Durante o mês de novembro, Tim Roth acompanhou Quentin Tarantino em sua visita ao Brasil durante a Turnê de lançamento de Os Oito Odiados. Na ocasião, tivemos a oportunidade de assistir à coletiva e de participar de uma mesa redonda com o ator para perguntar sobre o longa e a carreira.
Sobre a diferença entre trabalhar com Tarantino no começo da carreira e agora, Roth declarou que mesmo no início, a sensação não era de estar com um diretor de primeira viagem, mas sim de alguém que esteve fazendo isso por anos, e fazendo muito bem.
“Eu costumava pensar: se esse é apenas o primeiro, então ele tem muitas coisas grandes por fazer – e ele deve ter feito muitos mais na cabeça dele. Mas a carreira dele como diretor está quase acabando, não é? Ele tem mais uns dois filmes pela frente, e aí ele vai parar.”
Sem improvisos
Com roteiros tão ricos, não há muito espaço para improvisação, mas existe liberdade a respeito da maneira de interpretar um determinado personagem.
“Bom, com os diálogos, não é realmente necessário [improvisos]. Eles já englobam praticamente tudo. Mas em questão de performance, interpretar o personagem, ele nos dá muita liberdade. E eventualmente ele te chama de lado e sugere alguma coisa, algum jeito de dar outro ar pra coisa toda, então, bem, você se sente muito livre como ator – mas o diálogo é algo que você não quer mesmo mudar.”
“Geralmente, quando eu leio um script, como ator, eu preciso me preocupar em jeitos de cortar coisas – porque nem sempre funciona ou algo assim. Mas quando você pega um script do Quentin, você quer ficar falando o tempo todo. (risos)”
Entre todos os filmes de Tarantino que Tim Roth já participou, Cães de aluguel foi o que mais o deixou empolgado, por ter sido a primeira parceria com o diretor.
“Eu tinha acabado de chegar na América e estava procurando trabalho, e aí eu tinha apenas uma mesa, uma cadeira, um telefone, uma TV e um colchão direto no chão. Eu até recebi alguns scripts do meu agente, mas eu olhava e “ugh!”, até que vi o script [de Cães de Aluguel] e comecei a olhar, e depois de vinte minutos e vinte páginas, eu estava tentando falar com todo mundo, eu queria ser parte daquilo e daquela diversão. O nível daquela escrita era realmente fora do comum pra produções de cinema, e era algo realmente único.”
“Foi minha primeira experiência americana. Eu tinha feito só um filme antes disso, mas eu já tinha uns dez ou quinze anos de experiência de modo geral na Europa, e quando eu vim para a América, eu pensei “bom, isso provavelmente não vai dar certo, mas eu vou pelo menos tentar ser um ator na América”. E aí aconteceu. E aí eu fiquei – eu não voltei pra casa, simplesmente fiquei, e agora faz 25 anos que estou morando aqui. No final, isso realmente mudou minha vida. Esse tipo de coisa não acontece com muita frequência, mas aconteceu pra mim. ”
Colegas e séries
Ao ser questionado sobre a personagem Jennifer Jason Leigh, que interpreta Daisy Domergue, a condenada, em Os Oito Odiados, Roth só tinha elogios para a colega de trabalho.
“Eu amo a Jennifer. Ela é uma das minhas atrizes favoritas, e essa performance em particular foi maravilhosa. Mas o caminho que a personagem dela percorre – ela é certamente a personagem mais malvada de todo o elenco. [...] As coisas físicas que ela como atriz teve que suportar foram extraordinárias.”
Um dos trabalhos mais conhecidos de Tim Roth fora das telonas é Lie to Me, e ele explicou as diferenças entre trabalhar no formato para a TV e para o cinema.
“Bom, eu nunca fiquei tão cansado quanto fiquei durante Lie, foi realmente exaustivo.”
“Geralmente fazer filmes é um processo muito mais lento, mas nem tanto quando se trata do Quentin. Você geralmente trabalha horas muito longas, às vezes de manhã a manhã. Mas acho que vou voltar a fazer algumas coisas pra TV [...] e é algo que eu me sinto feliz em voltar, mas filmes têm muito mais a ver com a minha experiência, e eu me acho melhor nisso.”
México
Apesar de fazer muitos trabalhos com Tarantino, Tim Roth está fazendo parcerias também no México e pensa até em aprender uma nova língua.
“Eu acho que [2016] vai ser um ano bem ocupado! Eu ando falando bastante com esses cineastas mexicanos que eu trabalhei duas vezes no passado. Estive no primeiro longa dirigido pelo Gabriel Ripstein, 600 Milhas, e no quarto filme do Michel Franco, Chronic. Eu fiz esses dois filmes, e agora eu estou trabalhando em algo mais ligado com a produção para o próximo trabalho do Michel Franco, no qual eu não vou estar como ator. E eu eventualmente quero dirigir um filme no México, e eu tenho algo em mente, mas eu tenho que aprender um pouco de espanhol pra poder fazer isso (risos).”
“O México está mudando muito, é que nem a New Wave da França, e é algo que me deixa fascinado. Estão pegando temas muito difíceis e tratando de maneira extraordinária no ponto de vista de cinema, e para mim, está bom, eu posso ficar bem com isso! “
“E bom, eu continuo atuando, e eu estou trabalhando em algo que eu não posso falar sobre, mas que vai ser realmente empolgante e vou divulgar eventualmente.”
Confira também a entrevista com Quentin Tarantino e o review de Os Oito Odiados.