Coringa: Delírio a Dois marca a estreia da Arlequina, clássica personagem do universo do Batman, que chega ao filme com uma intérprete de peso. A convite da Warner Bros, o NerdBunker participou de uma entrevista presencial com a equipe do filme, incluindo Lady Gaga, que explicou o que diferencia essa nova versão da Arlequina em comparação às que vieram antes
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Lady Gaga explica que o primeiro passo, surpreendentemente, seguiu a tradição das anteriores em pensar na Arlequina com base no Coringa. Porém, daí já vem a primeira grande mudança, já que estamos falando de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), uma versão muito diferente do tradicional:
“Sabe, quis torná-la o mais real possível e construir a alma dela ao redor dessa história. E também encontrar um par para o Coringa e para Arthur Fleck. Porque nesse filme, o Coringa também é o Arthur Fleck, e me diverti e desafiei ao construir a força dela.”
Com Fleck e o roteiro do novo filme em vista, Gaga construiu a personagem misturando elementos clássicos, como a devoção a ele, com características particulares:
“Ela é ela mesma enquanto, às vezes, apaga completamente quem é porque não conhece nada além dele. E tudo, cada momento de sua vida é dedicado a ele. Minha Lee, minha Arlequina, não é uma vítima, e ela está tentando tirar o Coringa de Arthur o tempo todo. É isso que ela quer. Sabe, acho que cabe ao público descobrir por si mesmo como se sente sobre isso. E você sabe as intenções dela.”
Aos jornalistas, o diretor e corroteirista Todd Phillips compartilhou alguns dos principais temas de conversa com a atriz para encontrar sua versão da Arlequina. “Falamos muito sobre Arthur, doença mental, relacionamentos tóxicos, muitas coisas”, explica.
Porém, o cineasta joga uma outra luz na admiração que essa a personagem nutre para com o Coringa:
“Ela está apaixonada por uma parte do Arthur que foi extinta desde o primeiro filme. Ela se apaixonou por ele na TV. (...) É quase como se você estivesse se apaixonado com Kiss, a banda de rock. Você ama o Kiss, mas acorda na manhã seguinte ao lado de Gene Simmons [risos]. É uma coisa diferente, então ela se apaixonou por essa ideia do que Arthur é. Pelo Coringa. Mas, na verdade, ele é Arthur, então falamos muito sobre isso.”
A metáfora com o Kiss ganha uma força curiosa quando Lady Gaga começa a falar sobre as cenas da Arlequina, em Delírio a Dois, que envolvem maquiagem. Questionada sobre o simbolismo por trás do momento em que a personagem pinta o rosto como uma palhaça, a atriz arregala os olhos para falar de um momento “realmente intenso”:
“Mesmo como alguém que faz experimentos com maquiagem para o palco o tempo todo, oloquei muito significado nela porque sabia o que aquela pintura significava, e também veio dele. Então, para mim e para minha versão da Arlequina, a maquiagem veio da obsessão dela com ele. E como ela deveria se sentir ao se encontrar ao mesmo tempo em que estava perdida em meio a tudo?”

Mas não para por aí. “Também me diverti ao colocar maquiagem no Coringa”, disse Gaga. “Sempre pensei que aquela cena é realmente poderosa. Que, para ser feliz, ela poderia transformar em arma a coisa que o fez sentir tão forte.”
Essa dinâmica foi comentada pelo próprio Joaquin Phoenix, intérprete do Coringa. Segundo ele, há um equilíbrio macabro entre seu personagem e a Arlequina. “De certas formas, Lee e Arthur quase se tornam iguais, de certas formas, e no fim ela é a mais poderosa e quem está mais no controle”, refletiu.
Arlequina e Lady Gaga, metamorfoses ambulantes
Por fim, Lady Gaga explica que parte importante da personagem foi abraçar a natureza humana da contradição. Por acreditar que todas as pessoas são “contradições ambulantes”, a atriz focou em modernizar a adoração da Arlequina pelo coringa, um conflito que acompanha a personagem desde a concepção:
“Pensei muito sobre como seria, no momento atual, interpretar uma mulher obcecada com um homem ao ponto disso definir todo o seu ser, cada escolha e tudo o que ela faz sendo enraizado em um homem. E, tipo, como isso a torna frágil? Mas, ao mesmo tempo, como ela também está totalmente no controle o tempo todo? Sabe, você poderia procurar no passado dela e se perguntar como ela ficou desse jeito. E talvez, para algumas pessoas, ela seja alguém que se tornou consequência das circunstâncias e da maneira como foi criada. Mas eu estava tão focada na admiração dela por alguém que foi tão deixado de lado, e como ela simplesmente o reverencia completamente por retomar o poder em sua vida.”
Por fim, a atriz dá dois centavos sobre a discussão trazida por Todd Phillips. Ela rejeita a ideia de que sua Arlequina ame apenas o Coringa – ou, na metáfora dele, ela ama o Kiss independente de estarem maquiados ou não:
“Nós realmente conversamos muito no set sobre quem ela realmente amava. (...) Mesmo que eu conheça profundamente o amor dela pelo Coringa, sempre tive uma convicção firme de que ela amava Arthur também. Acho que nessa história, você não pode gostar totalmente... Ela não poderia amar totalmente o Coringa, esse Coringa, sem amar o Arthur. E, sabe, acho que essa é a perspectiva que eu, como mulher, posso trazer para isso. Que podemos manter essas duas coisas.”
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Com direção de Todd Phillips e retorno de Joaquin Phoenix ao papel principal, Coringa: Delírio a Dois está em cartaz nos cinemas do Brasil.