O mês de abril de 2019 entrou para a história da cultura pop com os lançamentos da última temporada de Game of Thrones e do filme que encerra parte do Universo Cinematográfico da Marvel, Vingadores: Ultimato (ainda falta o restinho da fase 3 e as outras fases que estão por vir).
E Ultimato quebrou recordes, entregando um ótimo desfecho. Além disso, o lançamento foi marcado por uma incrível guerra contra os spoilers. A Disney não poupou esforços com a campanha #DontSpoiltheEndGame, envolvendo o elenco e os diretores. Os fãs compraram a briga, alguns até de forma literal, como esse grupo em Hong Kong que espancou um sujeito que deu spoilers na fila do cinema.
No Brasil, o filme estreou oficialmente no dia 25 de abril, mas só agora a guerra contra os spoilers começa a esfriar — os Irmãos Russo até estabeleceram uma data para o fim da caça aos spoilers — embora o bom senso ainda se mantenha.
E aqui vale um parêntese: "guerra contra spoiler" também é uma boa estratégia de marketing, já que gera um senso de urgência absurdo que faz o consumidor correr para assistir ao filme o quanto antes.
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Game of Thrones retornou no dia 13 de abril, mas apesar de levantar a discussão sobre spoilers, como sempre acontece em "época de GoT", não gerou o mesmo alvoroço que Vingadores: Ultimato. Isso não quer dizer que a estreia da última temporada não foi um evento gigantesco: foi assistida por mais de 17 milhões de espectadores nos EUA, quebrando o recorde da própria série.
De certa forma, já aceitamos os spoilers e comentários em tempo real sobre Game of Thrones?
A principal diferença entre GoT e Vingadores: Ultimato é que são mídias diferentes e, dessa forma, são consumidas de formas diferentes. E também não estamos falando de uma série qualquer: Game of Thrones é um fenômeno e cada episódio se tornou um evento, assim como um jogo de futebol, o Oscar, ou a final de um programa de TV ao vivo. As pessoas se reúnem para assistir aos episódios em bares, na casa de amigos... E o celular é usado como segunda tela durante a exibição, depois para postar fotos e vídeos do eventos, etc.
Assistir e comentar em tempo real, interagir com amigos e seguidores é também parte da experiência. Por essa razão, com a urgência de comentar, falar, opinar o quanto antes, revelar algumas coisas da trama se tornou meio que "aceitável". O comportamento geral durante a oitava temporada de Game of Thrones é: "Se você não viu, problema é seu. Eu quero é comentar!". E, de alguma maneira, isso se tornou o normal. Dois anos atrás, durante a sétima temporada, o comportamento era outro, muito mais parecido com o que aconteceu com Ultimato.
Algumas pessoas comentam com avisos de spoilers, outras usam a hashtag da série para identificar o conteúdo da publicação — porque aí, quem não quer ler sobre o assunto consegue silenciar ou saber o que ignorar enquanto passa olhos pela timeline. Vale tudo para não deixar de falar sobre o evento da noite.
Para eventos do porte de Game of Thrones (goste ou não da série, a magnitude da adaptação é indiscutível), criar teorias, discordar de quem gostou ou não gostou, comemorar (seja um gol, o prêmio para o ator que você gostava ou a morte de um personagem), opinar — acima de tudo, opinar — é quase que obrigatório.
Game of Thrones se passa em uma época privilegiada para os fãs de ficção e fantasia, mas também durante um momento no qual só se fala em produzir — e opinar é considerado produção. Assim que saem do cinema, algumas pessoas correm para as redes: hora de comentar e dar a nota para o filme! Assim que o episódio de GoT acaba (ou mesmo durante o tal episódio), a hashtag da série entra nos Trending Topics no Twitter. E com as postagens chegam as respostas, os comentários, e as respostas às respostas... A experiência não acaba ao final da exibição — ninguém quer que acabe. Então, como cobrar segredo quando comentar é parte da experiência?