Contém spoilers de Sherlock!
Em uma época onde a maior parte dos filmes e séries são desenvolvidos para serem produtos de consumo imediato, assistir a uma obra memorável é algo raro. E Sherlock, série britânica da BBC, sabe como se aproveitar de um clássico e ao mesmo tempo criar uma identidade própria e tão forte quanto seu material de origem — com isso em mente, "The Final Problem", terceiro episódio da quarta temporada, consegue dar ao programa um novo ápice de forma genial.
A trama do capítulo gira em torno de Sherlock Holmes confrontando seu passado após a revelação do final de "The Lying Detective" e os roteiristas Steven Moffat e Mark Gatiss conseguem construir a narrativa de uma forma única enquanto o diretor Benjamin Caron usa formidavelmente os elementos da direção para levar a história adiante.
Talvez o elemento chave de "The Final Problem" seja a atmosfera. Tudo gira em torno de um clima de emoções, incertezas e insanidade — e Caron sabe trabalhar com tudo isso, principalmente na sequência de abertura, onde ele usa planos holandeses (quando a imagem fica inclinada) para demonstrar todo a instabilidade que Eurus causa no irmão Mycroft. Nas sequências de flashback, a montagem alternando entre o apartamento em Baker Street e as memórias de Sherlock funciona para o espectador ir assimilando tudo o que aconteceu no mesmo ritmo em que o detetive vai se lembrando de sua infância. A trilha sonora, que vai de uma sugestão de Bach a Iron Maiden passando por Queen no meio de tudo também contribui para a construção do clima geral do episódio.
Benedict Cumberbatch e Martin Freeman continuam brilhando como a dupla protagonista, porém, nesse capítulo, o destaque fica nas mãos de Sian Brooke e sua insana Eurus Holmes. A atriz consegue criar um olhar meio perdido e um tom de voz sereno para a vilã, mas ao mesmo tempo usa o resto de sua expressão facial para deixar claro que a psicopata pode surtar a qualquer momento e fazer o inimaginável. Como na maior parte do tempo vemos apenas o seu rosto através de uma tela, encarar os olhos da antagonista acaba se tornando angustiante e imediatamente nos sentimos na pele de suas vítimas.
Por fim, "The Final Problem" não deixa claro se teremos mais temporadas da série no futuro — porém, além de deixar a possibilidade aberta, faz questão de lembrar o público de forma emocionante que as histórias de Sherlock Holmes e do Dr. Watson vão se manter vivas no coração dos fãs do detetive ao redor do mundo e encerra seu quarto ano (e talvez sua jornada) se firmando como uma das melhores adaptações já feitas da obra de Sir Arthur Conan Doyle e deixando seu nome marcado na História da televisão.