O filme Amigos Imaginários é a mais nova obra a respeito desses seres mágicos inventados por crianças. Esse tipo de história não é nada nova, mas o projeto chamou a atenção por similaridades muito específicas com A Mansão Foster Para Amigos Imaginários, um dos mais adorados desenhos animados dos anos 2000. Mas será que as comparações fazem sentido ou param na premissa?
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Amigos Imaginários conta a história de Bea (Cailey Fleming), uma jovem que passa a ver as criaturas que dão nome ao filme, apelidadas de Migs. Tristes por terem perdido contato com as crianças que os criaram, eles entram em uma jornada para encontrar outros pequenos para continuar existindo.
Já A Mansão Foster Para Amigos Imaginários conta a história de Mac, que precisa se livrar do amigo imaginário Bloo quando a mãe considera que ele está grande demais para esse tipo de coisa. Por sorte, eles encontram a mansão do título, que abriga tais criaturas e as coloca para adoção de novas crianças.
Não bastasse as similaridades óbvias das premissas, elas aumentam conforme o filme aprofunda a própria mitologia. Para falar nisso, será preciso entrar em zona de spoilers, então prossiga a leitura com cuidado.
[A partir daqui, spoilers de Amigos Imaginários]
As semelhanças entre Amigos Imaginários e Mansão Foster
As similaridades chamam a atenção logo de cara. Para começar, um dos Amigos Imaginários principais do filme se chama “Blue” (Azul, em tradução livre), quase xará de “Bloo”, a dupla de Mac em Mansão Foster.
Além disso, os Migs moram em um parque de diversões abandonado, em que fazem atividades e apoiam uns aos outros enquanto aguardam pelo encontro com a nova criança. Não é nenhuma mansão, mas a função é praticamente a mesma do cenário principal da animação do Cartoon Network.
Outro ponto de encontro é o fato de os amigos imaginários das duas versões serem reflexo das personalidades, medos e desejos das crianças que os criaram. Assim como a avó de Bea, vivida por Fiona Shaw, imaginava uma amiga parecida com os desenhos animados da década de 1930, todos os moradores da Mansão Foster refletem seus criadores, nascendo de crianças que sofriam bullying ou amavam basquete.

Vendo por esse lado, pode parecer que o filme realmente se inspirou muito em Mansão Foster, mas também há grandes diferenças entre as produções. Vamos a elas.
As diferenças entre Mansão Foster e Amigos Imaginários
Para falar a verdade, as diferenças começam até mesmo em pontos que parecem semelhantes. O Mig citado acima se chamar “Blue” é, na verdade, reflexo da criança que o imaginou ser daltônica e o enxergar na cor azul, diferente do Bloo, que tem esse nome e formato por causa de uma coberta azul que Mac gostava quando pequeno.
Além disso, o local em que os Migs habitam pode ser moldado de acordo com a imaginação de uma criança – como mostrado com Bea. Já a Mansão Foster é uma construção real, como qualquer casa ou prédio existente naquele mundo.
Acontece que uma das maiores diferenças entre as duas está em como as criaturas existem e se relacionam com seres humanos. Em Mansão Foster, os amigos imaginários são visíveis por todos e interagem com o mundo ao redor, não só com as crianças que os inventaram. Diferente do filme, em que apenas Bea e as crianças que se conectam com os Migs são capazes de vê-los e interagir com eles – visto que o pequeno Benjamin (Alan Kim) não conseguiu enxergar nenhum.
Outra diferença está em um ponto que é chave para a temática de Amigos Imaginários. Nesse mundo, as crianças esquecem seus Migs ao ponto de parar de vê-los, algo que não acontece no desenho animado. Lá, as criaturas não só continuam visíveis, como seguem interagindo mesmo quando adultos – até porque a própria Mansão Foster organiza reuniões entre os seres e seus criadores a cada cinco anos.
Essa diferença nos ajuda a chegar no ponto fundamental que divide os dois projetos. Amigos Imaginários foi produzido após a pandemia de coronavírus, cujas medidas sanitárias impediram crianças de brincar pessoalmente e dividir esse mundo de imaginação. O próprio John Krasinski, roteirista e diretor, disse ao Mama’s Geeky que a grande inspiração para o filme foi ver as próprias filhas deixando as brincadeiras imaginativas, onde podiam ser elas mesmas, de lado neste período:
“Crescer é isso, o momento em que você acha que precisa tomar a decisão sobre crescer e deixar a infância para trás. E eu disse para Emily [Blunt, esposa]: ‘é isso, vou fazer um filme sobre como você nunca precisa fazer essa escolha. Que todos crescemos, mas sabendo que aquele mundo mágico que criamos na infância sempre existirá e sempre podemos voltar.’”
Essa inspiração ajuda a entender o esforço do longa em levar essa mensagem também aos mais velhos. Afinal de contas, além de incentivar os pequenos a sonhar e imaginar, ele também aborda como as “coisas de criança” podem ajudar adultos em seus momentos de dificuldade. Um propósito bem diferente da animação.

Criador desse desenho – e de outros clássicos, como As Meninas Superpoderosas –, Craig McCraken disse ao The New York Times que a ideia principal por trás dos episódios era “criar uma história simples e deixar os personagens vivê-la. Gostaria de ver os momentos mundanos nas vidas deles, tipo ‘o que acontece se você levar seus amigos imaginários ao shopping?’’.
Ou seja, a missão da animação foi materializar todas as brincadeiras e aventuras que um garoto pode viver com amigos imaginários. Em comparação, é como se o cotidiano de Mac e companhia fosse esse momento mágico e puro que Amigos Imaginários busca resgatar tanto com os adultos quanto com a própria Bea, que já havia esquecido o próprio Mig na altura em que a história se passa.

Essas produções deixam claro como um tema tão amplo pode render histórias com os mais diferentes objetivos e abordagens. Até porque esse texto nem citou outras produções, como o recente terror Imaginário (2024), a comédia sombria Um Sonho Chamado Fred (1991), além de séries, quadrinhos e muitos, muitos outros. No fim das contas, eles só provam que o mundo da imaginação é tão vasto que encontra diferentes formas de chegar – e encantar – o nosso.
O filme Amigos Imaginários está em cartaz nos cinemas do Brasil. Já a animação Mansão Foster para Amigos Imaginários está disponível para streaming no Max.
Fonte: The New York Times e Mama’s Geeky.