Usar câmeras de computador e celular para contar uma história não é algo completamente novo nos cinemas. Já tivemos o terrível Megan is Missing (2011), o tedioso Ratter (2015) e também Amizade Desfeita (2014), que quase conseguiu acertar a fórmula. Porém, só agora temos um longa que usa esse recurso de uma maneira eficiente, que não atrapalha o desenvolvimento da trama em nenhum momento. Pelo contrário, se torna essencial para os eventos do filme.
A história de Buscando... é simples: um pai procurando pistas sobre a filha desaparecida. Poderia ser só um episódio em uma série de investigação, entretanto, tudo se torna mais intrigante por conta da estrutura da narrativa. Você se sente parte do dia a dia da família e acompanha a passagem do tempo com as informações trazidas pela agenda do computador, com os resultados dos exames que chegam por email e as fotos e vídeo que mostram momentos importantes na vida de cada um deles.
Este é um filme que, por mais que seja totalmente fictício, soa extremamente verossímil, como se você estivesse conversando com um amigo no Skype ou Facetime enquanto ele conta sobre os próprios problemas. Você se sente cada vez mais próximo de David Kim, interpretado por John Cho (Star Trek, American Pie), toda vez que ele descobre algo novo sobre a filha e percebe, através dos rastros digitais deixados por ela em redes sociais, que talvez ele não a conheça tão bem assim.
Muito dessa verossimilhança se deve aos pequenos detalhes do roteiro de Aneesh Chaganty e Sev Ohanian que mostram que a internet do filme é exatamente igual à nossa: com mobilizações digitais, hashtags de apoio a uma causa, teorias conspiratórias malucas, falta de empatia de alguns indivíduos, pessoas dizendo inverdades unicamente para chamar atenção: tudo ecoando em um único lugar ao mesmo tempo. No meio de tantas vozes, o protagonista muitas vezes fica perdido, sem saber o que pode ou não ser útil em sua busca por respostas. É possível que, em relativamente pouco tempo, outras gerações já não se identifiquem tanto com a mensagem de Buscando... Mas, para o público atual, que acompanhou a internet nos últimos 10 anos, essa é exatamente a realidade.
Apesar de a história ser contada quase totalmente através de telas de computador e de celular — ou justamente por conta disso —, a trama não se torna monótona ou arrastada. O drama se torna quase pessoal para o espectador e você também começa a procurar qualquer pista que dê uma resposta definitiva. Graças à excelente combinação de direção, roteiro e da atuação de John Cho, você fica cada vez mais aflito com os eventos que vão se desenrolando e começa a torcer pelo melhor e se preparar para o pior, como se a garota desaparecida fizesse parte da sua própria família.
O que mais surpreende em Buscando... não é o desfecho já que, considerando que é tudo calcado na realidade, existem poucas soluções possíveis. A surpresa é como toda a jornada se prova um grande quebra-cabeça sem nenhuma peça sobrando ou faltando, tudo se encaixa de alguma maneira, e o mais interessante é que você se sente parte da história.