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Assim como a HQ em que se baseia, a série de The Boys veio ao mundo com a missão de satirizar o popular universo de super-heróis. Ao longo de duas temporadas, a produção do Amazon Prime Video conquistou o público ao provar que sabe contar uma história anárquica recheada de sangue e humor ácido sem esquecer o drama com pitadas de comentário social.
Com esse espírito, a produção chega a seu terceiro ano com um prestígio que também deixa um desafio: como superar o que veio antes? A resposta encontrada pelos três episódios iniciais da terceira temporada foi promover uma verdadeira montanha-russa de emoções e revelações banhada a muito sangue e sexo.
[A partir daqui, spoilers dos três primeiros episódios da terceira temporada de The Boys]
Um ano após a descoberta da verdade sobre a Tempesta (Aya Cash) e sua chocante derrota, muita coisa mudou tanto do lado dos super-heróis, quanto dos que os caçam. Hughie Campbell (Jack Quaid), por exemplo, agora trabalha para o Departamento Federal de Assuntos Super-humanos, em uma tentativa de caçar a Vought dentro da lei.
Curiosamente, um dos braços da organização é justamente o grupo formado por Billy Bruto (Karl Urban), Francês (Tomer Capon) e Kimiko (Karen Fukuhara). Agentes do governo, agora eles se infiltram entre os supers para conseguir provas para que a agência os denuncie perante a lei. A única ausência entre eles é o Leitinho da Mamãe (Laz Alonso), que deixou a vida de caçar supers para trás.
Hughie Campbell e o Departamento Federal de Assuntos Super-humanosDo outro lado da linha, a Vought e os Sete entram em uma nova fase. Após a exposição negativa causada pela revelação da droga Composto V e da verdade sobre a Tempesta, agora a empresa busca se reestruturar publicamente. Capitão Pátria (Antony Starr) dá entrevistas se desculpando por ter sido “enganado” pela nazista, Luz-Estrela (Erin Moriarty) é promovida a cocapitã e Os Sete ganham um filme e um reality show para escolher seus novos membros.
Luz-Estrela e Capitão Pátria dividindo a liderança dos SeteÉ claro que nenhuma dessas mudanças tem base sólida, então não demora para que elas caiam ou ganhem contornos sinistros. Hughie descobre que a chefe Victoria Neuman (Claudia Doumit) é, na verdade, a super responsável por explodir cabeças e proteger os segredos da Vought. Isso o leva a procurar Billy Bruto para fazer justiça com as próprias mãos, algo que o próprio já havia decidido fazer para poder proteger Ryan (Cameron Crovetti) de cair nas garras do Capitão Pátria.
Por falar nele, o herói consegue reverter o jogo ao surtar publicamente em um discurso revoltado sobre como está cansado de ser controlado por ricos e poderosos quando é maior e mais forte. Ao invés de um "sincericídio", o discurso populista fala com parte do público e leva sua popularidade ao nível mais alto, dando a ele o poder da mídia para voltar a liderar Os Sete e a Vought.
Ao fim de três episódios, fica claro que é nessa rápida sequência de reviravoltas e mudanças de status quo que a terceira temporada se escora para superar as anteriores. É admirável como a produção começa com o pé na porta com um ritmo acelerado e revelações chocantes sem perder o fio da meada, já que os desdobramentos desses capítulos iniciais poderiam facilmente preencher mais do que metade da temporada.
Especialmente porque The Boys mantém intacta a prática de dar às tramas paralelas de seus personagens a mesma atenção dedicada aos grandes pontos de virada. A jornada do Trem-Bala (Jessie Usher) em tentar encontrar um propósito, o ódio de Kimiko e Ryan pelos próprios poderes e até o retorno dos traumas familiares do Leitinho da Mamãe ganham tanto destaque quanto o surto do Capitão Pátria ou o fato de que agora Billy Bruto usa Composto V para caçar supers.
Billy Bruto e Capitão Pátria combinam de lutar até que reste apenas umE a série faz tudo isso sem perder a propensão a ridicularizar o universo dos super-heróis da forma mais ácida e sangrenta possível. Seja distorcendo momentos famosos de HQs da DC ou da Marvel, ou até mesmo fazendo piada com o Snyder Cut de Liga da Justiça, é fato que a série não perdeu o apetite por rir do ambiente que a cerca.
A sombra de Soldier Boy
Um dos grandes destaques da terceira temporada é a chegada de Soldier Boy, o suposto herói da Segunda Guerra Mundial interpretado por Jensen Ackles (Supernatural). Ao invés de fazer como a Tempesta e trazê-lo logo de cara para a história, o roteiro está cozinhando a aparição do personagem para valorizar sua chegada.
Jensen Ackles como Soldier Boy em The BoysNesses três primeiros episódios, Ackles só apareceu em fotos, filmagens antigas e flashbacks, mas já deu para ter uma noção do que está por vir em sua participação. Ele é incorporado à trama como uma esperança quando a Rainha Maeve (Dominique McElligott) conta a Bruto que ele foi morto por uma arma que, em tese, seria capaz de matar o Capitão Pátria.
Essa é a brecha tanto para explicar o grande canalha que ele foi no passado – ao causar mal aos companheiros de equipe, ao exército dos EUA e ao Leitinho da Mamãe –, quanto para deixar a promessa de que sua chegada colocará ainda mais fogo nesse caldeirão em ebulição.
Eita bicho, sexo!
Outro chamariz para essa temporada é o tão falado Herogasm, a orgia de super-heróis que acontece nas HQs e finalmente dará as caras na série. Não é segredo que o tal evento será mostrado apenas no sexto episódio, mas é nítido como o início da temporada já dá o tom do que está por vir.
Apenas no primeiro episódio são mostradas quatro relações sexuais, que representam bem o núcleo em que se encaixam. Se de um lado há o amor idealizado entre os mocinhos Hughie e Luz-Estrela, do outro há a luxúria egoísta do Capitão Pátria que busca consolo na Tempesta.
Há também a instantaneamente memorável cena em que um super com poderes de encolhimento entra na uretra do parceiro e o explode por dentro ao espirrar. Um gentil lembrete de que estamos assistindo a The Boys, uma série que pode colocar em tela tripas expostas e um pênis gigante apenas para garantir umas risadas da forma mais absurda possível.
Resta saber se o resto da temporada conseguirá manter o ritmo frenético estabelecido pelos três episódios iniciais. Tendo em vista o crédito conquistado pelas duas primeiras temporadas e a promessa de que ainda há muita água, sangue e fluidos corporais para passar por essa ponte, resta a expectativa para que a semana passe mais rápido.
A terceira temporada The Boys ganha novos episódios às sextas-feiras no Amazon Prime Video.
Junno Sena
Yuri Suetsugu)
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