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Beetlejuice 2 é um divertido e estranho mergulho no mundo de Tim Burton | Crítica
Críticas

Beetlejuice 2 é um divertido e estranho mergulho no mundo de Tim Burton | Crítica

Sequência dribla desconfiança com retorno ao puro (besouro) suco do cineasta

Pedro Siqueira
Pedro Siqueira
03.set.24 às 17h53
Atualizado há 11 meses
Beetlejuice 2 é um divertido e estranho mergulho no mundo de Tim Burton | Crítica
(Warner/Divulgação)

Nas entrevistas de lançamento de Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice, o diretor Tim Burton buscou afastar o pé atrás com a produção ao afirmar que, além do polpudo pé de meia, o novo filme era um dos projetos mais pessoais de toda a carreira (leia aqui). A afirmação ousada se justifica ao longo das quase duas horas de projeção, com um longa que, sem dever nada aos grandes clássicos do cineasta, é a amostra perfeita de tudo o que faz o mais puro (besouro) suco do espírito Burtonesco.

Situada décadas depois do Os Fantasmas Se Divertem (1988) original, a trama traz Lydia e Delia Deetz (Winona Ryder e Catherine O’Hara, respectivamente) de volta à pequena Winter River, após uma tragédia familiar. Tocando a vida como uma grande estrela da TV, graças aos poderes mediúnicos, Lydia se divide entre a relação conturbada com a filha, Astrid (Jenna Ortega), e o retorno de fantasmas literais do passado, incluindo o zombeteiro Betelgeuse (Michael Keaton).

Continuações tardias, por si só, já são um jogo de sorte. Afinal, como equilibrar o apelo entre satisfazer os fãs antigos, e ainda despertar o interesse de toda uma nova geração? Nesse sentido, é um alento que a mão firme e a identidade inconfundível de Tim Burton sejam as muletas que sustentam a nova produção.

Estão lá os efeitos especiais divertidamente toscos, os cenários, maquiagens e paisagens surrealisticamente lisérgicas, e o humor mórbido que botaram o cineasta no primeiro escalão de Hollywood ao longo das décadas de 1980 e 1990.

Neste âmbito, o design de produção, figurinos e mais colocam em tela um clima cartunesco e lúdico que, sem a menor preocupação em soar “bem feito” ou “moderno”, ganha o charme que diferencia a produção de seus pares.

Cena de Beetlejuice 2 Tragédia familiar leva as Deetz de volta a Winter River. (Warner/Divulgação)

Sem concessões a modismos ou fan services gratuitos, é como se Os Fantasmas Ainda Se Divertem fosse uma grande celebração à obra original, acertando mais na revitalização bem-sucedida de projetos como Mad Max: Estrada da Fúria (2015), do que em simulacros vazios de glórias passadas (estou olhando para você, Star Wars: O Despertar da Força).

O estranho mundo de Burton, claro, é povoado por criaturas tão particulares quanto. Solto no papel, Michael Keaton injeta vida em Betelgeuse sem deixar que os 72 anos de idade no mundo real interfiram em um pingo sequer da comédia corporal, correndo, pulando, dançando e até cantando.

É curioso que o astro tenha emendado os retornos aos dois papéis que o consagraram na telona, em exemplos mais contrastantes que o paletó listrado do Besouro Suco.

Enquanto The Flash (2023) apelou para um Batman que, ainda que imponente, se amparou no passado ao ponto de repetir, à risca, até falas icônicas, sem uma fração do impacto original, o novo Betelgeuse consegue brilhar de forma tão desvairada e anárquica quanto sua contraparte de 1988.

Tão magnética quanto décadas atrás, Winona Ryder abrilhanta a história com uma Lydia mais madura, deixando bastante claro quem é a verdadeira dona da história. Um desafio assumido certeiramente pela atriz, que exprime a passagem do tempo para a ex-adolescente gótica, que agora é uma mãe às voltas com a própria vida sem rumo, num arco, por vezes, até emocionante.

Ryder encontra uma excelente parceira de cena em Jenna Ortega. A estrela de Wandinha (2022) certamente tem papel importante em trazer o público jovem ao filme, mas, além das sequências que são um prato cheio na mão dos editores de TikTok, a jovem atriz prova que está longe de ser a atração de um truque só.

Isso porque, embora o papel clichê caia como uma luva para Ortega, a Astrid concebida para o filme passa longe da garota-enxaqueca problemática e trevosa, permitindo que a intérprete flexione mais os músculos de atuação, numa trama própria que, embora esteja aquém do núcleo clássico, cumpre sua função, em grande parte, pela competência dramática da atriz.

Cena de Michael Keaton em novo Beetlejuice Michael Keaton volta a papel que o consagrou, após 36 anos. (Warner/Divulgação)

Pelo caminho, há ainda espaço para coadjuvantes como Willem Dafoe, como um divertido fantasma detetive, Justin Theroux, como o namorado boa-pinta de Lydia, e Monica Bellucci, como uma noiva cadáver em busca de vingança de Betelgeuse.

Se todos os astros dão o melhor de si nos espaços que lhes cabem, a abundância de núcleos é a casca de banana que quase faz o roteiro da dupla Alfred Gough e Miles Millar (Wandinha, Smallville) derrapar.

De cara, o filme apresenta diferentes situações que, ao longo da projeção, pouco parecem fazer sentido dentro do retrato maior do filme, por vezes tornando-se esquecíveis até que o texto exija que alguns elementos sejam, convenientemente, importantes à narrativa.

Por sorte, o deslize é superado com uma construção concisa que, apesar dos pesares, consegue amarrar tudo de uma forma satisfatória, e até permite uma inesperada (e muito bem-vinda) experimentação com uma seriedade quase perturbadora.

Honrando o passado para construir o presente, Beetlejuice Beetlejuice é uma sólida continuação de legado, com a dose exata de nostalgia para quem cresceu com as loucuras do espírito zombeteiro, mas sabendo adaptar-se aos tempos nas próprias regras. É providencial, então, que o longa tenha reacendido a paixão de Tim Burton pelo cinema, para que o público, afinal, continue se divertindo.


Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice chega aos cinemas brasileiros em 5 de setembro. O primeiro filme está no catálogo da Max.

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