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Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam
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Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

Filme apresenta experiência inédita, mas não deixa a nostalgia de lado

Cesar Gaglioni
Cesar Gaglioni
16.nov.16 às 19h47
Atualizado há mais de 8 anos
Crítica | Animais Fantásticos e Onde Habitam

O ano era 2001. Eu, um menino de sete anos, fui acompanhado de minha mãe ao cinema. Lá, eu ouvi uma frase que mudou minha vida: "Você é um bruxo, Harry". Me sinto seguro em dizer que essa frase teve o mesmo impacto em mim do que "Que a Força esteja com você" teve na geração das décadas de 70 e 80.

Depois disso, Harry Potter me acompanhou por outros sete filmes e dez anos — sendo parte essencial da minha formação. Amizades maravilhosas com pessoas fantásticas foram fortalecidas e algumas das melhores memórias que tenho foram firmadas nas horas na fila do cinema esperando o próximo filme. Então, o anúncio e a estreia de Animais Fantásticos e Onde Habitam trazem consigo um peso emocional gigantesco em mim.

A nova era do Mundo Bruxo

A trama principal é simples: Newt Scamander (Eddie Redmayne) é um magizoologista que vai à Nova York buscar uma criatura rara. Lá, alguns de seus animais fantásticos escapam pelas ruas da Grande Maçã e cabe a ele recuperá-los.

O que poderia ser uma aventura sem sal e repetitiva, pela premissa simples, acaba se tornando peça essencial na construção de um arco maior, que vai ser mostrado nos próximos quatro filmes da saga. Logo na primeira cena, por exemplo, repleta de manchetes de jornais, já é estabelecida a presença maléfica de Grindelwald (Johnny Depp), o maior bruxo das trevas antes de Lord Voldemort.

animais

Dualidades

Visualmente, o longa consegue apresentar de forma eficaz o contraste entre a jornada de Newt e o destino do mundo bruxo, misturando cenas com muita luz e outras que possuem uma atmosfera densa e sombria. Isso fica muito claro na sequência onde Jacob (Dan Fogler) passeia por dentro da maleta de Scamander e anda por florestas bem iluminadas, encontrando criaturas com muitas cores, até achar o Obscurus, uma besta das trevas que se assemelha com o monstro de fumaça de Lost.

O roteiro de Rowling também proporciona alguns "choques de realidade" em momentos de deslumbre. Em um segundo estamos maravilhados com aquela nova face do Mundo Bruxo e no outro vemos os personagens tendo de lidar com situações que evocam os piores preconceitos e discursos de ódio do nosso mundo real.

Aliás, o tom político que é evidente na saga Potter, também se faz presente no longa. O interessante é que a trama preferiu não explorar a jornada de Grindelwald em busca de uma raça pura: decidiu seguir pelo caminho inverso, mostrando o preconceito dos no-maj (a denominação americana para "trouxas") contra a comunidade bruxa. O preconceito se torna parte essencial do arco de Graves (Colin Farrell) e Credence (Ezra Miller), personagens que fundamentam o que veremos daqui para frente.

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O elenco também faz um ótimo trabalho. Redmayne constrói Newt de uma forma cômica e ao mesmo tempo levemente melancólica, o que é explicado por alguns de seus erros passados. Farrell consegue dar a Graves um ar misterioso e pesado (o que é potencializado por algumas escolhas de posicionamento de câmera que fazem ele parecer maior do que é). Miller se apresenta como uma figura esquisita que transmite boa parte de seus sentimentos apenas com expressões corporais. Já Johnny Depp aparece brevemente como Grindelwald, porém (e infelizmente), já é possível prever que o ator vai empregar mais uma vez seus maneirismos de sempre e construirá o personagem como uma versão do mal e com poderes de Jack Sparrow.

Apesar de muitos méritos, nem tudo é perfeito. O filme escorrega em seu ato final, quando mostra diversas cenas que poderiam encerrar o longa mas que servem apenas de gancho para puxar outra cena. O desfecho verdadeiro acaba sendo anticlimático. Sabe O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei com suas várias "cenas finais"? Então. Mais ou menos isso.

Experiência emocional

O longa também faz algumas referências à saga que já conhecemos. Rowling soube usá-las na medida certa: fazem sentido dentro da narrativa e servem também como um serviço aos fãs.

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Animais Fantásticos e Onde Habitam pode ser definido como uma experiência que se encaixa de forma coesa no universo criado por Rowling e também abre muitas portas, com potencial de cativar uma nova geração de fãs que estão descobrindo a magia agora.

Newt diz em um momento do filme:

Todos mudam. Eu mudei.

Voltar ao Mundo Bruxo, cinco anos depois do último filme da saga de Harry Potter ter sido lançado, depois de ter lido e relido os livros, é perceber que eu mudei, as pessoas ao meu redor mudaram, o mundo mudou e as situações são outras.

É também saber que todas as experiências que vivemos ao lado do bruxo com a cicatriz na testa já se foram para sempre, mas estarão lá no coração. De vez em quando, podemos voltar à elas e dar um alô, mas seguindo em frente. Talvez esse seja o grande mérito das boas fantasias: nos ensinar sobre a vida usando mágica, seja você uma criança em 2001 ao lado da mãe, ou um jornalista na cabine de imprensa.

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