentes da história — e isso foi reconhecido até por quem a processou. Vendo o enorme sucesso e qualidade de Nosferatu, a viúva de Bram Stoker percebeu o potencial de Drácula além das páginas, e permitiu uma adaptação teatral do livro já em 1924, dois anos após o filme alemão.

A peça foi um sucesso gigantesco, rodando Londres e Nova York. Nos palcos, um ator húgaro chamado Bela Lugosi emprestava seu charme para o Conde Drácula — sendo que, em 1920, havia trabalhado com F.W. Murnau em uma adaptação de O Médico e o Monstro que, diferente de Nosferatu, acabou perdida para sempre.

Foi essa aclamação nos palcos que despertou o interesse da Universal Pictures em explorar o horror nos cinemas. No início da década de 1930, após a transição do cinema mudo para os filmes com som, o estúdio decidiu tentar a mão no gênero, considerado aposta arriscada na época.

Diferente de Albin Grau e a Prana-Film, a Universal comprou os os direitos para adaptar o livro de Bram Stoker nas telas, mas até esse projeto trazia um gostinho de Nosferatu ao contratar como diretor de fotografia Karl Freund, o responsável pelo visual de Metrópolis (1927), um dos principais representantes do Expressionismo Alemão. Não é preciso dizer que Drácula (1931) foi um sucesso: o longa, estrelado por aquele mesmo Bela Lugosi dos palcos, se tornou outro pilar do horror do cinema, dando início a era de ouro dos "Monstros da Universal".

Imagem de Bob Esponja Até o desenho Bob Esponja brinca com a figura clássica de Nosferatu (Reprodução)

A medonha criatura de F.W. Murnau inspirou diversas outras obras, de A Hora do Vampiro, de Stephen King (1975), à comédia O Que Fazemos nas Sombras, de Taika Waititi (2014). A história do filme também foi dramatizada em A Sombra do Vampiro (2000), que reconta os bastidores da produção de forma divertida, como se Murnau tivesse contratado para o filme um vampiro de verdade (vivido por ninguém menos que Willem Dafoe).

Além de, claro, dois remakes, sendo um por Werner Herzog, em 1979, e outro mais recente por Robert Eggers. Nada disso seria possível se não fosse pelas cópias sobreviventes de Nosferatu, que foram devidamente restauradas, modernizadas e hoje são parte do domínio público, para que o legado macabro do conde Orlok viva para sempre.

Clássico de 1922, Nosferatu pode ser assistido na íntegra no Youtube. Já a versão mais nova, de Robert Eggers, está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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