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Alien: Romulus é um satisfatório retorno ao terror claustrofóbico | Crítica
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Alien: Romulus é um satisfatório retorno ao terror claustrofóbico | Crítica

Bons personagens e roteiro bem amarrado são os trunfos do diretor Fede Álvarez

Daniel John Furuno
Daniel John Furuno
15.ago.24 às 11h33
Atualizado há 8 meses
Alien: Romulus é um satisfatório retorno ao terror claustrofóbico | Crítica
20th Century Studios/Reprodução

Tal qual os embriões de xenomorfo fazem com seus hospedeiros, cada filme da franquia Alien parece absorver certas características de seus diretores. Alien - O 8º Passageiro (1979) se beneficia da predileção de Ridley Scott por narrativas cadenciadas. Aliens: O Resgate (1986) ganha com o talento de James Cameron na construção de cenas de ação. Alien 3 (1992) sofre com a inexperiência do então estreante David Fincher, vítima de interferências do estúdio. E Alien: A Ressurreição (1997) causa estranheza pelos toques cômicos e surreais de Jean-Pierre Jeunet.

Depois do fracasso dessas duas últimas iterações, o anúncio da volta de Scott à série foi recebido como indicativo de que tudo entraria nos trilhos. Todavia, o que o cineasta inglês trouxe daquela vez foi o apreço pelos épicos, imprimindo uma grandiosidade em termos de escala, temática e pretensão que acabou mal resolvida em Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017).

Eis que agora Alien: Romulus dá um passo para trás e retorna às suas raízes apavorantes, mimetizando traços de Fede Álvarez. O diretor, afinal, já havia se mostrado hábil e versado em terror no remake de A Morte do Demônio (2013) e no tenso O Homem nas Trevas (2016)

Aqui, além de promover o regresso ao gênero cinematográfico original, o uruguaio escancara a reverência ao primeiro longa-metragem logo na abertura, na qual não apenas chama a atenção para o silêncio no vácuo espacial (algo que remete ao célebre slogan “no espaço, ninguém pode te ouvir gritar”), como cria uma conexão direta com os eventos de Alien - O 8º Passageiro. E na melhor tradição da franquia, Álvarez introduz uma heroína. Responsável pelo roteiro, em parceria com o compatriota e frequente colaborador Rodo Sayagues, o cineasta estrategicamente usa boa parte do primeiro ato para estabelecer sua protagonista.

Rain (a excelente Cailee Spaeny) é apresentada como uma órfã resiliente e engenhosa, que vive em um colônia de mineração da infame corporação Weyland-Yutani. Ao lado do androide Andy (David Jonsson), com quem nutre uma tocante relação fraternal, a jovem acaba se juntando a um grupo que pretende pilhar os destroços de uma estação espacial na órbita do planeta.

Aliás, uma das virtudes do roteiro é sua capacidade de extrair o melhor dos personagens. No que se refere aos coadjuvantes, mais rasos por natureza, os arquétipos são bem explorados — o líder Tyler (Archie Renaux), o babaca Bjorn (Spike Fearn), a durona Navarro (Aileen Wu), a maternal Kay (Isabela Merced) —, sendo em alguns casos confirmados e em outros, subvertidos.

Também são pontos fortes a estrutura envolvente, que consegue concatenar de modo competente a sequência de eventos que propõe, e a naturalidade com que alguns elementos importantes são antecipados. Por exemplo, os defeitos operacionais de Andy e o dispositivo de segurança que religa a gravidade dentro da estação espacial por alguns segundos podem, à primeira vista, parecer informações à toa. Porém, mais tarde revelam sua função narrativa, oferecendo ao espectador aquela sensação de recompensa e reforçando a percepção de história bem amarrada.

Por falar em antecipação, em Alien: Romulus o diretor Álvarez reafirma seu talento para o terror, especialmente quando brinca com uma espécie de jogo, em que estabelece regras que os personagens devem seguir e, a partir daí, desenvolve suspense — exemplo claro disso é a sequência em que Rain e Tyler precisam passar por uma sala infestada de facehuggers. Nessa e em outras passagens, o longa usa ainda a ambientação escura e claustrofóbica para amplificar a tensão, mais uma referência ao filme original.

No entanto, algumas ligações com outros capítulos da franquia são, no mínimo, controversas (elas não serão detalhadas aqui para evitar spoilers). Podem ser consideradas forçadas ou apelativas e ter seu visual questionado, uma vez que se apoiam em efeitos digitais e preferências estéticas. Porém, do ponto de vista do enredo, fazem sentido para o caminho narrativo escolhido pelo cineasta.

É preciso lembrar que, ainda que cada filme absorva características de seu diretor, não existe DNA puro na série. Até mesmo o longa original tem ancestralidade múltipla: é fruto tanto da direção de Ridley Scott quanto do roteiro de Dan O'Bannon (que assumidamente bebeu em fontes diversas do terror e da ficção científica) e do design perturbador de H. R. Giger. Alien é esse acúmulo de heranças, sejam qualidades ou defeitos — tal qual o xenomorfo, é sempre uma criatura híbrida.

Alien: Romulus está em cartaz nos cinemas do Brasil. Os filmes anteriores da saga, incluindo os crossovers Alien vs. Predador, estão disponíveis para streaming no Disney+.

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