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2º ano de Sweet Tooth prova que maior nem sempre é melhor | Crítica
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2º ano de Sweet Tooth prova que maior nem sempre é melhor | Crítica

Série que adapta HQ da DC retorna com temporada grandiosa, mas desliza em ritmo e tom

Gabriel Avila
Gabriel Avila
27.abr.23 às 09h29
Atualizado há mais de 1 ano
2º ano de Sweet Tooth prova que maior nem sempre é melhor | Crítica
Sweet Tooth/Netflix/Divulgação

O sucesso de Sweet Tooth na Netflix pegou muita gente de surpresa. Mesmo tratando de um tema sensível como uma sociedade destruída por um vírus enquanto o mundo real passava pela pandemia, a produção que adapta a HQ de mesmo nome estreou no top 1 de vários países, o que lhe garantiu uma renovação quase instantânea. Dois anos depois, a segunda temporada chega com um gosto agridoce ao se perder justamente no momento em que decidiu aumentar o escopo.

Sequência direta do angustiante final do ano anterior, a nova etapa mostra Gus (Christian Convery) e Wendy (Naledi Murray) presos no zoológico sob a ameaça do maligno General Abbott (Neil Sandilands). Alvo de experimentos do Doutor Singh (Adeel Akhtar), a dupla luta para sobreviver ao lado de outros híbridos enquanto aguarda pela ajuda de Aimee (Dania Ramirez). Responsável pelas crianças, ela conta com a ajuda do “grandão” Jepperd (Nonso Anozie), que sobreviveu, ao contrário do que o pequeno Gus acredita.

Logo de cara, a segunda temporada de Sweet Tooth deixa claro que um de seus objetivos é a expansão. O novo ano amplia o universo da produção em praticamente todos os sentidos. Há mais personagens, novos locais a serem explorados e as ameaças não param de se multiplicar. Um passo natural, mas que é comprometido por uma combinação de deslizes.

O primeiro deles está na dificuldade em navegar entre os diferentes tons da história. A combinação de fábula e apocalipse só funcionou na primeira temporada porque a série teve foco na perspectiva inocente dos híbridos como Gus e Wendy. A forma como as crianças percebem os horrores ao seu redor deu a tônica da produção, um norte que os novos episódios perderam pelo caminho.

Ao trazer outras perspectivas, a produção falha em equilibrar os momentos leves e sombrios, que não se misturam de forma natural como anteriormente. Com isso, a sensação que predomina é a de que há duas séries diferentes brigando por espaço: o drama lúdico das crianças e o horror bélico dos adultos. As abordagens são tão diferentes que tornam a coisa toda contraditória.

Um paradoxo que se reflete no próprio elenco. Representantes do lado leve da produção, as crianças são o ponto alto de Sweet Tooth, ao não se contentarem com a fofura e o sofrimento. Todo o enredo dos híbridos é cativante ao ponto de que eles são capazes de tornar interessante qualquer núcleo que tenham contato.

O amadurecimento de Gus e Wendy é tão envolvente quanto encantador, fazendo jus tanto aos acontecimentos do passado, quanto por trazer novas responsabilidades como líderes do grupo capturado. Tais híbridos também adicionam um charme único à produção, que utiliza efeitos práticos muito bem executados para dar vida aos dons que a parte animal lhes confere – não será surpresa se Bobby se tornar uma febre entre o público como foi o Baby Yoda de The Mandalorian.

Se as crianças encantam como um todo, os adultos acertam em graus variados. Nesse quesito, quem se sai melhor são o Doutor Singh e a esposa Rani (Aliza Vellani), que encapsulam alguns dos grandes dilemas morais da produção, em um enredo que ganha complicações conforme a história avança. Algo parecido com a dinâmica entre Jepperd e Aimee, que demora para engatar, mas empolga e comove conforme evolui.

O problema da dupla está ligada a um outro defeito da produção: a forma como aborda a distopia. Nos novos episódios, o apocalipse passa de um obstáculo para uma estética, como se a realidade de um mundo pós-colapso não trouxesse muitas dificuldades – basta perceber as armas e veículos à disposição de mocinhos e vilões. Um retrocesso e tanto, considerando como a superação das adversidades foi um dos charmes da primeira temporada.

Porém, nenhum personagem saiu pior do que o General Abbott. Grande vilão da produção, ele é o principal prejudicado pela indecisão de tom de Sweet Tooth. Não bastasse o roteiro tratá-lo como um clichê ambulante, o próprio Neil Sandilands não sabe bem como lidar com a inconsistência e cada hora tenta uma abordagem. Do cruel ao caricato, é fato que o personagem nunca se faz valer por inteiro.

Infelizmente, os problemas da segunda temporada de Sweet Tooth não acabam na indefinição do tom. Outro grande culpado pela sensação de que os novos episódios marcam um retrocesso é o ritmo inconsistente.

Mesmo seguindo a lógica de maratonas que a Netflix impõe, o andamento da narrativa é fragmentado ao não respeitar os caminhos que a história está trilhando. O enredo parece ter feito o caminho contrário ao definir primeiro “quando” certos momentos devem acontecer e só depois se preocupar com o “como”.

Dessa forma, há a sensação constante de que a história está enrolando para chegar onde quer e que muitas ações foram inexplicavelmente guardadas para quando esses momentos chegarem. Isso anula qualquer sensação de urgência, já que a narrativa está constantemente nos dizendo que tudo vai ficar bem até que ela decida avançar e, aí sim, colocar os heróis em perigo.

Tudo isso para forçar momentos épicos, em que tudo se encaixa. O problema é que esse encaixe é frouxo e não é competente em disfarçar as forçadas de barra necessárias para chegar até ali. Uma questão que rouba boa parte das emoções que a produção busca gerar no público, criando uma grande apatia que só é quebrada vez ou outra.

E, talvez, essa seja a prova final de que a nova temporada de Sweet Tooth deixou a desejar. Retirar a emoção de uma história que conquistou justamente ao promovê-las é um pecado difícil demais de se ignorar. Porém, caso retorne para o terceiro ano, a produção tem personagens carismáticos o suficiente para reencontrar o caminho e tornar a jornada do menino-cervo e seus amigos cativante novamente, fazendo jus a todo o sucesso da história nos quadrinhos.

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