A quinta edição de Dungeons & Dragons foi lançada nos EUA em 2014. Desde então, o público brasileiro espera por uma edição traduzida e localizada no nosso idioma. Finalmente, na última terça-feira (21), a Fire on Board anunciou que irá publicar o RPG mais famoso do mundo por aqui. Mas, por trás da novidade, está um longo e conturbado processo que envolveu outras empresas, pessoas e meses de trabalho.
No dia do anúncio da Fire on Board, Antonio Pop, da Redbox, publicou em seu Facebook um pouco da jornada para a publicação de D&D por aqui. No texto, ele explica que, em 2016, uma joint venture (contrato entre empresas independentes para um negócio específico) entre a própria Redbox, a Meeple BR e a Fire on Board foi formada — portanto, o que foi anunciado pela FoB, teria sido o resultado do esforço conjunto entre as três instituições.
Ainda segundo Antonio, em fevereiro deste ano, a Fire on Board decidiu abandonar o projeto — mas o que acabou acontecendo foi que a empresa tomou para si os direitos de publicação:
A Meeple BR também endossou o discurso da Redbox nas redes sociais:
O CEO da Fire on Board, João Barcelos, negou as acusações também usando o Facebook. Disse que sua empresa esteve em contato com a Gale Force Nine (empresa que cuida dos licenciamentos internacionais) desde o começo, que nenhuma parceria oficial com outras editoras foi firmada e que nenhuma negociação direta com a Wizards of the Coast/Hasbro de fato aconteceu:
O Jovem Nerd News teve acesso a mensagens e emails enviados por Barcelos aos membros da Redbox e neles o CEO sempre se refere ao projeto como "nosso produto", "nossos planos", "nosso lado" e "nossa joint". As mensagens também mencionam uma apresentação que seria mostrada a representantes da própria Wizards.
O email de dezembro de 2015 fala sobre a parceria com a Wizards of the Coast. Barcelos diz que os sócios podem começar a traçar a organização interna da joint venture após o firmamento da associação. A mensagem também diz que eles precisam articular uma apresentação e "deixar tudo certo para o dia" — mostrando que "a nossa Joint tem força".
Os endereços de email foram ocultados para respeitar a privacidade dos envolvidos:

Em outro email, de janeiro de 2016, Barcelos pede para que cada uma das empresas monte um documento de apresentação, expondo parceiros, produtos e que isso seria reunido posteriormente para ser apresentado para a Wizards, se prontificando para tal tarefa. Além disso, ele expõe a necessidade de uma reunião entre os sócios para definirem uma apresentação dos planos da joint venture para o licenciamento do RPG por aqui, dizendo que é uma "empresa bem complicada de se trabalhar" e que "mostrar logo que iremos ser a melhor escolha deles".

Uma mensagem de WhatsApp datada de outubro de 2016 traz Barcelos dizendo que "está tudo certo para o nosso lado" e garantindo que a Gale Force Nine irá assinar o contrato de licenciamento porque "todo mundo quer grana e o nosso planejamento tá muito bom" [sic].

Outros print screens publicados no blog de Fabiano Neme, um dos sócios e advogado da Redbox, mostram que Barcelos estava envolvido em todo o processo, tratando de assuntos da joint venture como contratos, capital social, outras burocracias e coordenando algumas traduções dos livros de Dungeons & Dragons — alguns dados estão ocultados para respeitar a privacidade dos envolvidos ou de terceiros. Essas conversas aconteceram entre novembro e dezembro de 2016:
Desdobramentos legais

Entramos em contato com Antonio Pop, da Redbox, que declarou que as movimentações para o lançamento de D&D no Brasil começaram em novembro de 2015 e que, desde o início, as empresas estiveram ligadas no intuito de formar uma joint venture para trazer o jogo para cá.
Desde o início, antes de descobrirmos que a GF9 estava sublicenciando o D&D para outros idiomas, sempre estivemos ligados no intuito de formar uma joint venture para negociar o D&D. O Contrato da joint venture não foi assinado pela FoB por que eles se recusaram a assinar alegando problemas pessoais, mesmo tendo tudo isso sido combinado, aprovado e concordado na nossa reunião de novembro de 2016.
Também falamos com a Meeple BR, outra editora envolvida, e o representante, Diego Bianchini, informou que Barcelos e a Fire on Board estavam encarregados de todo o trâmite internacional do licenciamento com a Gale Force Nine:
Todo o trâmite para joint venture passou pelas 3 empresas e mais o Fábio que foi a pessoa que iniciou o processo, quanto as informações temos conversas em email, apresentação conjunta da empresa (em uma primeira conversa com a Hasbro no Brasil), depois a nossa viagem até a Alemanha onde ficou definido que o João da Fire on Board seria o nosso representante para tratar com eles (no caso o Matthew da GF9) sobre a vinda do produto para o Brasil, temos também conversas em mensagem do Grupo onde todos tratamos da FMR (Fire Meeple Red) e de como seria o contrato entre as empresas.
Conversamos com João Barcelos, da Fire on Board, que reconheceu que chegou a conversar com as outras pessoas, mas declarou que nada chegou a ser formalizado de fato:
Não queremos nos adentrar em polêmicas, pois queremos ser concisos com a verdade. A Fire on Board Jogos sempre foi a empresa brasileira parceira da Gale Force Nine neste grande projeto de trazer o D&D para o Brasil. A parceria é (e foi) firmada entre Fire on Board Jogos e Gale Force Nine, apenas. Estamos trabalhando junto a ela desde o princípio. Dentro da Fire on Board, montamos uma equipe exclusiva para trabalhar com o D&D. Em certo momento, conversamos sim com algumas empresas brasileiras, mas optamos por não iniciar nada com as mesmas.
A Redbox e a Meeple BR informaram que estão se articulando para entrar com uma ação judicial contra a Fire on Board. A questão pode refletir no lançamento oficial de D&D no Brasil.