Memórias são algumas das coisas mais preciosas que alguém pode ter. Elas definem quem você é, fazem com que você se lembre de quem é importante de verdade e ajudam a evitar perigos ou a repetir os mesmos erros. E é justamente a falta de memória a característica mais marcante da protagonista de Procurando Dory.
Logo no começo da história, a cirurgiã-patela, que passou de alívio cômico de Procurando Nemo para protagonista do próprio filme, tem um breve momento de lucidez que a faz se lembrar de algo importante: ela também tem uma família esperando por ela. A partir disso, a peixinha sai em uma jornada em busca de seus pais.
Doçura
Depois de 13 anos do lançamento do primeiro filme da franquia, muita coisa mudou não apenas na Pixar, mas também em aspectos técnicos de animações feitas em CG. Todos os personagens e cenários estão mais coloridos, detalhados e cheios de vida.
Quando a versão filhote de Dory entra em cena, ela não precisa dizer absolutamente nada para derreter corações. Nos trechos em que ela fala, é revelada uma criaturinha adorável, extremamente carismática e que desde cedo não conseguia se lembrar de nada. Mesmo assim, ela fazia parte de uma família que se unia para ajudá-la a lidar com suas dificuldades e prepará-la para o mundo.
O carinho dos pais da pequena cirurgiã-patela é o de uma família que entende que determinadas características que podem ser consideradas deficiências fazem parte de seus filhos. Com essa compreensão, o pai e a mãe de Dory se esforçam para que o processo de convívio com as outras criaturas seja o mais tranquilo possível, sem fazer com que ela se sinta inferior aos outros peixes e evitar que ela fique permanentemente dependente deles.
O filme deixa bem claro ao longo da narrativa que Dory não é incapaz de fazer nada por conta de sua memória curta. Ela pode ter mais dificuldades em executar algumas tarefas que são simples para outras pessoas, mas ela é muito mais do que uma peixinha esquecida.
A impulsividade, positividade e habilidade para achar soluções em situações complicadas da personagem funcionam tão bem que em determinados momentos podemos até dizer que ela esqueceu que aquela era uma tarefa impossível. Foi isso que a fez encontrar Nemo junto com Marlin e é isso que é ressaltado em Procurando Dory.
Desafios
Dory não é a única personagem do filme que passa por dificuldades por conta de uma característica diferente. Ao longo de sua jornada, ela encontra uma série de figuras que são únicas de sua própria maneira, como um polvo com apenas sete tentáculos e um tubarão baleia que nada muito mal.
Cada um a sua maneira encontra maneiras de conviver com as próprias peculiaridades e de ajudar uns aos outros a superar seus medos. Nenhum deles é retratado como inferior por ter um atributo diferente dos outros de sua espécie, apenas únicos.
Desespero
Em algumas cenas, quando a memória da peixinha simplesmente não colabora, as cores vibrantes de Dory se contrastam com cenários mais sombrios. Isso ajuda a expressar a angústia que a personagem sente em saber que esqueceu algo importante, mas não se lembrar exatamente o quê.
É desesperador não poder simplesmente gritar o que Dory esqueceu e ajudá-la naquele momento, mas é importante que ela possa superar sozinha os seus problemas. Situações dolorosas e dificuldades aparentemente intransponíveis fazem parte da vida e é preciso aprender a lidar com isso. Procurando Dory ensina a não desistir e a continuar a nadar mesmo que tudo pareça perdido.
Déjà Vu
A narrativa revisita alguns momentos marcantes do primeiro filme, como a carona com as tartarugas, e segue algumas linhas previsíveis, mas isso não faz com que a história seja menos cativante.
O longa expande o universo criado pela Pixar e usa uma personagem aparentemente ingênua para ensinar lições valiosas sobre superação dos próprios limites, perdas e a importância dos amigos.
Procurando Dory não é simplesmente uma continuação boba para arrancar dinheiro dos fãs de Procurando Nemo. Ela é uma sequência que está à altura de seu antecessor e que deverá marcar toda uma nova geração de fãs da Pixar.